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B3 é quinta empresa a antecipar relatório financeiro de sustentabilidade

Brasileiras Vale, Renner, Natura e Irani já aderiram à norma que será obrigatória em 2027. "É preciso mostrar impacto financeiro dos riscos climáticos", disse à EXAME a superintendente da B3

 (b3/Divulgação)

(b3/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 19h02.

Última atualização em 15 de dezembro de 2025 às 21h25.

Não basta mais só ter informação de sustentabilidade, é preciso mostrar como os riscos e oportunidades climáticas geram impacto financeiro real nos negócios.

É a convicção de Virgínia Nicolau, superintendente de Sustentabilidade da B3, sobre o anúncio feito nesta segunda-feira, 15, de que a bolsa brasileira vai adotar voluntariamente o relatório financeiro de sustentabilidade e clima baseado nos padrões internacionais IFRS S1 e S2.

Em comunicado ao mercado, a B3 se torna a quinta empresa no país a adotar a norma antes da obrigatoriedade prevista para 2027 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), se unindo a Vale e Renner — que já publicaram seus relatórios em 2024 — e a Natura e Irani, com anúncios neste ano.

Na vanguarda, o Brasil foi o primeiro a adotar as diretrizes no mundo e liderou a regulamentação logo após o lançamento dos pronunciamentos internacionais.

"Neste cenário pós-COP30, em que os holofotes se voltaram para o país e temos oportunidades únicas em financiamento sustentável, surge um potencial enorme em lançarmos um padrão alto de qualidade de reporte das companhias brasileiras", destacou a superintendente, em entrevista à EXAME.

Segundo a especialista, a adesão é uma peça-chave que tem como principal público o investidor e o credor daquela companhia.

A data para publicação do relatório ainda não está definida, mas deve acontecer até setembro de 2026 e será referente ao exercício de 2025. Outras empresas ainda podem se pronunciar até 31 de dezembro sobre a adesão voluntária para este ano.

A executiva vê a antecipação da B3 como uma sinalização positiva para o mercado. "Não é sobre ter o melhor relatório, mas sim inspirar outras empresas a firmarem o compromisso e iniciarem o aprendizado dentro dessa jornada prevista pela CVM", afirmou Virgínia.

Os benefícios são muitos: o avanço das práticas de reporte sustentável no Brasil contribui para aumentar a transparência, a confiabilidade das informações, atrair capital global e fortalecer o compromisso do setor privado com o desenvolvimento sustentável. "Ser transparente é fundamental para a abertura de novas oportunidades em finanças verdes", frisou.

Mobilização do mercado e capacitação

Além da própria adesão, a B3 tem desenvolvido desde 2024 trilhas de capacitação para apoiar as 368 companhias listadas no processo de adaptação às novas normas.

No primeiro ano, foram realizados cinco treinamentos que reuniram cerca de 90 empresas. A programação incluiu sessões conduzidas por um time técnico da ONU.

Em 2025, os encontros foram ampliados para nivelar o conhecimento de equipes de controladoria, contabilidade, relações com investidores e sustentabilidade e contou com participação média de 225 profissionais de 84 empresas.

Mirando 2026, a B3 se compromete a seguir ampliando iniciativas de engajamento e capacitação para incentivar a adoção voluntária e já está negociando um novo workshop em parceria direta com a Fundação IFRS.

Olhar para toda cadeia

Para a B3, que atua como infraestrutura de mercado financeiro com quase 400 empresas listadas, a elaboração do relatório apresenta camadas adicionais de complexidade em relação a outras companhias que já aderiram voluntariamente, como Vale e Renner.

Isto porque, embora a análise considere as operações da própria B3 -- das unidades administrativas a  centros tecnológicos -- há possíveis impactos de toda a cadeia.

"O meu negócio pode ser afetado pelos meus fornecedores e clientes", explicou ao dar o exemplo das enchentes históricas no Rio Grande do Sul e os prejuízos bilionários nos negócios.

Por isso, a especialista sugere que existe uma demanda de uma modelagem financeira sofisticada para entender estes efeitos, seja nos setores de commodity, dos mais intensivos em carbono ou do agronegócio.

"A sustentabilidade não deve ser discutida sem se olhar para cadeia", ressalta.

"Mesmo naquelas que já publicaram seus relatórios, encontramos descrições que são um efeito para além das fronteiras e dos muros da companhia", complementou.

Jornada de aprendizado

A estratégia de antecipação, segundo a B3, visa aproveitar o período voluntário como uma jornada de aprendizado. Afinal, a bolsa acredita que a evolução acontece mais rápido se "colocar a mão na massa" e uma maior assertividade vem com o tempo.

"Quando a norma foi lançada, fizemos um primeiro diagnóstico e identificamos que havia aproximadamente 65% de aderência ao texto. Trabalhamos para evoluir e cerca de um ano depois aumentamos para 72%", contou Virgínia.

Para a especialista, é preciso ter um comprometimento com todo o processo. "Caso contrário, não se tem experiência para fazer uma análise de materialidade, mensurar o impacto financeiro e avaliar todos os processos internos", explicou.

O que muda com o novo relatório

A Resolução CVM 193, de outubro de 2023, posteriormente alterada pelas Resoluções CVM 219/24 e 227/25, marca uma etapa decisiva para o mercado de capitais brasileiro.

Com a norma, a CVM passa a exigir a elaboração e divulgação do relatório de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, em linha com os padrões internacionais emitidos pelo ISSB.

O IFRS S1 estabelece as bases para que empresas divulguem, de forma estruturada e conectada às demonstrações financeiras, informações relevantes sobre riscos e oportunidades sustentáveis que possam afetar seu desempenho, posição financeira e fluxo de caixa.

Já o IFRS S2 determina requisitos específicos para a divulgação de informações relacionadas às mudanças climáticas, incluindo aspectos de governança, cenários e métricas de emissões de gases de efeito estufa.

O relatório será um documento à parte das demonstrações financeiras tradicionais, disponibilizado no sistema da CVM. Futuramente, a expectativa é que ele seja divulgado na mesma data do balanço das empresas.

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