Exame Logo

Escassez de água pode forçar migração de 32 milhões até 2050

Com investimento atual 13 vezes menor que o necessário, medidas da ONU avançam lentamente enquanto regiões já enfrentam êxodo por falta d'água

Estudo prevê que 32 milhões precisarão migrar até 2050; dos 700 compromissos assumidos pela ONU, apenas 67 saíram do papel. (John Stocker/Freepik)
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 10h30.

Última atualização em 26 de dezembro de 2024 às 10h37.

A emergência hídrica planetária, intensificada pelos desequilíbrios climáticos, poderá forçar a migração de aproximadamente 32 milhões de indivíduos até 2050, em busca de sobrevivência básica e acesso à água potável.

A constatacção é de estudo desenvolvido pela consultoria BCG em colaboração com o Centro para Inovação Social e Clima da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que apontou ainda que os impactos ambientais, manifestados através de secas prolongadas, inundações devastadoras e fenômenos meteorológicos extremos em diversos territórios, já provocam deslocamentos populacionais significativos.

Veja também

A pesquisa reforçou o alerta de como os padrões meteorológicos têm sido alterado pelo progressivo aquecimento global, intensificando assim a ocorrência de catástrofes naturais e comprometendo severamente a disponibilidade de recursos essenciais.

No contexto das próximas negociações da COP30, a discussão sobre estas questões deve ganhar especial relevância, considerando que a ONU estabeleceu 700 compromissos relacionados à gestão sustentável dos recursos hídricos, incluindo o abrangente programa WASH (água, saneamento e higiene).

Entretanto, a implementação destas iniciativas tem se mostrado lenta, com apenas 67 projetos efetivamente em andamento desde a Conferência das Nações Unidas sobre Água de 2023.

Investimentos insuficientes, compromissos atrasados

De acordo com o estudo, em 2022, 99% dos deslocamentos involuntários foram motivados pela escassez hídrica e suas ramificações, incluindo o comprometimento das safras e a deterioração progressiva das áreas de cultivo agrícola.

Umpanorama que se torna ainda mais crítico ao considerar que 10% das terras irrigadas dependem de fontes subterrâneas não renováveis, enquanto 1,8 bilhão de seres humanos utilizam latrinas rudimentares que contaminam reservas subterrâneas.

Para enfrentar esta crise iminente, estimativas da O NU apontam a necessidade de investimentos na ordem de US$ 114 bilhões até 2030, direcionados principalmente para infraestrutura de saneamento e distribuição de água potável. Contudo, dados de 2021 revelam um aporte de apenas US$ 8 bilhões, evidenciando um déficit crítico de US$ 106 bilhões nos recursos necessários.

O que evidencia que a mobilidade climática é consequência direta de uma complexa interação entre fatores econômicos, sociais e ambientais que, na ausência de medidas mitigadoras efetivas, tendem a se agravar com a contínua elevação das temperaturas globais.

América Latina e Sudeste Asiático mais vulneráveis

O levantamentos do BCG apontou também, as regiões da América Latina e Sudeste Asiático que apresentam vulnerabilidade acentuada a períodos de seca extrema, enquanto territórios da África, Austrália e Oriente Médio enfrentam riscos crescentes de alagamentos devastadores. A Europa Central encontra-se numa posição particularmente delicada, onde ambos os fenômenos apresentam probabilidade significativa de ocorrência.

Duas situações emblemáticas ilustram a problemática global: a crise na Somália e a situação crítica das nações insulares. Na Somália, os impactos causados sobretudo por ações humanas resultaram em consequências devastadoras para o clima. A persistência de períodos de estiagem provocou uma elevação de 55% nos preços dos alimentos básicos e um aumento de 61% na insegurança alimentar.

Em um cenário agravado pela intensificação dos conflitos étnicos e religiosos e a atuação de grupos extremistas que instrumentalizam o acesso à água, a infraestrutura vital foi comprometida por bloqueios dos cursos d'água e contaminação de fontes hídricas. Um contexto catastrófico, que culminou no deslocamento forçado de mais de 1,6 milhão de habitantes.

Em contraste, nos territórios insulares como Maldivas e Seychelles, as alterações climáticas impactam primordialmente o setor turístico, que representa aproximadamente 30% do PIB local. Estes arquipélagos, caracterizados por baixa altitude e extrema vulnerabilidade à elevação do nível dos oceanos, enfrentam desafios crescentes como inundações frequentes, redução progressiva da atratividade turística e consequente diminuição da receita econômica, fatores que comprometem sua viabilidade habitacional no longo prazo.

Acompanhe tudo sobre:ÁguaCrise da ÁguaESGClimaMudanças climáticas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de ESG

Mais na Exame