Safra de soja do Brasil ainda pode ser recorde apesar da seca
Embora o início da temporada tenha sido “muito atípico”, o Brasil ainda pode ter safra maior do que em 2019-20, quando colheu 125 milhões de toneladas
Bloomberg
Publicado em 20 de novembro de 2020 às 12h41.
Apesar da seca agravada pelo evento climático La Niña, a próxima safra de soja do Brasil ainda pode ser recorde devido ao aumento da área plantada.
O clima seco atípico no país ajudou a elevar os preços da soja para o maior nível em seis anos, em meio à preocupação de redução da oferta justo quando a China acelera as compras. Mas analistas e agricultores dizem que ainda há tempo de melhora das condições da safra.
Embora o início da temporada tenha sido “muito atípico”, o Brasil ainda pode ter safra maior do que em 2019-20, quando o maior exportador mundial colheu 125 milhões de toneladas, segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural.
A empresa prevê safra de 132,2 milhões de toneladas, segundo projeções baseadas na linha de tendência de produtividade, e um aumento de área plantada de 3,6%. A AgRural vai aguardar o comportamento do clima nas próximas semanas para fazer ajustes. Com a maior parte dos grãos germinando e em fase vegetativa, há tempo para a recuperação.
Segundo a analista, as chuvas de dezembro e janeiro vão determinar a safra.
Os atrasos no plantio podem resultar em uma colheita tardia e levar a China a comprar soja dos Estados Unidos por mais tempo do que o normal no início de 2021.
Greg Morris, presidente da divisão Ag Services and Oilseeds da Archer-Daniel-Midland, disse que ainda há oportunidade de uma “boa safra” no Brasil. Ele acredita que a transição vai acontecer em algum momento na metade do primeiro trimestre, de um foco na exportação dos EUA para um foco na exportação do Brasil, disse.
Chuvas irregulares
As chuvas têm sido irregulares na região Centro-Oeste, e o clima também está seco no Sul. Essas condições climáticas causaram um atraso atípico na semeadura, mas, mesmo plantada, a soja não tem recebido chuvas suficientes para o desenvolvimento adequado nas principais regiões de cultivo, o que levou alguns agricultores a replantar.
Antonio Galvan, presidente da Aprosoja de Mato Grosso, disse é muito cedo para prever perdas, mas o problema existe e é “enorme”, disse. Para Galvan, será difícil alcançar produtividade semelhante em comparação com a temporada passada, quando o estado atingiu recorde.
No Mato Grosso, chuvas irregulares e abaixo da média não têm sido suficientes para garantir o desenvolvimento regular das lavouras, segundo Alexandre Inácio, diretor da ARC Mercosul, braço da AgResource, de Chicago, que prevê safra de 130 milhões de toneladas.
Situação semelhante é observada no Sul. No Paraná, onde o plantio está quase concluído, as condições da safra se deterioraram, enquanto no Rio Grande do Sul os agricultores não puderam continuar a semeadura devido à baixa umidade do solo. O plantio a partir da segunda quinzena de dezembro é arriscado, segundo Rogério Mazzardo, gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS).
No entanto, se as condições melhorarem, permitindo a semeadura nas próximas semanas e continuarem favoráveis, Mazzardo projeta uma produtividade média satisfatória.
Há previsão de chuvas no estado no final da semana que vem e até a primeira quinzena de dezembro, mas o clima deve voltar a ficar seco depois disso, disse por e-mail Don Keeney, meteorologista agrícola sênior da Maxar em Gaithersburg, Maryland.
O clima no Rio Grande do Sul é o que mais preocupa nos próximos meses, já que o La Niña pode causar chuvas abaixo da média, de acordo com Celso Oliveira, meteorologista da Somar Meteorologia. Na maior parte do país, incluindo o Mato Grosso, as precipitações devem ser mais regulares a partir de agora, disse.
Chuvas irregulares na Argentina têm ajudado o plantio da soja, mas ainda há atraso em comparação com o ritmo para esta época do ano porque os campos estão secos, de acordo com a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.