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Brasil vai produzir 1,38 milhão de toneladas de brinquedos plásticos até 2030. São necessários quase 200 mil caminhões para transportar o lixo gerado pelos produtos (Reprodução/Reprodução)
Rodrigo Caetano
Publicado em 3 de agosto de 2020 às 18h11.
Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 18h34.
Toda criança precisa brincar para estimular seu desenvolvimento. A questão é a maneira como a maioria dos brinquedos é produzida, que pode gerar problemas de saúde na garotada e danos ambientais ao planeta. A culpa é do plástico, matéria-prima de 90% dos produtos infantis.
É o que aponta uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob encomenda do Instituto Alana, organização de defesa dos direitos infantis. Os números impressionam. No Brasil, até 2030, os brinquedos produzidos vão gerar 1,38 milhão de toneladas de plástico. Para descartar esse volume, são necessários 198.000 caminhões de lixo que, enfileirados, alcançariam a distância de São Paulo a Salvador.
Um caso significativo é o da boneca L.O.L Surprise, criada pela empresa americana MGA Entertainment. Ela é considerada a boneca mais vendida no mundo, atualmente. A graça da brincadeira é que a L.O.L vem embrulhada em várias camadas de plástico que escondem surpresas. Entre 2016 e 2018, foram mais de 800 milhões de exemplares vendidos. O plástico dessas embalagens tem volume suficiente para dar 24 voltas ao redor da Terra.
"Os brinquedos têm papel importante no desenvolvimento das crianças e têm, para todos nós, um valor simbólico e emocional”, afirma JP Amaral, mobilizador do programa Criança e Consumo do Instituto Alana. “No entanto, com as estratégias de marketing direcionadas ao público infantil pela indústria de brinquedos, devemos refletir sobre o consumismo desenfreado que se gera por este mercado e, consequentemente, seus impactos na saúde infantil e no meio ambiente.”
A toxicidade dos materiais utilizados nos brinquedos é outro ponto de atenção. O policloreto de vinila, também conhecido como PVC, leva substâncias consideradas tóxicas, que estão associadas a alguns tipos de câncer e a problemas hormonais. Em situações normais, o material não traria mal algum. O problema é que as crianças acabam tendo um contato muito intenso com o brinquedo, aumentando o risco para a saúde.
“É preciso um alerta em relação à composição dos brinquedos plásticos, principalmente os de origem duvidosa", ressalta Vânia Zuin, professora e pesquisadora da UFSCar, Brasil (GPQV) e professora visitante da Universidade de York, UK (GCCE), que coordenou o estudo.
O Instituto Alana propõe a restrição da publicidade infantil como forma de diminuir o consumo desses produtos. Outras soluções seriam a adoção da economia circular, o incentivo às brincadeiras na natureza e o estímulo à troca de brinquedos.