Energia solar acaba quando não tem sol? Esta empresa quer mudar isso
Projeto de pesquisa da CTG vai analisar condições de geração solar fotovoltaica e busca redução de até 10% no custo da energia no país
Maria Clara Dias
Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 17h31.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 20h25.
A CTG Brasil, empresa geradora de energia limpa, anunciou o investimento de 8 milhões de reais em um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para impulsionar o setor de energia solar no país. Com duração prevista de dois anos, a pesquisa quer melhorar a previsibilidade, o desempenho e a produtividade de usinas solares fotovoltaicas a longo prazo.
O objetivo da pesquisa, segundo a empresa, é reduzir em até 10% o custo da energia solar no país, só com a ampliação da capacidade de prever diferentes cenários, impactos climáticos e novas tecnologias no setor.
Para isso, a CTG se uniu a três instituições públicas de ensino na condução da pesquisa: a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). A primeira será responsável por avaliar, em uma espécie de “usina de laboratório”, as diferentes tecnologias de painéis solares fotovoltaicos bifaciais. Enquanto isso, a Unesp ficará a cargo de analisar o funcionamento dos inversores - peça responsável por transformar a luz solar em energia elétrica - no Laboratório de Eletrônica de Potência, localizado no município de Ilha Solteira, em São Paulo.
Já o instituto de inovação em energias renováveis do SENAI, no Rio Grande do Norte, vai avaliar as condições climáticas e o desempenho de cinco estações solares na região Nordeste.
A CTG é a principal investidora do projeto, que também conta com a parceria de empresas de tecnologia e fabricantes de equipamentos solares que enviarão seus produtos para os centros de pesquisa. Entre elas, a gigante chinesa Huawei e a espanhola STI Norland. O valor será usado para construção da usina de testes, bem como para a instalação da primeira planta solarimétrica e a importação dos equipamentos. A previsão é que os resultados científicos sejam publicados em 2022.
Existe um grande dilema quando falamos em energia solar fotovoltaica no Brasil, segundo Sérgio Fonseca, diretor de desenvolvimento de novos negócios da CTG Brasil. Com o novo ciclo tecnológico da fonte, diversas fabricantes ainda apostam em tecnologias próprias para atuar no mercado, mas a incerteza acerca da efetividade de diferentes patentes é o mesmo que afugentar investidores e também representa maiores custos, o que, segundo ele, “impedem uma fonte tão promissora de se expandir na velocidade exigida pelo mercado”, diz.
As condições climáticas diversas também servem de impeditivo para um salto no setor, afirma o diretor. “Faltam métricas de desempenho que considerem climas, realidades e contextos diferentes em todas as partes do Brasil, e não apenas no Nordeste”, diz. “Temos certeza que esse é o primeiro passo para posicionar o Brasil em um cenário global de pesquisa avançada em energia solar”.
Em um contexto global de transição para a energia limpa, o Brasil tem total capacidade de se tornar o grande líder, segundo Fonseca. “Acreditamos que o Brasil será uma grande potência produtiva no próximo século”, diz. A combinação de tecnologia e sustentabilidade trará redução de custos e permitirá a CTG ter mais produtos competitivos.
Hoje a CTG tem 133 gigawatts (GW) de capacidade instalada em energia limpa mundialmente, entre as fontes hidráulica, solar e eólica. O total equivale a pouco mais de cinco vezes a potência energética da cidade de São Paulo. Destes 133 GW, 8,3 GW estão no Brasil. Desde que chegou ao país, em 2013, a empresa investiu em 17 hidrelétricas - principal composição energética da CTG no Brasil - e 11 parques eólicos. Três hidrelétricas e todos os projetos eólicos são frutos de uma parceria com a empresa energética portuguesa EDP .
A CTG é também a principal investidora da EDP em Portugal, com 20% das ações. “Juntamos a vocação e o apetite da China em ditar as tendências de energias limpas com o desenvolvimento tecnológico e o desejo de empresas de destinar parte de suas receitas", diz Carlos Nascimento, diretor de P&D da CTG Brasil. Além do projeto solar, a CTG tem outros 25 projetos de pesquisa em andamento, que juntos contabilizam mais de 100 milhões de reais.
A corrida pela competitividade e por novas tecnologias em energias renováveis também motiva a empresa a ter diversos centros de pesquisa ao redor do mundo, como na China e na Europa, por exemplo.
Bom momento para a solar
No último ano, mesmo em contexto de pandemia, a capacidade energética do setor cresceu cerca de 52% e hoje, a solar é vista como a principal fonte a encabeçar a retomada verde no país e a transição para uma economia 100% limpa e renovável, seguida da eólica, hidrelétrica e do gás natural.
A ascensão também se refletiu no ambiente corporativo: em 2020, surgiram cerca de 450 novas empresas do setor a cada mês. Neste ano, as estimativas são ainda mais otimistas, e a perspectiva é de que 5.400 companhias comecem suas operações no Brasil até dezembro, segundo mapeamento do Portal Solar, principal marketplace de energia solar fotovoltaica no país. O crescimento, segundo a empresa, corresponde a uma alta de 27% quando comparado ao volume total de empresas no segmento fotovoltaico no país, que hoje conta com 20 mil companhias.