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Sistema hidrelétrico é ficção e premissas estão erradas, diz CEO da Omega

Para Antonio Bastos, investir em térmicas e gás natural é um erro e o planejamento do sistema elétrico tem de ser revisto

Antonio Bastos, CEO da Omega Energia: “Se tem um país que pode fazer uma revolução energética é o Brasil” (Omega/Divulgação)
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Rodrigo Caetano

Publicado em 16 de setembro de 2021 às 10h07.

Última atualização em 16 de setembro de 2021 às 12h06.

O CEO da Omega Energia, maior empresa de energia renovável do Brasil, encara com tristeza a ideia do governo brasileiro de fomentar o mercado de gás natural . “Estamos perdendo uma grande oportunidade de gerar prosperidade e segurança”, afirma o executivo, que é o convidado desta semana do podcast ESG de A a Z, produzido pela EXAME. “O caminho não é esse.”

Bastos acredita que a solução para a crise energética atual, e todas as outras que possam vir, está nas energias renováveis. “Se tem um país que pode fazer uma revolução energética é o Brasil”, diz. “E o mais significativo, é uma revolução no Nordeste. Podemos industrializar a região a partir da energia limpa. O Nordeste pode se tornar um polo de metanol e hidrogênio verde.”

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Na próxima semana, a Omega realizará um evento para debater a energia renovável como solução para o país. O debate contará com a presença de Tony Seba, autor do bestseller “Clean Disruption of Energy and Transportation”, e do jovem africano William Kamkwamba, que inspirou o filme da Netflix "O menino que descobriu o vento".

O governo brasileiro, no entanto, caminha na direção contrária. Na Medida Provisória que possibilita a privatização da Eletrobras, foi incluída uma obrigação ao concessionário de contratar 8 mil megawatts de energia proveniente de usinas termelétricas a gás natural, sendo 3.500 para o Norte e o Nordeste. Os defensores da medida alegam que trará desenvolvimento para a região.

“É uma medida estapafúrdia. Você terá de construir gasodutos para levar o gás do litoral para o interior, gerar energia e levar de volta para o litoral”, critica Bastos. Para o executivo, é preciso rever o planejamento energético brasileiro, sob a ótica das novas tecnologias. “O sistema hidrelétrico é ficcional e as premissas estão erradas. Não temos a quantidade de energia que pensamos ter, e usamos esses parâmetros para planejar.”

O velho contra o novo

Segundo o presidente da consultoria PSR, especializada em energia, Luiz Barroso, o planejamento do setor elétrico no Brasil é feito a partir da ideia de “garantia física”. "O problema é que a garantia física nem garante, nem é física", afirmou Barroso ao jornal Estadão. "Ela não representa a expectativa de produção de uma usina e sim seu valor econômico ao sistema."

A usina de Belo Monte, no Pará, por exemplo, oferece uma garantia física de 4,5 mil megawatts, em média. Porém, essa capacidade não é constante: nos meses úmidos, a geração chega a ser três vezes maior do que nos meses secos. Na prática, a ideia da garantia física, diz Barroso, serve apenas para os contratos comerciais, uma vez que determina o quanto uma usina pode vender de energia. Mas ela não reflete com precisão o quanto está disponível.

“O que mudou no setor elétrico nos últimos anos?”, questiona Bastos, da Omega. “Nós fazemos sempre a mesma coisa esperando um resultado diferente. No fundo, o que vemos é uma disputa do velho contra o novo. Não vamos a lugar nenhum olhando para o retrovisor e utilizando uma lógica dos anos 70.”

Racionamento de energia? Não, de PIB

O CEO da Omega não vê o Brasil sofrendo apagões. Para Bastos, o racionamento que o país enfrentará é o do Produto Interno Bruto (PIB). Com o valor da energia subindo, as empresas intensivas em eletricidade vão preferir vender a energia contratada do que produzir. “Num cenário de 15 milhões de desempregados, é muito ruim. E já vejo nossos clientes reduzindo o consumo”, afirma o executivo.

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