ESG

CUFA, Dom Cabral e Favela Fundos criam Escola de Negócios da Favela para formar empreendedores

Por meio de uma plataforma digital e com uma linguagem mais próxima dos desafios do dia a dia, os alunos vão aprender conteúdos específicos para cada tipo de empreendimento; a iniciativa nasceu na Expo Favela 2022

Empreendedores de favelas podem se formar em nova iniciativa (Germano Lüders/Exame)

Empreendedores de favelas podem se formar em nova iniciativa (Germano Lüders/Exame)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 28 de setembro de 2022 às 09h30.

A Escola de Negócios da Favela é uma parceria entre a Central Única das Favelas, Fundação Dom Cabral (FDC) e Favela Fundos que reúne jornadas de desenvolvimento para empreendedores das favelas de todo o Brasil. Nesta quarta-feira, 28, em Nova Lima (MG), a primeira turma receberá o diploma de formação da escola, sendo os primeiros alunos os 10 finalistas da Expo Favela 2022.

Por meio de uma plataforma digital e com uma linguagem mais próxima dos desafios do dia a dia, os alunos vão aprender conteúdos específicos para cada tipo de empreendimento, conectando oportunidades e construindo um ecossistema econômico saudável dentro das favelas. O público-alvo da Escola de Negócios são moradores da favela brasileira, que já tenham seu próprio negócio, independentemente do estágio de maturidade.

Esta é a primeira iniciativa no Brasil que nasce da junção da experiência no território periférico em 20 anos de existência da CUFA, presente em cinco mil favelas brasileiras e em quatro países, com os 46 anos de história da FDC, escola de educação executiva da América Latina.

Desde o ano passado, a FDC oferece educação empreendedora e conhecimento em gestão para um público que histórica e globalmente não tem acesso às escolas de negócios. Com isso, passou a atuar também com empreendedores populares, jovens em situação de vulnerabilidade social, e organizações sociais e seus gestores.

“As escolas de negócios não são isoladas da sociedade – elas precisam seguir os desafios impostos pelo território em que operam. Somos reconhecidos no mundo e temos um compromisso ético com o Brasil. Portanto, não podemos ficar indiferentes diante do persistente ciclo de pobreza e da gigantesca desigualdade social no nosso país. Por isso, nos associamos à CUFA e à Favela Fundos, e suas lideranças, para colocar de pé a primeira escola de negócios para empreendedores da periferia brasileira. É uma honra para a FDC construir, junto com os players da periferia, uma escola que poderá mudar a vida de muita gente”, destaca Ana Carolina Almeida, líder da iniciativa na Fundação Dom Cabral.

“50% da população de favela e periferia sonha em empreender. Empreendedor por necessidade ou não, a verdade é que o caminho do empreendedorismo é árduo, e no dia a dia os empreendedores esbarram com desafios inerentes a todo negócio, como por exemplo: separar caixa pessoal, do caixa profissional, como divulgar seus produtos nas redes sociais, e outros. Há muito conteúdo disponível no mercado, mas, para falar com a favela, precisamos traduzir esse conteúdo para o "favelês". A Escola de Negócios da Favela nasce com uma abordagem diferenciada, produzindo e curando conteúdo, entregando trilhas de formação numa linguagem que dialoga com o empreendedor da favela”, comenta Celso Athayde.

Histórico

A parceria teve início na realização da primeira edição da Expo Favela, em abril deste ano, no WTC, em São Paulo, que reuniu 30 mil pessoas em três dias de feira. Foram 20 mil inscritos, dois mil empreendedores selecionados e 300 foram classificados para estarem presencialmente na Expo Favela.

Durante o evento, um rigoroso processo de avaliação identificou os dez empreendedores para formarem a primeira turma da Escola de Negócios da Favela, e premiados com uma jornada híbrida de educação empreendedora e mentoria. A capacitação iniciou no mês de agosto e será encerrada no dia 30 de setembro, no Campus Aloysio Faria, sede da FDC.

Como funciona

Os 300 participantes da Expo Favela serão os próximos alunos da Escola de Negócios, que poderão fazer a inscrição nas jornadas digitais nas próximas semanas. Os demais participantes serão selecionados durante as etapas preparatórias da segunda edição da Expo Favela, que será realizada no primeiro semestre de 2023.

A potência da favela

O Brasil possui hoje 13.151 favelas espalhadas por 743 cidades.17,1 milhões de pessoas vivem nas favelas brasileiras.

Empreender para 57% dos empreendedores de favela é questão de sobrevivência. Mas ao empreenderem por necessidade, eles têm poucos recursos formais para embasar os negócios. A maioria dos empreendedores permanece, atualmente, na informalidade: 63% não possuem CNPJ! Ou seja, não têm empresa formalmente aberta para exercer a atividade remunerada.

O acesso a capital para investimento é apontado como uma das dificuldades na condução dos negócios para 40% dos entrevistados, seguidos pela falta de equipamentos adequados, em 25% dos casos. E 14%, a maior dificuldade está em fazer a gestão financeira do empreendimento.
(Fonte: Data Favela, 2022)

Os TOP 10

Conheça os primeiros empreendedores formados na iniciativa:

Empreendedor/Marca: Silvana Santos - La Piel Negra Lingeries - Bahia
Tipo: Negócio Tradicional
Mercado: Vestuário e Acessórios
Resumo: A La Piel Negra é uma marca de lingeries artesanais feitas sob medida e sem limitação de tamanho. Proporcionando a venda de produtos de altíssima qualidade, elaborados com foco na autoestima de todos os tipos de corpos.

