O Marco Legal de Garantias, que cria regras para obtenção de crédito no País, foi debatido em evento da Esfera Brasil com especialistas no tema (Ciete Silvério/Esfera Brasil/Divulgação)
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Publicado em 6 de junho de 2023 às 19h02.
Última atualização em 6 de junho de 2023 às 19h28.
O Marco Legal de Garantias foi tema de debate no Diálogos Esfera, evento promovido pela Esfera Brasil nesta segunda-feira, 5, em São Paulo. O Projeto de Lei (PL) 4188/2021, que institui um marco legal para o uso de garantias destinadas à obtenção de crédito no País, já foi aprovado na Câmara dos Deputados e está em análise na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Segundo o relator, o senador Weverton Rocha (PDT), a penhorabilidade do bem familiar ficará de fora da proposta.
“Vamos fazer alguns ajustes. Já adiantei à equipe econômica que não vamos deixar no texto a penhorabilidade do bem familiar. De alguma forma passou, mas vamos corrigir essa importante conquista que as famílias brasileiras têm na questão da impenhorabilidade do seu bem. O restante, estamos totalmente abertos ao diálogo”, garantiu o senador.
O projeto, de autoria do Executivo ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL), trata do serviço de gestão especializada de garantias, do aprimoramento das regras e do procedimento de busca e apreensão extrajudicial de bens móveis em caso de não cumprimento de contrato de alienação fiduciária.
Para o CEO do Banco XP e mediador do painel, José Berenguer, o Marco Legal de Garantias será responsável por “destravar um bom potencial de crédito, com barateamento das operações”.
Segundo o relator no Senado, o texto do PL ainda está sendo construído e será apresentado ao governo e novamente à Câmara. “Se conseguirmos sintonizar essa agenda, eu acredito que, ainda antes do recesso, nós vamos conseguir dar uma boa resposta para a sociedade e todos que estão ansiosos pelo projeto”, pontuou.
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Para o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, é importante que haja garantias e um ambiente saudável para os tomadores de crédito, com isso haverá redução dos custos da operação e dos riscos.
“Do ponto de vista estrutural, quanto melhor for o arcabouço jurídico, a efetividade da recuperação de crédito e garantias, com mecanismos alternativos, e não só judiciários, com outros atores que possam oferecer serviços e intermediadores para operação de crédito, tanto melhor é o caminho para a gente seguir”, explicou.
Sobre as Instituições Gestoras de Garantias (IGGs), que seriam responsáveis pela avaliação dos bens para concessão do empréstimo, Berenguer defendeu que a implantação seja facultativa em vez de mandatória, como prevê o PL.
Segundo o PL, será possível utilizar um mesmo imóvel como garantia em diferentes operações de financiamento. No painel, o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas (PP), defendeu a proposta. “Imagina que o estoque de crédito no País pode subir de pouco menos de U$S 1 trilhão para quase U$S 2 trilhões. Importante nós termos as garantias divididas, não tem sentido termos um bem dado em garantia que não possa financiar mais de um empréstimo”, justificou.
Isaac Sidney citou que o Brasil é um dos países que menos recupera créditos – cerca de 14,5% ante mais de 80% no Reino Unido e nos Estados Unidos –, o que resulta em um elevado spread bancário e restrição de acesso ao crédito.
“O Brasil recupera de forma ineficaz as garantias de crédito e demora muito tempo, em média quatro anos. Isso resulta em mais custos e riscos e taxas de juros mais elevadas. Não temos um arcabouço de garantias. Uma economia, para se fortalecer, precisa ter mercado de crédito robusto, com forma democrática de acesso ao crédito”, afirmou.
O senador Weverton Rocha destacou a importância de o País valorizar quem é tomador de crédito e honra os compromissos em dia. “Nós não conseguimos ainda ter a cultura de prestigiar um bom pagador, quem anda certo. Hoje é a mesma política de juros para todos. É necessário que a gente comece a estimular essa política da boa prática, do bom pagador”, defendeu.
Já o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, lembrou da importância da aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e disse esperar que ocorra o mesmo, em breve, no Senado. Ele também citou que é essencial manter a agenda de minirreformas.
“Nos dá a tranquilidade macroeconômica para que a gente crie um ambiente onde os juros possam cair no futuro. Isso não vai resolver todos os nossos problemas, porque a produtividade no Brasil está estagnada desde a década de 90, com exceção do setor agrícola. Precisamos resolver isso com medidas microeconômicas”, avaliou.
Sobre o Marco Legal de Garantias, o secretário afirmou que há algumas divergências no texto, mas que não afetam o que realmente é importante no projeto. “Queremos preservar o centro do projeto, onde há consenso, e negociar com o Senado, ouvir a Câmara, para a gente tentar aprovar com a maior celeridade possível.”
O diálogo em prol do desenvolvimento nacional foi citado, em discurso, pela CEO da Esfera Brasil, Camila Camargo: “O Marco Legal altera as garantias para obtenção de crédito, um anseio do empresariado. Nós estamos dispostos a contribuir e fazer parte da solução, por meio do diálogo entre os setores público e privado”.
O Diálogos Esfera reuniu mais de 200 pessoas e foi realizado em parceria com o Tecnobank. Entre os empresários presentes estavam Abilio Diniz (Península), Flávio Rocha (Grupo Guararapes), Marcelo Lacerda (Google), Ricardo Diniz (Bank of America), Tyler Li (BYD Brasil), Vander Giordano (Multiplan), Pierre Santoul (Tereos); os advogados Pierpaolo Bottini, sócio fundador do Bottini & Tamasauskas Advogados, Nelson Wilians, CEO e sócio-fundador do escritório Nelson Willians Advogados, Gabriela Araujo, advogada e comentarista da CNN Brasil, e Marco Aurélio de Carvalho, do Grupo Prerrogativas.