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Rio de Janeiro

Os frutos do crescimento

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h42.

No começo de 1998, o Mellon Bank, um dos mais tradicionais bancos americanos, despachou para o Brasil o executivo Diego Martinez, um colombiano de 53 anos criado em Nova York. Sua missão, além de presidir a representação brasileira, seria escolher, entre Rio de Janeiro e São Paulo, a melhor cidade para fixar o QG do Mellon, que estava se instalando no país. Muitas pesquisas depois, Martinez chegou à conclusão de que os imóveis comerciais no Rio eram mais baratos, os impostos mais baixos e os salários da mão-de-obra especializada que precisaria contratar menores que os pagos em São Paulo. A esses três ingredientes, Martinez, um fanático praticante de pesca em alto-mar, adicionou outro que o fez decidir definitivamente pelo Rio de Janeiro. Simplesmente se apaixonara pela cidade. "Além de todas as vantagens comparativas, ainda tenho, de graça, este cenário deslumbrante", diz, apontando pela janela de seu escritório, localizado no centro da cidade, as águas azuis da baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar ao fundo.

Passados três anos, o Mellon, que chegou ao Brasil com a compra de 70% de uma participação na Distribuidora Dreyfus Brascan, se transformou em um dos maiores sucessos em administração de recursos de terceiros no país. Martinez credita à escolha do Rio uma parcela importante do excelente desempenho da distribuidora, responsável atualmente pela administração de recursos de 78 fundos de pensão - uma carteira total de 9 bilhões de reais. Boas comunicações, transporte e mão-de-obra ultraqualificada foram fundamentais para a alavancagem de seus negócios. Para Martinez, esse é o melhor dos mundos. Depois de uma dura semana no batente, ele pega o barco a alguns minutos de sua casa e sai para pescar.

Que o Rio sempre foi uma cidade cheia de "encantos mil", como apregoa a velha marchinha, não chega a ser novidade. A diferença é que nos últimos quatro anos passou a atrair muito mais do que os olhares deslumbrados de viajantes. Por aqui vêm aportando cada vez mais empresas, transformando o charmoso balneário em um dos mais importantes pólos de investimento do país - cerca de 70 bilhões de reais nos últimos quatro anos. Uma virada espetacular para uma cidade que, dos anos 80 até meados da década de 90, assistiu a uma fuga desenfreada de empresas. Prova da extensão dessa virada: descontada São José dos Campos, que entrou na lista pela primeira vez, o Rio foi a cidade que mais posições conquistou no ranking das dez melhores cidades brasileiras para negócios, saindo do 7o lugar em 2000 para o 4o neste ano.

A abertura do setor de petróleo, em 1998, foi o principal fator para essa guinada. Hoje, 30 multinacionais petrolíferas estão instaladas na cidade. As maiores companhias de gás e petróleo do mundo escolheram o Rio para sediar suas subsidiárias na América Latina, caso da El Paso e da British Gas. Puxada em grande parte por esses investimentos, a economia local assistiu a uma multiplicação dos negócios. No ano passado, foram anunciados investimentos de 4 bilhões de dólares em setores tão diversos como o Pólo Gás-Químico do Rio (que já consumiu 1 bilhão de dólares), papel e celulose, hotelaria, shopping centers, portos, ferrovias, supermercados, restaurantes e publicidade. Só a Aracruz Celulose investirá 650 milhões de dólares em uma nova fábrica.

As telecomunicações são outro destaque. Desde as privatizações, em 1998, grandes companhias sediadas na cidade, como a Embratel, a Telemar, a Intelig e a Telefônica Celular, já investiram mais de 3 bilhões de dólares. A indústria de satélites também está descobrindo o Rio. Há um ano, a americana Star One montou sua sede em Botafogo, bairro da zona sul carioca. Há poucas semanas, foi a vez de a Intelsat, a maior empresa de satélites do mundo, se instalar na cidade. O resultado disso são restaurantes cheios, aluguéis de salas de escritório e moradias de elevado padrão nas alturas e muitos novos hotéis prestes a ser abertos. Nos últimos dois anos, o setor hoteleiro investiu aproximadamente 300 milhões de dólares.

Atenta a esse movimento, a americana TishmanSpeyer, uma das maiores construtoras e incorporadoras do mundo, associada à paulista Método Engenharia, acaba de lançar duas torres de 32 andares de altíssimo padrão na avenida Chile, no centro da cidade. No Brasil, só São Paulo possui um prédio do grupo, que é dono do Rockefeller Center e do Chrysler Center, em Nova York, e do Sony Center, em Berlim. "O Rio cresceu muito e não há edifícios de alto padrão para abrigar as empresas do porte das que estão vindo para a cidade", afirma Daniel Citron, presidente da TishmanSpeyer no Brasil.

A disponibilidade de mão-de-obra profissional especializada constitui um dos elementos que dão atratividade ao Rio de Janeiro. Há na cidade quatro grandes centros de pesquisa de onde saem cientistas para várias empresas. Neles, não há espaço apenas para doutores. A Aquasub, uma empresa sueca que opera dutos na bacia de Campos, por exemplo, está arregimentando alunos de baixa renda recém-saídos da Escola Técnica do estado, jovens que até pouco tempo atrás não tinham a menor perspectiva de emprego. Sua função: operar robôs.

A boa infra-estrutura é outro chamariz. Os portos do Rio de Janeiro são os mais baratos do país - o preço do transporte de um contêiner caiu de 400 dólares para 100 dólares em dois anos - graças a um formidável trabalho de modernização que começou em 1999. Com isso, o volume de cargas transportadas mais que dobrou. "Essas vantagens pesam na decisão dos investidores de vir para c", afirma Wagner Victer, secretário de Energia do estado. Victer diz ter engordado 10 quilos por causa dos inúmeros coquetéis de inauguração de empresas a que tem comparecido nos últimos tempos.

O resultado desse bom desempenho é que o Rio, que representa 80% da economia fluminense, colocou o estado na dianteira do crescimento nacional. De acordo com o IBGE, enquanto de janeiro a setembro as vendas do comércio no país registraram queda de 1,29%, no Rio houve um crescimento de 2,4%. A indústria estadual também foi a que mais cresceu nos últimos doze meses, com um aumento de 5,8%. É evidente que os problemas ainda são muitos. E ultrapassam as mazelas crônicas, como violência, favelas e praias poluídas.

O maior deles certamente é a grave crise na agricultura, que hoje representa apenas 1% do PIB. Com isso, o interior do estado vem expulsando cada vez mais gente para a capital. Despreparada para pleitear um emprego, essa leva de migrantes cai quase sempre na informalidade, vivendo de biscates. "A indústria que está se instalando no Rio é muito especializada e não absorve trabalhadores desqualificados", diz Eduardo Nunes, chefe do departamento de contas nacionais do IBGE. Mas existem saídas. Uma delas é a adoção de políticas para fixar as pessoas no campo. A outra é qualificar essa mão-de-obra para os empregos do futuro. "Sem isso, o risco é de a cidade inchar e perder as vantagens que conseguiu acumular até agora", diz Nunes.

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