Empreendedor/Marca: Liliane Vicente - AMITIS - AL
Tipo: Startup
Mercado: Alimentação e bebidas (Bar, restaurantes, buffet, etc.)
Resumo: A AMITIS chegou para inovar o mercado de alimentos, realizando a venda de hortas hidropônicas e melhorando a distribuição de alimentos no meio urbano, diminuindo os desperdícios gerados na cadeia produtiva. A startup atua na micro-agricultura distribuída, com uma ampla rede de micro agricultores urbanos que vendem e colhem através de delivery virtual, rede de convênio e feiras livres, possibilitando que o alimento chegue a diversas pessoas e espaços e gerando renda.

Empreendedor/Marca: Matheus de Lima - Todas por Uma
Tipo: Startup
Mercado: Tecnologia e informação (Site, aplicativo, etc.)
Resumo: O “Todas Por Um” é um APP 100% nacional feito para mulheres que sofrem algum tipo de violência, seja doméstica ou não. O app foi feito a partir de uma inteligência artificial que consegue localizar mulheres sequestradas com um simples balanço do celular. O TPU possui funções únicas e o principal papel é conectar e salvar VIDAS, através da construção de redes de apoio/segurança e fortalecendo comunidades de mulheres em todo o mundo.

Empreendedor/Marca: Silvana Aparecida Bento - Trucs
Tipo: Startup
Mercado: Vestuários e Acessórios
Resumo: A Trucs é uma marca de moda íntima e moda praia que se propõe a levar mais conforto e saúde pélvica para as mulheres trans de todo Brasil. A marca surgiu a partir da necessidade deste público de “aquendar a neca” sem riscos à saúde, utilizando calcinhas e biquínis em formato de funil, possibilitando que o volume da região não fique aparente e aumentando a autoestima destas mulheres.

Empreendedor/Marca: Raimundo das Graças - Miritilab
Tipo: Startup
Mercado: Educação e Tecnologia - EduTech
Resumo: Os Kits Educacionais MiritiLab para Aprendizagem Criativa são desenvolvidos para contribuir com o aprendizado mão na massa - o aprender fazendo, buscando o desenvolvimento do processo criativo, de habilidades e de competências que ofereçam oportunidades para pessoas serem protagonistas dentro do processo de ensino-aprendizagem. Além de ajudar na maturação das relações socioemocionais a serem desenvolvidas de forma eficiente, objetivando, também, maior sustentabilidade ao utilizar materiais da natureza em seu processo. Todo material dos kits e sua proposta foram construídos a partir da filosofia educacional do aprender fazendo, pensando e compartilhando com a mão na massa, levando acesso a uma educação diferenciada nas periferias e favelas do Brasil.

Empreendedor/Ariane Santos - Badu Design Circular
Tipo: Startup
Mercado: Sustentabilidade e Meio Ambiente (Reciclagem, Reflorestamento)
Resumo: A Badu Design é um negócio de impacto socioambiental com foco em ESG. A startup tem como propósito gerar economia circular e mobilidade social nas comunidades, através da formação de mulheres periféricas em design circular. Com os conhecimentos técnicos adquiridos, essas profissionais iniciam a produção de peças de design utilizando resíduos industriais, gerando renda e fomentando a consciência ecológica.

Empreendedor/Thais Bernardes - Notícia Preta
Tipo: Startup
Mercado: Comunicação / Redes / Anúncio
Resumo: A Notícia Preta é um portal jornalístico antirracista composto por um coletivo de jornalistas negros e periféricos. Dentro da NP foi construída a incubadora de jovens jornalistas onde são realizadas curadorias de notícias e formação de comunicadores jovens e periféricos.

Empreendedor/ Alan Almeida - Parças Developers School
Tipo: Startup
Mercado: Educação
Resumo: A Parças Developers School tem como proposta reescrever a realidade carcerária brasileira através da educação e da tecnologia. Para isso, a startup oferece treinamento e acompanhamento técnico para egressos do sistema penitenciário e faz a ponte entre as empresas de tecnologia e estes novos profissionais.

Empreendedor/ Victor Garcez - Vision03
Tipo: Startup
Mercado: Tecnologia e Informação
Resumo: A Vision03 é um estúdio de games e marketing que possui como propósito o empoderamento da imaginação de grupos marginalizados a partir da construção de novas narrativas através de jogos digitais. Em suas produções, criações e consultorias, a startup busca ampliar as visões e perspectivas de mundo do usuário e de desenvolvedores de jogos, visando uma mudança social que se inicia no digital.

Empreendedor/ José Márcio Macêdo- Avia! Delivery de comida
Tipo: Startup
Mercado: Tecnologia e Informação
Resumo: A Avia é uma ferramenta de transformação social que tem como propósito solucionar o problema da exclusão e distanciamento dos serviços de delivery tradicionais via aplicativo dos empreendedores do setor da alimentação, sejam eles autônomos ou donos de pequenos negócios, residentes em regiões que estão à margem dos grandes centros urbanos (cidades do interior, periferias e favelas). A Startup conecta consumidores a empreendedores e cria uma rede marginal de consumo fortalecendo a microeconomia emergente, gerando autonomia, renda e emprego para famílias e comunidades.

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