Economia

Qual é o drama do Chipre?

Mesmo com anúncio do pacote de resgate, país terá que lidar com a taxação de depósitos – que pode gerar perda de confiança no sistema, segundo professor do Ibmec

Manifestantes protestam em frente ao parlamento do Chipre (Reuters/Yorgos Karahalis)

Manifestantes protestam em frente ao parlamento do Chipre (Reuters/Yorgos Karahalis)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de março de 2013 às 17h11.

São Paulo – O parlamento do Chipre irá debater amanhã o plano de resgate proposto para o país. Um ponto que chama a atenção no plano é a taxa sobre os recursos mantidos em contas bancárias locais. O imposto para todos os depósitos privados gerou insatisfação popular – e será discutido pelo parlamento. A reunião já foi adiada duas vezes

O pacote de resgate anunciado pelo Eurogrupo tem o valor de 10 bilhões de euros. Em troca dos empréstimos, o país terá que reduzir seu déficit do setor bancário, elevar os impostos e privatizar ativos do Estado. A novidade é que o Chipre deve arrecadar cerca de 5,8 bilhões de euros por meio de uma taxa sobre os recursos mantidos em contas bancárias locais (sejam de residentes ou não, logo, o dinheiro russo depositado nos bancos do país também sentirá o peso das taxas). 

A casa de análises Empiricus reitera que essa cobrança alivia o pacote de ajuda oferecido pela União Europeia e faz com que os estrangeiros que têm dinheiro no Chipre – como os russos – também sejam atingidos. Por outro lado, há o risco de uma corrida aos bancos e queda das bolsas na Europa, segundo relatório elaborado por Rodolfo Amstalden.

As contas com até 100 mil euros terão uma taxa de 6,75%. Para as que excederem esse valor a taxa será de 9,9%. O parlamento vai discutir o assunto nessa terça-feira e pode aumentar a taxa para os depósitos maiores e diminuir para os menores – ou até mesmo não aceitar a proposta. 

Para os outros países da Zona do Euro, não importa muito como o Chipre vai financiar sua contribuição para o plano de resgate – desde que o faça. “As negociações do parlamento são muito difíceis e existe a chance de o acordo não ser aprovado o que levaria a uma crise bancária sem precedentes”, disse Reginaldo Nogueira, Coordenador do Curso de Relações Internacionais do Ibmec/MG. 

Em relatório, o banco dinamarquês Danske Bank estima que, caso o Parlamento não aceite a proposta, haverá um risco real de a União Europeia deixar os bancos do Chipre entrarem em colapso e o país sair do Euro.  

Taxas

A condição anunciada para a realização do resgate do Chipre abre um precedente um pouco assustador não só para quem tem dinheiro nos bancos do Chipre mas para outros países da Zona do Euro que enfrentam dificuldades.  “A questão que os investidores farão a si mesmos é ‘quem será o alvo da União Europeia na próxima vez?”, afirma o Danske Bank, em relatório.


A medida de taxar os depósitos gera perda de confiança no sistema, segundo Nogueira. Por mais que outros países que já obtiveram resgates, como a Espanha, pareçam mais afastados do contágio, há outros ‘Chipres’ na Europa, segundo o professor. “Populações de outros países podem se sentir compelidas a sacar o que tem nos bancos um pouco rápido para evitar a perda de dinheiro caso seu país precise de um resgate”, disse. 

Além do risco de contágio, a taxação deixa a dúvida de se esse seria o padrão para novos resgates. “Se for, o custo do resgate se tornou bastante alto e aí os países tentariam tudo para escapar aos resgates”, disse Nogueira. 

A escolha de onde colocar as perdas é controversa e surpreendente, segundo relatório do Itaú Unibanco elaborado por sua equipe de macroeconomia. “A conversa sobre um corte em grandes depósitos era conhecida nos mercados, mas provavelmente não era o cenário de referência para a maioria dos analistas”, segundo o relatório.

Em relatório diário, o Bradesco afirma que o pacote de resgate ao Chipre terminou aumentando as incertezas na região – e lembra que, segundo o presidente do Eurogrupo, não há o risco de a medida ser implementada em outros países que já receberam resgate, como Grécia, Irlanda ou Portugal.

O Itaú espera que o contágio para a periferia seja limitado – mas lembra que o Chipre cria um precedente que pode preocupar depositantes. “A necessidade de mais financiamento não é o nosso cenário de referência, mas é uma possibilidade na maioria dos países, incluindo Itália e Espanha, dada a prolongada recessão e os altos níveis de dívida pública e privada nessas economias”. 

No sábado, a população local tentou sacar dinheiro nos bancos que estavam abertos, mas eles foram fechados. Hoje foi feriado bancário no Chipre. O governo prometeu que os cidadãos que mantiverem seus depósitos no banco por um período superior a dois anos receberão de volta a metade do imposto extraordinário e um bônus sobre as futuras receitas com a exploração de gás natural. 

Para o Itaú, uma corrida bancária nos países periféricos é improvável. “No entanto, aumenta a fragmentação financeira na área do euro”, afirma o material. Recentemente, a Europa viu uma espécie de corrida aos bancos, nas vésperas da eleição grega – quando até 500 milhões de euros saiam diariamente dos bancos gregos.

Acompanhe tudo sobre:ChipreEuropaUnião EuropeiaZona do Euro

Mais de Economia

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio

Análise: O pacote fiscal passou. Mas ficou o mal-estar

Amazon, Huawei, Samsung: quais são as 10 empresas que mais investem em política industrial no mundo?

Economia de baixa altitude: China lidera com inovação