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COP29 pode ter fim adiado: negociações travadas e bloqueio saudita ameaçam Cúpula

Presidência da COP realizou reunião extraordinária para administrar a pressão entre países. Especialistas já dão como certa a prorrogação do prazo final da Conferência

Presidência da COP29 tenta acalmar ânimos entre países. Negociações travadas dão sinais de que Conferência pode demandar reconvocação. (UN Climate Change - Kiara Worth/Divulgação)
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 22 de novembro de 2024 às 07h49.

Última atualização em 22 de novembro de 2024 às 15h05.

Depois de um texto preliminar incompleto, que culminou em ânimos acalorados, a presidência da COP29 realizou ontem uma reunião extraordinária para que países se manifestassem. Mas o que está em jogo nesta sexta-feira, 22, último dia programado da Conferência do Clima em Baku, não será resolvido com a "terapia em grupo".

Os desafios para se chegar a um documento final que, se não trouxer avanços ao menos não venha com retrocessos, incluem negociações emperradas sobretudo por parte dos países desenvolvidos, bloqueio saudita em relação a combustíveis fósseis e o papel coadjuvante de economias fundamentais nas decisões, como os Estados Unidos.

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O padrão histórico de extensão das negociações ultrapassando o prazo oficial parece prestes a se repetir. Porém, desta vez, as apostas vão além: após a publicação do rascunho oficial, veteranos nas Conferências acreditam que, a exemplo do que aconteceu em 2000 com a COP6, na Holanda, será necessário reconvocar a Cúpula em nova data e local.

Na época da Conferência holandesa, cujo foco foi a implementação do Protocolo de Kioto, o colapso nas negociações e a saída dos Estados Unidos que se limitou a atuar como Estado observador apenas, demandou a chamada "COP6-2" em Bonn, na Alemanha.

Financiamento em limbo

O financiamento climático, tema principal da COP29, chegou a um limbo. Historicamente responsáveis pela maior parte das emissões, as nações ricas mantêm-se relutantes em assumir responsabilidades financeiras concretas com países em desenvolvimento, que por sua vez estimam a necessidade de US$ 1 trilhão anuais em recursos para enfrentar eventos climáticos extremos e adaptar-se ao aquecimento global.

Os rascunhos divulgados na quinta-feira provocaram indignação ao deixarem em branco, justamente os valores desses compromissos. Houve então a promessa de uma nova edição do texto na noite do mesmo dia, com "os contornos de um pacote financeiro que estava começando a tomar forma". O documento não veio, colocando pressão adicional sobre o Azerbaijão e intensificando o ambiente de desconfiança entre os países participantes.

"Esta é a pior COP da memória recente. Países em desenvolvimento se sentem reféns para aceitar um acordo insuficiente", disse Mohamed Adow, do Power Shift Africa, para a AFP. A dura declaração parece sintetizar um sentimento generalizado, não só para nações em desenvolvimento, mas também entre pequenos estados insulares. Também para a AFP, Harjeet Singh, do Fossil Fuel Non-Proliferation Treaty (Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis), foi ainda mais incisivo:"Nenhum acordo é melhor do que um mau acordo."

Bloqueio saudita a compromisso de transição

Outro aspecto crucial, as definições em torno de compromissos com a redução de combustíveis fósseis e adaptação climática, também seguem estagnadas. E a Arábia Saudita tem desempenhado papel central no entrave, tentando enterrar o tema nesta edição da COP. Não por acaso, a falta de menção a combustíveis fósseis no documento final do G20 foi mais um motivo de frustração entre negociadores na quinta-feira, 22.

Na manhã de sexta, os Emirado Árabes Unidos entraram em cena, na defesa da meta estabelecida na COP28, quando pela primeira vez na histórias das Conferências, embora de maneira tímida, foi estabelecido algum compromisso com a transição para fontes de energia mais limpas. A pergunta que fica é se o posicionamento de um "estado irmão" terá impacto no quintal do vizinho árabe.

Sobre a falta de avanços, em coletiva para a imprensa, Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, alertou para "o descompasso entre retórica e realidade", enfatizando aimpossibilidade de limitar o aquecimento global a 1,5°C sem uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis.

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