ESG

Como a crise energética revela a fragilidade de era da energia limpa

A escassez que abala os mercados de gás natural e eletricidade do Reino Unido à China coincide com a retomada da demanda após as restrições da pandemia

Turbinas eólicas. (Paulo Whitaker/Reuters)

Turbinas eólicas. (Paulo Whitaker/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 5 de outubro de 2021 às 18h17.

Por David R. Baker, Stephen Stapczynski, Dan Murtaugh e Rachel Morison, da Bloomberg

O mundo enfrenta a primeira grande crise resultante da transição para a energia limpa. Não será a última.

A escassez que abala os mercados de gás natural e eletricidade do Reino Unido à China coincide com a retomada da demanda após as restrições da pandemia. Mas o planeta tem enfrentado mercados de energia voláteis e escassez de oferta há décadas. A diferença agora é que as economias mais ricas também implementam uma das mais ambiciosas reformas de seus sistemas desde o início da era da eletricidade, sem uma maneira fácil de armazenar a energia gerada por fontes renováveis.

A transição para uma energia mais limpa tem como objetivo tornar esses sistemas mais resilientes, e não menos. Mas a mudança real levará décadas, durante as quais o mundo ainda dependerá dos combustíveis fósseis, mesmo com os principais produtores alterando drasticamente suas estratégias de produção.

“É uma mensagem de advertência sobre o quão complexa será a transição energética”, disse Daniel Yergin, um dos principais analistas de energia e autor do livro “The New Map: Energy, Climate and the Clash of Nations”.

No meio desta mudança fundamental, o sistema de energia mundial tornou-se notavelmente mais frágil e mais propenso a choques.

Volatilidade

A turbulência na Europa é um exemplo. Após um inverno mais frio do que o normal que esgotou os estoques de gás natural, os preços do gás e da eletricidade dispararam, já que a demanda das economias em recuperação cresceu rápido demais para que os suprimentos conseguissem acompanhar. Algo semelhante provavelmente teria acontecido se a Covid-19 tivesse surgido há 20 anos.

Mas agora, Reino Unido e o continente europeu contam com uma combinação muito diferente de fontes de energia. O carvão foi reduzido drasticamente, sendo substituído em muitos casos por um gás de combustão mais limpa. Mas o aumento da demanda global este ano encolheu a oferta de gás. Ao mesmo tempo, duas outras fontes de energia - vento e água - tiveram produção abaixo do normal, com velocidades dos ventos mais lentas e poucas chuvas em países como a Noruega.

Em outras palavras: um mercado global de gás sob pressão elevou os preços da eletricidade para níveis recordes, e a transição amplificou o problema.

A crise que atinge a Europa é um sinal dos tipos de choque que podem abalar mais partes do planeta. Mesmo com as energias solar e eólica cada vez mais abundantes e baratas, muitos países ainda dependerão, durante décadas, do gás natural e de outros combustíveis fósseis como reserva. No entanto, o interesse de investidores e de empresas em aumentar a produção desse tipo de combustível está diminuindo.

Essa é uma boa receita para a volatilidade , escreveu Nikos Tsafos, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em análise recente.

“Estamos definitivamente migrando para um sistema que é mais vulnerável”, disse Tsafos, presidente do núcleo James R. Schlesinger para energia e geopolítica do centro, em entrevista.

A própria transição - imperativa para o planeta - não causou o aperto. Mas qualquer sistema grande e complexo pode se tornar mais frágil quando passa por grandes mudanças.

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