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Brasil comemora dia da filantropia com recorde de doações e ONGs em alta

Atuação do terceiro setor foi fundamental nos primeiros momentos da pandemia. ONGs alcançam parte da população ignorada pelo Estado

Doações durante a pandemia no Brasil atingiram 6 bilhões de reais, mais do que o dobro do registrado no ano passado (Foto/Thinkstock)

Doações durante a pandemia no Brasil atingiram 6 bilhões de reais, mais do que o dobro do registrado no ano passado (Foto/Thinkstock)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 12h46.

O Brasil comemora hoje, pela primeira vez, o Dia da Filantropia. A data festiva foi criada em dezembro do ano passado. Os deputados federais Antonio Brito (PSD-BA) e Eduardo Barbosa (PSDB-MG), autores do projeto, justificaram a iniciativa dizendo que a intenção é dar visibilidade à filantropia e à participação do cidadão na sociedade.

A época para a comemoração é oportuna. A crise do novo coronavírus gerou uma onda de solidariedade entre grandes empresas e a elite, que se mobilizaram para angariar um volume considerável de recursos filantrópicos: mais de 6 bilhões de reais foram doados até julho, mais do que o dobro do registrado no ano passado inteiro. Os dados são do Monitor das Doações, criado pela Associação Brasileira dos Captadores de Recursos (ABCR). 

Esse movimento teve um impacto grande nas comunidades mais afetadas pela crise. Enquanto o governo e o parlamento debatiam sobre a melhor forma de recuperar a economia e dar algum alento aos mais necessitados, ONGs distribuiam cestas básicas, material de limpeza, kits de higiene e transferiam renda diretamente a mulheres chefes de família. Caso do projeto Mães da Favela, que oferece uma bolsa de 120 reais a mulheres em comunidades, por dois meses. Mais de 80 mil mães foram beneficiadas. 

O terceiro setor alcança rapidamente locais ignorados pelo setor público. Em algumas comunidades, levaria meses para o governo levar algum auxílio, coisa que as ONGs fizeram em dias. A estrutura que viabiliza a ajuda a esses territórios é formada por uma rede de organizações sem fins lucrativos, lideranças comunitárias e entidades filantrópicas que vem sendo criada há décadas. “Faz 20 anos que desenvolvemos esse relacionamento”, afirma Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco, fundo patrimonial ligado à família Moreira Salles. “É algo que não se faz do dia para a noite e que é fundamental em momentos de crise”.

A qualidade e o alcance dessa rede comunitária determinam a velocidade com que os recursos chegam aos necessitados. Essa mesma rede fornece os dados necessários para que as iniciativas de auxílio sejam efetivas. Como bônus, a presença do terceiro setor ajuda a movimentar a economia das localidades onde atuam. “Quando eu entrego uma cesta básica ou um kit de higiene, já promovo um incentivo econômico. Mas, ainda tem a pessoa que faz a entrega, que é alguém da comunidade e recebe um salário”, afirma Henriques. “Por isso, a primeira coisa a ser feita numa situação como a atual é garantir o fluxo de recursos para essas organizações”.

Em meio ao que pode ser a maior crise econômica de todos os tempos, e graças a um poder de mobilização construído ao longo de décadas, o terceiro setor reafirma sua importância ao oferecer à sociedade a capacidade de alcançar os territórios mais esquecidos. “A questão não é ocupar um espaço que deveria ser do governo, é complementar os esforços de desenvolvimento”, afirma Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social, braço de desenvolvimento social do banco Itaú. “Quanto mais participativa for a sociedade civil, melhor será para a economia e para a democracia”.

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