Escolhendo as batalhas que podemos influenciar
Como toda a sociedade, inclusive as empresas, pode ajudar na jornada de diagnóstico e tratamento do câncer de mama
Diretora Executiva do Instituto Natura
Publicado em 29 de outubro de 2023 às 10h55.
Em 2018, o Instituto Avon comissionou a The Economist Intelligence a estimar o fardo econômico do câncer de mama no município de São Paulo. Além de ser a cidade mais populosa do país, São Paulo responde por 30% dos casos de tratamento de câncer de mama no país, arcando com uma fatura estimada, em 2018, de R$ 857 milhões, incluindo R$ 838 milhões (98%) atribuíveis a custos diretos (diagnóstico e tratamento das pacientes) e R$ 19,5 milhões (2%) em custos indiretos.
Isto é, perda de produtividade das mulheres em idade econômica ativa em que precisam se ausentar durante o tratamento. Na época, considerando o envelhecimento da população e múltiplos fatores de risco, o mesmo estudo apontava para um aumento gradual da conta, que ultrapassaria o patamar de R$ 1 bilhão após 2021.
Este cenário aponta para uma série de oportunidades que podem ser acessadas por meio de parcerias entre os setores público e privado. Neste tema, que mobiliza toda a sociedade no mês de outubro, tanto os efeitos humanos quanto econômicos são compartilhados, impactando famílias, serviços médicos, empresas e comunidades. Se o fardo é compartilhado, também são as oportunidades pois, quando se trata de câncer de mama, o tempo é o grande catalizador de soluções eficientes, bem-sucedidas e escaláveis.
Para que o tempo seja este poderoso aliado na cura do câncer de mama, o controle de fatores de risco deve ser constante, o diagnóstico deve ser precoce e o tratamento, ágil e assertivo.
Entre os fatores de risco, alguns não podem ser controlados. Outros, no entanto, não só são controláveis, mas também críticos na prevenção e controle de outras moléstias: o controle do peso corporal, principalmente após a menopausa, a adoção de hábitos saudáveis como a prática de exercícios físicos, a alimentação saudável, a recusa ao tabagismo.
Apoio e serviço
Embora as limitações de recursos do serviço público tenham o efeito de restringir o diagnóstico precoce, os esforços para promover uma maior conscientização entre as mulheres sobre os sinais e sintomas do câncer de mama podem ser aprimorados, num trabalho de letramento e conscientização que inclua, também, garantir que as mulheres estejam cientes de que são elegíveis para a rastreamento assintomático do câncer de mama, entre os 50 e 69, e que, em caso de suspeita, em qualquer idade, têm o direito ao esclarecimento do diagnóstico em não mais do que 30 dias.
Neste sentido, os grupos de defesa de interesses das pacientes podem ter um papel fundamental, tanto para dar ciência às mulheres de seus direitos legais, como dos meios para acessá-los, bem como acompanhá-las na navegação em um sistema de saúde fragmentado e complexo.
Estes grupos precisam de apoio para exercer suas funções e o investimento neste sentido pode ser menos custoso do que o fardo econômico indireto incorrido pelas empresas com a perda de produtividade das mulheres diagnosticadas tardiamente.
O diagnóstico e o tratamento não devem ser considerados como o fim do atendimento à mulher, pois a jornada de cura envolve o apoio não só de múltiplas disciplinas do conhecimento (oncologia, cirurgia oncológica, psicologia, nutrição, etc), mas também o comprometimento de uma verdadeira rede de apoio e afeto da qual todos nós podemos participar.
Compreender as demandas das mulheres, o contexto em que estão inseridas e, a partir deste conhecimento, agir com empatia pode ser a alavanca de uma cultura de confiança que previne perdas, atrai e fideliza talentos e salva vidas.
[1] Câncer de mama na Cidade de São Paulo, Brasil. Uma avaliação do impacto econômico e conhecimentos de benchmarks. The Economist Intelligence Unit, Healthcare.