Eleições 2022: nas favelas, um show de civilidade
O direito ao voto é um dos poucos respeitados e exercidos, de fato, pelos periféricos, eleitorado que é três vezes a diferença de votos entre o primeiro e o segundo colocado na disputa presidencial
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2022 às 14h04.
Última atualização em 3 de outubro de 2022 às 14h14.
Olhando os dados do Ministério da Justiça sobre o dia de ontem, primeiro turno das eleições do Brasil, também conhecido como 2 de outubro, posso dizer que as favelas brasileiras deram um show de civilidade na dita "Festa da Democracia", da votação à apuração. Por exemplo, das 329 prisões realizadas por supostos crimes eleitorais, 39 foram no estado do Rio Grande do Sul e fora de favelas, ou vilas, como eles preferem chamar. Na gringa, teve tumulto em países como Portugal e até urna impugnada. Gente presa por boca de urna, violação de urna, agressões e tumultos foram registrados em grandes centros como capitais, não nas favelas, óbvio.
A favela é pragmática. O comparecimento dos favelados às urnas demonstra esperança de dias melhores e fé no futuro. O direito ao voto é um dos poucos respeitados e exercidos, de fato, pelos periféricos. Nesse sentido, parece que o favelado não vai deixar de exercer o único direito garantido que ele possui. Favelado não é de direita ou de esquerda, ele é a favor do que resolve seus problemas — no atual cenário, de quem jura que irá resolver as questões de violência, segurança, emprego. Quando somadas, as mais de 13 mil favelas do país, formam o quarto maior estado brasileiro em se tratando de população e economia. São mais de 17 milhões de brasileiros morando nesses espaços.
Um eleitorado indispensável, que é quase três vezes maior que a diferença de votos entre o primeiro e o segundo colocado na disputa presidencial deste ano. Entretanto, é esse segmento que é excluído dos debates e das proposições de políticas públicas por parte dos candidatos. E é este mesmo segmento que pode fazer a diferença no segundo turno e no desenvolvimento do país.
Os equívocos dos institutos que não conseguiram ajustar as cores das fotografias das opiniões deixam o segundo turno aberto, os bolsonaristas animados e os lulistas preocupados. Afinal, para quem foi induzido pelas pesquisas a crer que a batalha acabaria nesse domingo e viu o senado ser maioria pelos apoiadores do atual presidente não é nada animador. Mas, seja como for, a favela continua esperando sinalizações claras de melhores dias para ela. E esses sinais não vieram ainda. Se o Brasil se desenvolver e a favela continuar estagnada, só teremos aumentado a distância entre os dois. Espero que no segundo round as favelas entrem na agenda. Quem sabe até com a garantia de ter um ministério para esse país, um país chamado favela.
*Celso Athayde é fundador da Central Única de Favelas e CEO da Favela Holding