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Lindsay Levin, fundadora do TED Countdown: “Se medirmos a COP apenas pelo texto final, perderemos metade da história” (Divulgação / TED)
Repórter de ESG
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 16h30.
Última atualização em 4 de dezembro de 2025 às 16h57.
A COP30 foi bem-sucedida dentro de um processo inevitavelmente imperfeito — e esse sucesso, para Lindsay Levin, vai muito além da "matemática dura" das negociações.
“As COPs nunca foram só sobre o texto ou acordo final. São sobre o momento político que criam, sobre as coalizões que formam e sobre como aproximam a crise climática da vida real das pessoas”, disse à EXAME a fundadora da iniciativa global TED Countdown e cocriadora do TED Countdown House, um dos espaços que se tornou polo vibrante de Belém durante a grande conferência do clima.
Antes de se dedicar ao clima, Lindsay passou décadas construindo pontes em liderança de impacto. Em 2001, fundou o Leaders’ Quest, uma empresa dedicada a conectar executivos, ativistas e agentes públicos em viagens imersivas pelo mundo.
“Viajar abriu meus olhos. Você vê como as pessoas realmente vivem, o que enfrentam, e entende a conexão entre desigualdade e clima de uma forma muito concreta", contou.
Com uma vasta bagagem de experiências em diferentes países e comunidades já afetadas pelas mudanças climáticas, ela percebeu que a pauta deixou "de ser uma abstração" e construiu sua visão atual: transformações só acontecem quando política, cultura e pessoas se encontram.
Hoje baseada em Nova York, ela descreve que o “retrocesso climático preocupante de alguns países” como é o caso dos EUA, apenas reforçam o senso de urgência e o papel do TED de criar conexões e histórias que mantenham o "tema vivo mesmo quando governos recuam".
A britânica faz um balanço final da COP30 sob a perspectiva de quem há décadas tenta aproximar narrativas climáticas de públicos diversos. Empresária e filantropa, foi a responsável por transformar a plataforma TED em um dos maiores palcos globais para acelerar soluções "e conversas" sobre os desafios planetários.
"A única forma de acelerar a ação é tornar o tema impossível de ignorar, e isso exige cultura, histórias, emoções. Não apenas números”, afirmou na entrevista.
Pela primeira vez, a organização montou uma casa oficial com uma programação intensa e paralela à oficial , reunindo chefes de Estado, negociadores, povos indígenas, artistas, pesquisadores e empreendedores em uma "área informal e democrática" no coração da capital paraense.
Belém foi o lugar certo, e uma decisão corajosa, reforçou: "É onde o desenvolvimento encontra a conservação".
“A COP30 representou uma virada política na agenda climática. Não porque tudo ficou fácil — pelo contrário — mas porque muitos países reconheceram que não dá mais para adiar decisões difíceis”, destacou a executiva.
Nesse ponto, o Brasil teve um papel decisivo. Para Lindsay, a presidência brasileira da COP entendeu o “jogo fino” por trás das negociações e atuou com sutileza e inteligência ao separar debates de maior tensão — como dos combustíveis fósseis — e criar espaço para avançar onde havia consenso, o que ajudou a manter "países estratégicos na mesa".
Embora o acordo final tenha frustrado por não mencionar a eliminação dos fósseis, a COP30 deu o pontapé inicial para que um roteiro seja trabalhado pelos países e será um dos grandes esforços do Brasil até o fim do mandato em novembro de 2026 quando passa o bastão para a COP31 na Turquia.
Para Lindsay, não é possível ignorar as limitações estruturais do processo. “Não existe COP perfeita. Existe COP que move a política na direção certa -- e Belém fez isso com êxito", frisou ao lembrar que só pelo fato de estarmos falando abertamente a nível global sobre este tema antes tabu já mostra que algo mudou.
A experiência amazônica também moldou a avaliação da executiva e ela se mostrou impactada pela energia dos povos indígenas e pelo protagonismo de jovens ativistas.
“A Amazônia lembra ao mundo que clima não é uma abstração: é território, é cultura, são pessoas que já está pagando o preço da inação”, afirmou.
Foi por isso que ela quis garantir que o TED Countdown House fosse um espaço não apenas de autoridades, mas também de vozes que historicamente ficam à margem e não são consideradas na tomada de decisão.
“Se não trouxermos quem vive a crise para o centro da conversa, não há futuro possível", acrescentou.
O Countdown, lançado em 2020, atua justamente nessa convergência entre ciência, arte, comunicação e ação concreta em frentes como energia, transporte, alimentação, natureza e finanças, com uma lógica prática: acelerar soluções que já funcionam mundo afora.
Para a fundadora, o processo natural exige lidar com "realidades políticas imperfeitas", algo bastante evidente dentro das próprias COPs e que geralmente culminam em acordos não tão ambiciosos como deveriam ser frente ao tamanho do desafio.
A ansiedade por resultados que colocam em xeque o futuro do planeta é legítima -- e compartilhada por ela, mas no fim do dia, Lindsay lembra: "O Brasil entregou o que era alcançável e fez o que era possível em um contexto geopolítico complexo e desafiador", concluiu.
Com a missão de transformar o clima em uma pauta do cotidiano, a organização já planeja replicar o modelo na COP31 da Turquia, com ainda mais força. "Belém foi só o começo", garantiu.[/grifar]