Vladimir Putin: projeto é um impulso para a incipiente rota marítima do Ártico (Sputnik/Alexei Druzhinin/Kremlin/Reuters)
EFE
Publicado em 13 de dezembro de 2017 às 10h23.
Moscou - A Rússia deu um grande passo na conquista do Ártico e na abertura de uma rota marítima no extremo norte do planeta ao construir uma cidade e uma gigantesca indústria de gás natural na península de Yamal, na Sibéria, um dos locais mais inóspitos e inacessíveis do planeta.
A cidade-porto de Sabetta e a usina de liquefação de gás natural Yamal LNG - inaugurada na semana passada pelo presidente russo Vladimir Putin - foram construídas sobre uma das reservas mais ricas de gás do mundo, em plena tundra e às margens do Oceano Glacial Ártico.
No entanto, a maior conquista deste ambicioso projeto, além de abrir ao comércio reservas de combustível que até agora não eram aproveitadas, é um impulso para a incipiente rota marítima do Ártico, uma alternativa à tradicional travessia pelo Canal de Suez, no Egito, que pode revolucionar o transporte mundial de mercadorias.
O aquecimento global reduziu consideravelmente a espessura das calotas de gelo que cobrem o extenso litoral ártico da Rússia - desde o Mar de Barents até o Mar de Chukchi - e permitiu abrir uma rota marítima um terço menor que a que passa pelo Canal de Suez.
Um navio tem que percorrer 10,6 mil quilômetros para chegar pelo norte, partindo da cidade russa de Murmansk, que fica às margens do Mar de Barents, perto da fronteira com a Noruega e a Finlândia, ao porto de Xangai, na China, enquanto que o caminho por Suez tem aproximadamente 17,7 mil quilômetros.
"Atualmente, a rota marítima do Ártico já pode funcionar durante seis ou sete meses por ano", disse o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em cerimônia de inauguração da Yamal LNG.
Putin apertou um botão virtual, e o gás natural liquefeito (GNL) começou a bombear nos tanques do primeiro transportador de metano quebra-gelo do mundo, o "Arc7 Christophe de Margerie", que, horas depois, partiu do porto de Sabetta, no Mar de Kara.
Nesta ocasião, o navio se dirigiu para o oeste, rumo a um porto holandês no mar do Norte, mas, a partir de julho e até dezembro, o "Christophe de Margerie" e outros navios quebra-gelo de sua classe - que até lá farão parte da frota da Yamal LNG - viajarão diretamente para o leste, aos portos de China, Japão e Coreia do Sul.
As embarcações percorrerão em apenas cinco dias a distância entre Sabetta e o Estreito de Bering, e levarão mais uma semana para chegar até o Japão, enquanto a rota ocidental para o mesmo destino requer o dobro de tempo.
Mais de 95% do gás natural liquefeito que a usina de Sabetta produzirá a partir de 2019 já foi contratada por clientes da região da Ásia-Pacífico, um incentivo para acelerar os planos da Rússia de construir um quebra-gelo revolucionário, capaz de navegar pela rota do Ártico durante o ano todo.
"Uma frota de navios quebra-gelo dessa classe permitirá iniciar o transporte (pela rota oriental) durante todo o ano", disse Putin, em um claro sinal para seu governo de que o projeto do quebra-gelo de propulsão nuclear "Lider" deve avançar mais rápido.
Atualmente, os navios quebra-gelo russos podem viajar todo o ano partindo de Sabetta rumo a oeste, pois a partir do Mar de Kara, em direção ao leste, o gelo dificulta bastante ou impossibilita a navegação.
Se o "Christophe de Margerie" pode navegar a temperaturas de até 52 graus centígrados abaixo de zero através de camadas de gelo de até 2,1 metros de espessura, os quebra-gelo "Lider" poderão romper camadas superiores a quatro metros a uma velocidade de entre 1,5 e 2 nós marítimos.
O vice-primeiro-ministro russo Dmitri Rogozin explicou que a Rússia precisa de pelo menos três navios desse tipo para dar sentido à rota do Ártico e falou que o financiamento do projeto aparecerá logo no orçamento do programa para o desenvolvimento da região.
Esse programa também prevê a construção de novos portos no litoral russo do Ártico, onde os navios poderão reabastecer e atracar em caso de acidentes.
Segundo alguns especialistas, o desgelo progressivo causado pelo aumento das temperaturas pode fazer com que o Oceano Glacial Ártico fique totalmente sem gelo no verão para o ano de 2040, o que permitirá dispensar os navios quebra-gelo durante essa época do ano.