Como funcionam os leilões de energia no Brasil
País foi pioneiro no mundo ao introduzir mecanismo sistemático para contratação de longo prazo
Colunista
Publicado em 13 de novembro de 2024 às 14h00.
Há 20 anos, o setor elétrico brasileiro deu um passo importante com a criação dos leilões de energia para a contratação sistemática de eletricidade pelas distribuidoras. Embora o mercado já tivesse sido reestruturado e parcialmente privatizado na década de 1990, a experiência do racionamento de energia em 2001 evidenciou lacunas na primeira tentativa de estruturação.
A Lei nº 10.848 de 2004 representou uma oportunidade para uma nova reforma no setor, usando leilões como ferramenta para garantir a expansão do sistema no longo prazo. Desde então, surgiram diferentes tipos de leilões, amplamente aplicados, incluindo:
- contratação de energia de novos geradores;
- contratação de energia de geradores existentes;
- fomento a fontes alternativas de energia;
- contratação de projetos hidrelétricos estratégicos “estruturantes”;
- contratação de uma “reserva” de energia ou de potência;
- garantir a segurança de suprimento, para o atendimento a sistemas isolados na Amazônia;
Mas o que são leilões de energia na prática?
Leilões de energia são mecanismos de contratação entre geradores e consumidores, distribuidores ou comercializadores, com o objetivo de assegurar o suprimento de energia de forma eficiente e competitiva. Esses leilões foram instituídos para prevenir crises de abastecimento e garantir a expansão necessária para atender a demanda crescente.
Referência mundial
O programa brasileiro de leilões é uma referência internacional tanto pela sua magnitude quanto pela diversidade de modelos de leilão e contratos testados. Países da América Latina, como Chile e Peru, adotaram esses mecanismos, assim como alguns países europeus que, no contexto da guerra na Ucrânia, buscam estabilizar os preços para o consumidor.
Apesar do contexto internacional particularmente propício para a expansão dos leilões de energia, no Brasil a modalidade encontra-se em situação de retração. Isso ocorre em parte devido à expansão muito significativa da geração distribuída solar, que reduziu o espaço para a nova geração centralizada.
O Brasil não realiza certames para contratação de energia nova desde 2022. A perspectiva geral é de que um leilão de energia, ao menos no curto prazo, só seria viável se impulsionado por políticas de governo, o que difere da forma como os leilões foram originalmente idealizados. O histórico brasileiro de leilões é muito extenso e contém lições do que fazer e do que não fazer. Cabe às instituições extrair o potencial deste legado.