Economia

Queda do preço do café pode deixar hipsters sem blends especiais

No Brasil, o maior fornecedor de café do mundo, produtores expandiram a produção. O resultado é um mercado altamente saturado

Café da tarde: no Brasil, há uma oferta tão abundante que os prêmios para muitos produtores de cafés especiais desapareceram (Wavebreakmedia Ltd/Thinkstock)

Café da tarde: no Brasil, há uma oferta tão abundante que os prêmios para muitos produtores de cafés especiais desapareceram (Wavebreakmedia Ltd/Thinkstock)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 21 de abril de 2019 às 08h00.

Última atualização em 21 de abril de 2019 às 08h00.

A queda dos preços do café tem sido tão forte que ameaça fazer mais uma vítima: os blends especiais usados em cafeterias requintadas e cervejarias artesanais mais exigentes.

No mercado de futuros, o café arábica - a variedade mais suave preferida por empresas como Starbucks - é negociado perto do nível mais baixo em 13 anos. No Brasil, o maior exportador e fornecedor do mundo, produtores expandiram a produção e se tornaram mais eficientes, colhendo mais grãos por hectare plantado. O resultado é um mercado altamente saturado que empurrou os preços abaixo do ponto de equilíbrio em muitos países, despertando o receio de que produtores deixem o negócio.

Alguns dos produtores mais atingidos estão na América Central, que fornece variedades especiais como o grão Geisha cultivado em áreas da Costa Rica. Há um duplo impacto quando os preços futuros caem. Como muitos produtores de cafés especiais cultivam grãos com entrega contra contratos futuros de arábica, juntamente com grãos premium, isso reduz o lucro total. A ampla desaceleração do mercado em um momento de excesso de oferta também corrói e, às vezes, até elimina os prêmios dos grãos de alta qualidade.

"Muitas vezes, a disfunção fundamental é que os agricultores vendem café a um preço que não lhes permite ter meios de subsistência sustentáveis", disse Peter Giuliano, diretor de pesquisa da Specialty Coffee Association, que representa produtores, baristas e torrefadores. Não é um fenômeno que ocorre em todos os segmentos do mercado, mas "tem acontecido com frequência suficiente para vermos isso como uma crise", disse.

No Brasil, há uma oferta tão abundante, inclusive de grãos de maior qualidade, que os prêmios para muitos produtores de cafés especiais desapareceram, segundo Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais.

Enquanto isso, em Honduras, a situação está tão ruim que os baixos preços têm impedido produtores de colher toda a produção, porque não podem pagar os catadores nem cobrir o custo dos insumos, como fertilizantes, de acordo com a Associação Nacional de Exportadores de Café. Na África Oriental - outra região importante para variedades especiais - a trading suíça Sucafina tem ajudado produtores a diversificarem a produção, optando por grãos e bananas, por exemplo.

Se o número de produtores diminuir, a redução da oferta poderá ajudar a recuperar os preços quando o mercado passar de um superávit para um déficit. Algumas tradings, como a Marex Spectron, têm esperança de que a retomada possa acontecer até mesmo no curto prazo.

Mas a maioria dos investidores se prepara para uma desaceleração de longo prazo.

Na semana encerrada em 9 de abril, os hedge funds mantinham uma posição líquida vendida de 74.110 contratos futuros e opções, segundo dados da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities dos EUA divulgados na sexta-feira. O número, que mede a diferença entre apostas na alta dos preços e na queda, está negativo desde agosto de 2017.

O número de fundos com posições vendidas era de 105 em 9 de abril, segundo dados da CFTC, próximo do recorde de 111 alcançado em julho.

"O comércio ainda está preocupado com os grandes estoques", disse Jack Scoville, vice-presidente da Price Futures, em relatório publicado na sexta-feira. "O Brasil está dominando o mercado agora, e outros exportadores estão tendo muita dificuldade em encontrar compradores."

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