Economia

Solução da crise ainda tem longo caminho, diz Krugman

Para o vencedor do Nobel, há uma sensação de fracasso na economia global, pois os governos de diversos países "não gastaram o suficiente" na crise

Paul Krugman, Nobel de Economia, no EXAME Fórum (Nacho Doce/Reuters)

Paul Krugman, Nobel de Economia, no EXAME Fórum (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2012 às 14h21.

São Paulo - O prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade Princeton Paul Krugman disse nesta sexta-feira que há um longo caminho a percorrer para que sejam solucionados os problemas dos EUA e Europa. "Mário Draghi, presidente do BCE (o Banco Central Europeu), comprou um bom tempo com suas ações, mas a crise está longe de acabar no continente", disse.

De acordo com Krugman, há uma sensação de fracasso na economia global, pois os governos de diversos países "não gastaram o suficiente para tirar o mundo da atual enrascada". Ele participa em São Paulo do Exame Fórum.

O acadêmico afirmou que um dos principais problemas da Europa é não existir integração financeira, o que dificulta a harmonização econômica no continente, que favoreceria o equilíbrio de renda entre cidadãos de países mais ricos e menos abastados. "Eu não verei o contribuinte alemão pagar por previdência do grego enquanto eu estiver vivo", destacou.

Por outro lado, Krugman disse que a Europa tem esperanças de melhorias e que houve avanços significativos recentemente com a atuação do presidente do BCE. "Draghi foi uma boa surpresa no BCE. Ele tem habilidade para lidar com questões políticas na região", disse.

"Ele financiou bancos que tinham títulos soberanos e afastou a catástrofe da Europa. E, com ele, as chances de o euro sobreviver subiram substancialmente. Contudo, temos uma crise internacional muito grave que persiste há cinco anos. Nesse sentido, gostaria de ver uma mensagem mais forte e cristalina do Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano)", afirmou

Emergentes

Quanto aos países em desenvolvimento, Krugman se mostrou animado com as perspectivas de suas economias, pois em geral apresentam um potencial expressivo de expansão nos próximos anos. "Estou otimista com os mercados emergentes, com exceção da China", afirmou, sem detalhar porque está cético em relação ao país asiático.

Quanto ao Brasil, o acadêmico disse que o País registrou elevação substancial da dívida das famílias nos últimos anos. "Mas os números agregados de dívida no País são pequenos perto de outras nações, como os EUA", destacou. "A situação da dívida aqui não está tão ruim assim", avaliou.


De forma indireta, Krugman fez comentários favoráveis às medidas econômicas adotadas pelo governo Dilma Rousseff, especialmente sobre o aumento dos recursos dedicados pelo Poder Executivo a obras de infraestrutura. "Defendo medidas que o Brasil tem adotado, principalmente a alta dos investimentos públicos", destacou.

Krugman disse ainda que a alta liquidez nos mercados internacionais registrada nos últimos anos colaborou para a forte apreciação do real apurada até 2011. "Mas é preciso ver essa questão com cuidado. O Brasil tem problemas de competitividade, o que pode ser registrado pelo déficit de contas correntes", disse. "Se os EUA estivessem inundando o mundo com liquidez, como apontaram muitas queixas, veríamos queda forte do dólar ante o euro", afirmou.

Segundo Krugman, no caso da China, a cotação do yuan ante o dólar apresentou forte desvalorização há alguns anos devido à abundância de crédito em circulação na economia e pela alta da inflação, que não é registrada pelos números divulgados pelo governo de Pequim. "Estatísticas oficiais na China são obras de ficção científica", disse, ressaltando que esse é dos principais fatores que não lhe permitem avaliar se está ocorrendo uma bolha imobiliária no país asiático.

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