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Equidade entre homens e mulheres pode impulsionar o crescimento econômico

Dar às mulheres um lugar equânime na sociedade deveria ser visto como um investimento, e não uma ameaça

O enfrentamento da discriminação racial traz um componente ainda mais forte e pede um enfrentamento social onde encontramos a maior de todas as vulnerabilidades (Tim Robberts/Getty Images)

O enfrentamento da discriminação racial traz um componente ainda mais forte e pede um enfrentamento social onde encontramos a maior de todas as vulnerabilidades (Tim Robberts/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2022 às 07h00.

Última atualização em 18 de março de 2022 às 11h03.

Nós, mulheres, e nossas muitas nuances, tantas versões de nós mesmas, vestimos durante um único dia diversas “camisas”. Somos filhas, mães, organizamos nosso núcleo familiar, buscamos equilibrar o impossível nos dividindo entre carreira, família e relacionamento, muitas vezes trocamos horas de sono por um pouco mais de exercício ou para simplesmente cumprir com tudo e com todos e nos sentirmos em dia com as responsabilidades que assumimos a milênios.

A revolução feminista, o direito ao voto, a possibilidade de ter uma conta em banco, todas conquistas do último século, nos faz pensar na mudança de papel estrutural da mulher. A mesma mulher que hoje já pode se sentir independente -- quando falo independência a premissa principal é a independência financeira. Sem ela, mesmo com todas as liberdades, não somos livres.

Com essa possibilidade real de nos tornarmos independentes financeiramente, acabamos realmente assumindo grandes responsabilidades, muitas de nós como mães solteiras ou divorciadas, outras como parceiras nos casamentos, construindo de igual para igual o crescimento das nossas vidas e famílias.

Nunca estivemos tão presentes no mercado de trabalho, apesar de ainda existir um longo caminho a ser seguido quando falamos em igualdade de oportunidades e remuneração. Por outro lado, ainda estamos muito distantes de uma real educação financeira, e quando falo de educação financeira é importante não apenas um claro planejamento de gastos, de formas de investir, mas também que a mulher possa se planejar e proteger para enfrentar momentos de crise e vulnerabilidade.

Por outro lado, Melinda Gates relata em seu livro “Moment of Lift” (Momento de Voar, em tradução para o português) que o trabalho doméstico não remunerado feito por mulheres do mundo inteiro, se somado, seria a empresa com o maior faturamento do planeta. E todas essas mulheres estão dando para seus parceiros, seus filhos e suas famílias a força de uma estrutura familiar essencial, não apenas com a alavancagem do crescimento profissional de seus parceiros, mas também garantindo que exista uma solida base de apoio para toda a família.

A mulher assume a grande maioria das responsabilidades do lar e da educação dos filhos. Esse trabalho essencial não só não é remunerado, como tem sido absolutamente desconsiderado, levando muitas mulheres que dedicam suas vidas à família e aos filhos a situações de vulnerabilidade extrema, quando existe uma ruptura no casamento e elas passam a ser descartadas. Estudos mostram que mulheres divorciadas, em aproximadamente 90% dos casos, não têm recursos financeiros para contratar um advogado e conhecer seus direitos.

Além disso, é ainda muito recente a percepção e a conscientização dos diversos tipos de violências, muitas vezes veladas, que mulheres enfrentam, em especial a emocional. Essa violência pode vir na forma de abandono, quando do cancelamento financeiro ao fim de um casamento, mas também se apresenta na forma de uma insatisfação crônica insuflada na mulher, que faz com que ela nunca esteja à altura da vida que dá o seu melhor para construir a cada dia, ou na apropriação das ideias que muitas vezes são da mulher e passam imediatamente a ser do parceiro, ou chefe, ou colega, ou mesmo na interrupção da fala da mulher, outro tipo de imposição de força que apaga o brilho da mulher, que, ao se posicionar e tentar se fazer ouvir, acaba sendo rotulada de difícil.

O enfrentamento da discriminação racial traz um componente ainda mais forte e pede um enfrentamento social onde encontramos a maior de todas as vulnerabilidades e barreiras para crescimento e realização, não apenas pela dificuldade inerente a camadas sociais e suas travas culturais, mas também porque mulheres, que já têm de se provar duplamente para receber o devido reconhecimento, acabam ainda tendo de carregar a questão racial como mais uma barreira importante a ser vencida todos os dias.

Quando falamos da diferença entre igualdade e equidade, acredito fortemente na segunda, já que todos ganham com a valorização das diferenças e dos talentos, na complementaridade dos gêneros, na divisão de papeis de forma equilibrada para que o núcleo familiar possa encontrar um equilíbrio. A equidade, diferente da igualdade, não é uma batalha para nivelar todos a um mesmo patamar, não é um socialismo de gêneros, mas sim permitir que cada um possa encontrar seu espaço e trazer à tona seu total potencial.

A possibilidade de dar às mulheres um lugar de equidade não deveria ser visto como uma ameaça, mas sim como um investimento. Estudos da Bloomberg, e seu Índice de Igualdade de Gêneros, mostram que mulheres CEOs são capazes de aumentar em até 10% as performances das empresas que lideram. Mulheres de sucesso trazem um componente de força e crescimento para a sociedade como um todo. Quando mulheres prosperam na sociedade, a prosperidade é multiplicada, e considerando que as mulheres são responsáveis por 70% das decisões de gastos em um núcleo familiar, elas têm um papel importantíssimo na economia.

Quando pudermos ver uns aos outros com olhos mais livres de conceitos culturais herdados do passado, seremos maiores, mais fortes, mais felizes, mais prósperos, porque uma sociedade onde existem oportunidades reais para talentos e potências humanas é uma sociedade em franco crescimento. E só o crescimento pode criar prosperidade.

Na semana que comemoramos o importantíssimo Dia Internacional da Mulher, por um lado, vivemos momento de reflexão e de crescimento, onde pautas importantes vêm à tona; por outro, nos faz pensar que todos os dias deveriam ser o dia da mulher, das mães, filhas, esposas, amigas, colegas. Nós, mulheres, metade da população mundial, podemos ocupar esse lugar de crescimento e impulsionar carinhosamente o mundo a um lugar melhor.

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