COP27: Evento traz novos parâmetros para tecnologia climática, mitigação e ações globais (Leandro Fonseca/Exame)
Nas últimas duas semanas, a cidade de Sharm el-Sheikh foi palco para a 27ª Conferência das Partes (COP) da ONU. Ali, ativistas, chefes de estado e pesquisadores se encontraram para tratar de mudanças climáticas e saídas para melhoria das questões ambientais de interesse global, como por exemplo, a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Segundo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), essa edição do encontro reuniu mais de 45.000 participantes – dentre povos indígenas, comunidades locais e sociedade civil, incluindo jovens e crianças – que contribuíram no compartilhamento de ideias e soluções e auxiliaram na construção de parcerias e coalizões entre os países.
“Isso [a conclusão dos acordos], claramente, não será suficiente, mas é um sinal político muito necessário para reconstruir a confiança quebrada”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres. “As vozes daqueles que estão na linha de frente da crise climática devem ser ouvidas. O sistema da ONU apoiará esse esforço em cada passo do caminho”,
Pela relevância do evento, a equipe de ESG da EXAME, que marcou presença na conferência, trouxe as principais conclusões e parâmetros acordados entre os países. Saiba quais foram as conclusões das últimas semanas abaixo:
O principal acordo diz respeito à criação de um fundo de perdas e danos. Será uma ferramenta para que os doadores, leia-se, os países ricos, contribuam em um fundo global para ajudar em caso de desastres naturais relacionados às mudanças climáticas. Essa era uma discussão antiga, que vem desde 2009, quando ficou acordado, na COP de Copenhagen, que os países desenvolvidos transfeririam 100 bilhões de dólares ao ano aos países em desenvolvimento, a título de financiar a transição para a economia de baixo carbono e investir em programas de adaptação e mitigação dos efeitos do aquecimento global.
“Ouvimos os chamados e atendemos. Hoje, aqui em Sharm El-Sheikh, estabelecemos o primeiro fundo dedicado a perdas e danos, um fundo que está em construção há tanto tempo. Era apropriado que esta COP, a COP de implementação na África, fosse onde esse mecanismo fosse finalmente estabelecido. Milhões em todo o mundo agora podem sentir um vislumbre de esperança de que seu sofrimento será finalmente resolvido, rápida e apropriadamente”, disse o Ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry.
Durante as negociações, os países também se comprometeram a manter a meta de 1,5ºC para o aumento da temperatura global. Sobre o estabelecimento da meta, Guterres, afirmou: “O mundo ainda precisa de um salto gigantesco na ambição climática. A linha vermelha que não devemos cruzar é a linha que leva nosso planeta acima do limite de temperatura de 1,5 graus”.
“O trabalho que conseguimos fazer aqui nas últimas duas semanas e os resultados que juntos alcançamos são uma prova de nossa vontade coletiva, como comunidade de nações, de expressar uma mensagem clara que soa alto hoje, aqui nesta sala e em todo o mundo: essa diplomacia multilateral ainda funciona”, destacou o ministro egípcio Sameh Shoukry.
Durante a COP27, os governantes trataram sobre o Plano de Implementação de Sharm el-Sheikh, que afirma que uma transformação global para uma economia de baixo carbono deve exigir investimentos de 4 a 6 trilhões de dólares por ano. Para alcançar esse objetivo, o plano reforça a necessidade da entrega do financiamento pelos sistemas financeiros e suas estruturas, que precisarão se atualizar juntamente com os governos, bancos centrais, bancos comerciais, investidores institucionais e outros atores financeiros. Porém, existe uma preocupação, pois a promessa dos países desenvolvidos para mobilizar 100 bilhões de dólares por ano até 2020 ainda não foi cumprida.
Durante as reuniões que aconteceram na 27ª Conferência das Partes em Sharm el-Sheikh, no Egito, foi acordado o lançamento de um novo programa de trabalho de cinco anos com o objetivo central de promover soluções de tecnologia climática em países em desenvolvimento.
A COP27 avançou seu trabalho de mitigação com o lançamento de um programa de trabalho para aumentar “urgentemente” a ambição e a implementação de medidas de mitigação. O programa começará imediatamente após a COP27 e terá continuidade até 2030, com, pelo menos, dois diálogos globais realizados a cada ano.
Aproveitando este contexto, os governos também foram convidados a revisitar e fortalecer as metas de 2030 em seus planos climáticos nacionais até o final de 2023, além de acelerar os esforços para reduzir gradualmente o uso de energia do carvão e combustíveis fósseis. O texto oficial reconhece que a crise energética global sem precedentes destaca a urgência de transformar os sistemas de energia para serem “mais seguros, confiáveis e resilientes”, por meio de transições limpas e justas para energia renovável.
Os delegados da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas encerraram o segundo diálogo técnico do primeiro balanço global (Global Stocktate), um mecanismo para aumentar a ambição sob o Acordo de Paris. O secretário-geral da ONU convocará uma reunião de “ambição climática” em 2023, antes da conclusão do balanço na COP28. Além disso, um plano liderado pelo G7 chamado Global Shield Financing Facility foi lançado na COP27 para fornecer financiamento a países que sofrem desastres climáticos.
Neste contexto, foi anunciado um total de 105,6 milhões de dólares em novos financiamentos. Diversos países enfatizaram a necessidade de mais apoio ao Fundo para o Meio Ambiente Global visando a adaptação climática imediata às necessidades dos estados de baixa renda. Também foi decidida uma nova Parceria de Transição Energética Justa da Indonésia, anunciada na Cúpula do G20 realizada paralelamente à COP27, com uma mobilização de 20 bilhões de dólares nos próximos três a cinco anos para acelerar uma transição energética justa.
Sobre perda e degradação florestal, foram decididos importantes avanços, principalmente a partir do Forest and Climate Leaders’ Partnership, que visa unir ações de governos, empresas e líderes comunitários para deter a perda florestal da terra até 2030.
Na Conferência de Biodiversidade da ONU, que será realizada no próximo mês, é esperado que os países adotem uma estrutura global de biodiversidade ambiciosa para a próxima década, aproveitando o contexto pós-COP27 e enfatizando o papel das comunidades indígenas no processo.
LEIA TAMBÉM: