"Punir é o caminho mais rápido"
Punição. Para o americano Steven Levitt, professor do departamento de economia da Universidade de Chicago, essa é a melhor solução para a violência no curto prazo. "O criminoso deve saber que as possibilidades de ser capturado e punido são grandes", diz. Especializado em criminalidade e corrupção, ele falou a EXAME de seu escritório em Chicago: […]
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h01.
Punição. Para o americano Steven Levitt, professor do departamento de economia da Universidade de Chicago, essa é a melhor solução para a violência no curto prazo. "O criminoso deve saber que as possibilidades de ser capturado e punido são grandes", diz. Especializado em criminalidade e corrupção, ele falou a EXAME de seu escritório em Chicago:
A violência prejudica a imagem e a credibilidade do Brasil no exterior?
Do ponto de vista do turismo, a imagem do Brasil como um país violento é muito prejudicial. Já em relação à perspectiva dos negócios, não tenho tanta certeza. Ao mesmo tempo, não há dúvida de que é mais caro fazer negócios num país com altos índices de violência. Conheço executivos que têm atividades na cidade do México e gastam um absurdo de dinheiro com guarda-costas, veículos blindados e sistemas de segurança. Os maiores custos, entretanto, são mesmo para a população, vítima da criminalidade.
Há bons exemplos de cidades ou de países que souberam domar o problema da violência?
A experiência dos Estados Unidos mostra que é possível manter a violência sob controle. Nossas taxas de homicídio caíram 50% nos últimos dez anos. Estamos com as taxas mais baixas dos últimos 40 anos. Uma prova disso é que a quantidade de civis mortos pela polícia no Rio de Janeiro é quase tão grande quanto o número de civis mortos pela polícia em todos os Estados Unidos.
Como os Estados Unidos conseguiram controlar a violência?
A estratégia mais importante foi simplesmente a punição, ou seja, se você comete um crime, sabe que há uma probabilidade muito grande de ser pego e de ser punido. Não estamos falando de mágica. Tivemos de aprisionar mais de 2 milhões de pessoas para conseguir esses resultados. O mais importante é que as pessoas saibam que existe o que nós chamamos de punição esperada: um número de dias que o indivíduo, em média, terá de ficar preso por ter cometido determinado crime.
E as punições no Brasil?
A situação no Brasil é que tanto a punição esperada como a punição média -- o tempo real da pena -- são muito baixas. Há uma combinação de dois fatores: da baixa probabilidade de o criminoso ser capturado e da baixa pena recebida por um crime cometido em comparação com a média de outros países.
O que deveríamos fazer?
Não é fácil aumentar a probabilidade de um criminoso ser capturado, porque para isso você precisa ter uma boa polícia. O que sei sobre a polícia brasileira é que ela não é muito eficiente: os policiais são mal remunerados e, muitas vezes, corruptos. Por isso, no curto prazo, a melhor estratégia é tornar as penas maiores. Punir os criminosos com mais severidade.
A pena de morte é um inibidor da criminalidade?
Não acho que seja uma arma importante. Seria se nós executássemos milhares de pessoas por ano. Da forma como é hoje aplicada nos Estados Unidos -- com apenas um punhado de criminosos executados e cortes que levam dez ou 15 anos para autorizar as execuções -- não há impacto algum. Pena de morte é mais uma questão política do que algo que tenha relação com o combate ao crime. Os políticos gostam de usá-la para impressionar os eleitores: ou a apóiam para parecer durões ou a condenam porque querem ser vistos como humanos.
Qual seria então a resposta?
No curto prazo, é punir os criminosos. No médio prazo, acho que deveriam melhorar a polícia -- qualificá-la e impedir que ela seja corrupta. No longo prazo a resposta está nas crianças e na forma como elas são criadas. Um dos meus estudos sugere que filhos de famílias desestruturadas têm mais probabilidade de entrar na criminalidade. E como evitar que as crianças cresçam em ambientes como esse? Uma das soluções para isso nos Estados Unidos foi a legalização do aborto. Em geral não sou a favor do aborto, e acho que há formas mais eficientes de prevenção da natalidade. Mas trazer ao mundo crianças indesejadas é receita para crimes no futuro.
Há números ou exemplos que provem que a legalização do aborto ajudou no combate ao crime?
Sim. Os cinco estados americanos pioneiros na legalização do aborto, em 1970 -- Nova York, Califórnia, Washington, Alasca e Havaí --, viram suas taxas de criminalidade cair antes dos estados que legalizaram a prática em 1973.