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Raquel Reis, CEO da SulAmérica: Preocupação sobre maternidade e carreira para mulheres não é justa (SulAmérica/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 09h17.
Última atualização em 29 de fevereiro de 2024 às 15h43.
Uma das únicas lideranças femininas do mercado de seguros, Raquel Reis completou um ano como CEO da SulAmérica no início de 2024. Responsável pelas áreas de saúde e odontologia, mercados com pouquíssima representatividade de gênero na liderança, ela vê a diversidade na companhia como uma das causas do sucesso da empresa, que já conta com 5 milhões de beneficiários e mais de 4 mil colaboradores.
Para Reis, diversificar faz parte da sobrevivência de um negócio. “Quanto mais plural for a sua liderança, mais você vai estar pronto para atender públicos diversos. Sem diversidade, teremos um vício na produção de produtos para venda e não vamos atender toda população que poderíamos atender, de clientes a futuros clientes”, contou em entrevista à Exame.
Hoje, as mulheres compõem 66,4% do quadro geral de colaboradores da seguradora de saúde, odontologia, vida, previdência e investimentos. São a maioria também na média liderança, com 54,9% das ocupações, e nas taxas de contratações e promoções, sendo 65,1% e 64,5% delas, respectivamente. Nos cargos mais altos, são 42,8%, mas atingir a igualdade entre os diretores está entre as principais metas para os próximos anos.
Segundo a CEO, que integra a SulAmérica desde 2011, a alta presença de mulheres na liderança não é apenas mérito dela, já que as promoções, invariavelmente, ocorrem por merecimento. Mas, a executiva entende que a imagem de uma mulher na liderança ajuda outras mulheres a buscar cargos estratégicos, e favorece uma maior visibilidade da força de trabalho feminina e, consequentemente, mais promoções.
“Eu acho que foi um caminho natural. A empresa propicia possibilidades de crescimento equânimes, independente da sua origem. Talvez eu tenha ajudado como um case vivo, mas a verdade é que a SulAmérica pratica a diversidade há muitos anos, e o meu papel é ajudar a consolidar e levar isso cada vez mais longe”, conta.
Entre as ações de diversidade em curso, a CEO destaca as promoções de nove gestantes nos últimos dois anos. A gravidez, que por vezes é motivo para que mulheres percam oportunidades de carreira ou sejam demitidas, não é vista como um impedimento na cultura da seguradora.No campo dos negócios, Reis lidera a recuperação da SulAmérica após quatro anos desafiadores. O setor de seguradoras de saúde viveu uma crise durante a pandemia, marcada pelas altas taxas de sinistralidade. Em 2022 e 2023, a busca pelos serviços que foram adiados por conta da Covid-19 dificultou ainda mais o crescimento do setor.
A SulAmérica, na contramão, tem atingido bons resultados. Até setembro de 2023, a empresa reduziu em 7 pontos percentuais a taxa de sinistralidade. Com o lançamento de 23 produtos no ano passado, a empresa conquistou mais de um milhão de novos segurados, marca histórica para a companhia.
Positiva sobre a rentabilidade alcançada em 2023, apesar do relatório anual ainda não ter sido divulgado, Raquel aponta que as medidas serão menos drásticas neste ano. No ano passado, a busca pela rentabilidade trouxe reajustes altos, que desafiavam os segurados. Mesmo com o aperto no bolso dos clientes, a empresa confia na elasticidade dos beneficiários, ou seja, o quanto estão dispostos a seguir no serviço mesmo com o aumento dos preços. Este ano, o reajuste deve seguir o mesmo padrão do ano anterior.
A busca pela recuperação do negócio é, para Reis, “desafiadora como mudar o curso de um transatlântico”. A SulAmérica buscou neste começo de ano renegociações com prestadores de serviços e fornecedores, principalmente com a indústria farmacêutica, além de desenvolver produtos que possam resolver a alta taxa de sinistros.
O combate às fraudes também é um dos objetivos para melhorar a rentabilidade em 2024. Raquel pontua que, utilizando o reembolso do plano suplementar, médicos e beneficiários têm solicitado o retorno por serviços mais caros ou além do que foi realizado originalmente. “No início da pandemia, uma média de 9% de todo o sinistro pago era oriundo de reembolso. Ano passado, isso estava em quase 15%. Tem empresas que estão reportando de 18% a 20% de participação de reembolso no sinistro. E uma parte relevante disso são fraudes”, conta. A SulAmérica já abriu mais de 100 queixas-crime contra médicos envolvidos no esquema.
A busca pela democratização dos planos de saúde esbarra, muitas vezes, na necessidade de lucrar (os reajustes nos valores do plano que o digam). Para compensar a barreira de entrada do preço, além de diversificar a cartela de serviços, com produtos que possam atingir a parcela da população de baixa renda, outra aposta é o lançamento de produtos focados em mercados fora das capitais. Ao atingir cidades do interior de São Paulo e Rio de Janeiro e capitais como Recife, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza, a empresa passou a entender a capacidade de regiões além das capitais fluminense e paulista.
“Em Fortaleza, as vendas cresceram quase 300%. Não se tinha uma venda exorbitante por lá, mas ainda assim mostra um movimento de crescimento muito importante de um produto customizado, que atende às necessidades de saúde da região, que são diferentes das necessidades do Sudeste. São outras carências”, afirma a CEO.
O processo que permitiu a venda da SulAmérica para o Grupo D’Or foi finalizado em dezembro de 2022. Pouco mais de um ano após o fim do processo, a CEO da SulAmérica garante que a estratégia e os objetivos seguem inalterados.
Com a compra, a Sulamérica se beneficia da maior escala e, com isso, negociar compras de materiais, medicamentos e contratos com prestadores. “Podemos comprar na tabela que os hospitais da Rede D’Or utilizam. Isso, por si só, representa uma redução de custo na casa de 100 milhões de reais. Ganhamos poder de barganha nesses aspectos e mantivemos a independência dentro do grupo”, conta Reis.