ESG

Por que a Dell quer que os clientes desapeguem de seus eletrônicos

Para Page Motes, líder global de sustentabilidade da empresa, um dos maiores obstáculos à economia circular é a relutância das pessoas em jogar fora seus computadores

Page Motes, líder global de sustentabilidade da Dell: “Precisamos trabalhar para conscientizar as pessoas da importância de devolver os equipamentos” (Dell/Divulgação)

Page Motes, líder global de sustentabilidade da Dell: “Precisamos trabalhar para conscientizar as pessoas da importância de devolver os equipamentos” (Dell/Divulgação)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 22 de julho de 2021 às 10h55.

Última atualização em 22 de julho de 2021 às 17h12.

A pandemia mostrou que o mercado de PCs não está em decadência. Na verdade, o setor está bombando. Dados de empresas de pesquisas e consultorias como Canalys, Gartner e IDC apontam que as vendas de computadores podem ter aumentado mais de 13% no ano passado em relação aos números obtidos em 2019.

Para a americana Dell, a demanda em alta promoveu a venda de mais de 50 milhões de PCs em 2020, o que garantiu à fabricante uma participação de mercado de 16,9%. Mas, é possível assumir que um volume parecido de computadores deixará de ser utilizado, e isso é um problema. “A questão do lixo eletrônico é uma de nossas prioridades”, afirma Page Motes, líder global de sustentabilidade da empresa americana.

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Em 2019, a Dell fez uma série de compromissos ESG, entre eles o de reutilizar ou reciclar um produto equivalente para cada computador comprado pelos clientes da empresa. O deadline: 2030. Hoje, a companhia está longe do objetivo. Menos de 10% do que sai de suas fábricas é recolhido.

Não é uma tarefa simples criar um sistema de logística reversa capaz de absorver essa quantidade de produtos, diz Motes. Porém, há uma dificuldade adicional, que é o fato de as pessoas não gostarem de abrir mão de seus equipamentos eletrônicos. “Precisamos trabalhar para conscientizar as pessoas da importância de devolver os equipamentos”, diz a executiva. “É uma questão cultural.”

O caminho para a economia circular

Talvez essa relutância ao desapego encontrada pela Dell tenha relação com outro tópico importante na estratégia ESG da empresa, a privacidade. Outra meta da fabricante é, até 2030, automatizar todos os processos de controle e gerenciamento de dados para tornar mais fácil para o usuário apagar seus dados, caso necessite. Neste ano, o Brasil entrou para o programa global de privacidade da Dell, o que significa que as requisições de brasileiros registrados na Dell My Account serão processadas mais rapidamente.

Além de recolher a mesma quantidade de produtos que vende, a Dell também se comprometeu a ter metade dos componentes em seus computadores feitos de material reciclado ou renovável. Nesse quesito, a companhia também está longe da meta: atualmente, menos de 4% dos componentes atendem o requisito. Nesse caminho para a economia circular, a meta mais avançada é a de utilizar material reciclado ou renovável em 100% das embalagens. O percentual, hoje, está em 87%.

Conheça algumas das metas estabelecidas pela Dell

MetaDeadline
Neutralizar as emissões de gases de efeito estufa2050
Ter 100% da eletricidade vinda de fontes renováveis em todas as instalações da Dell2040
Reciclar um produto equivalente para cada unidade vendida2030
Ter mais da metade de todo do material utilizado para produção de novos equipamentos reciclados ou renováveis2030

 

Usar 100% de materiais reciclados ou renováveis em todas as embalagens2030

Aposta no Brasil deu certo

Enquanto algumas empresas optaram por deixar de atuar no Brasil em meio à crise econômica, a Dell escolheu dobrar a aposta no país. No ano passado, quando lançou o XPS 13, notebook premium da empresa, a companhia anunciou que começaria a fabricar os computadores no Brasil — a primeira linha de produção do produto fora da China.

Era uma estratégia da Dell Brasil para ofertar competitividade, reduzir custos e repassar descontos ao consumidor. A alta do dólar associada a um aumento na demanda por computadores e notebooks — produtos que se tornaram essenciais para trabalhar e estudar em  casa — elevaram os preços e, com a decisão de fabricar localmente, a Dell conseguiu reduzir os custos de seu principal produto e competir no mercado brasileiro.

O valor unitário de um XPS 13 antes da produção local era de 13.500 reais e o prazo de entrega era de até 45 dias. Com a fabricação local, o notebook foi lançado a 8.999 reais e sete dias de frete. A estratégia de divulgação e atendimento também foi repensada: a empresa aumentou a presença no YouTube, com vídeos exclusivos de seus produtos em um canal que já acumula 115.000 inscritos, e no WhatsApp para auxiliar o time de vendas.

O resultado da estratégia ficou evidente nos números: nos seis meses seguintes ao lançamento, a Dell vendeu 40% mais unidades do XPS 13 do que era esperado para o primeiro ano após a instalação da linha de produção no Brasil. As vendas esperadas para o semestre foram alcançadas em duas semanas. De acordo com Diego Puerta, diretor-geral da Dell no Brasil, o movimento foi importante e foi acompanhado de um processo longo de aprovação junto à Dell global para trazer a fabricação do notebook ao país.

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