Economia

Presentes do Dia das Mães têm até 78% de impostos embutidos

O presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike, afirma que esses itens têm a tributação alta por serem bens de consumo, considerados supérfluos

Compras: quem levar uma calça jeans pagará 38,53% em impostos e, no caso de uma camisa, 34,67%. (flil/Thinkstock)

Compras: quem levar uma calça jeans pagará 38,53% em impostos e, no caso de uma camisa, 34,67%. (flil/Thinkstock)

AB

Agência Brasil

Publicado em 13 de maio de 2017 às 19h39.

Última atualização em 15 de maio de 2017 às 12h52.

Os brasileiros gostam de dar presentes no Dia das Mães, considerada pelos lojistas a segunda melhor data do comércio, perdendo apenas para o Natal. O que poucos param para pensar no momento de optar por um buquê de flores, um perfume, uma bolsa ou um tablet é na carga tributária embutida nesses produtos.

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), que calculou o percentual em impostos estaduais, federais e municipais sobre os itens mais procurados para presentear as mães, a carga pode chegar a 78,43%. Trata-se do percentual em impostos incidente sobre um perfume importado, de acordo com a pesquisa. O perfume nacional, com 69,13%, não fica atrás. Em terceiro lugar entre os mais tributados vem a maquiagem importada, com carga de 69%.

A maquiagem nacional e as joias também ficam mais caras por causa dos impostos, respectivamente 51% e 50,44%. O mesmo vale para a água-de-colônia, com carga tributária de 50,38%, e para um aparelho MP3 ou Ipod, com 49,45% do valor correspondente a impostos.

Quem levar uma calça jeans pagará 38,53% em impostos e no caso de uma camisa, 34,67%. Nem as tradicionais flores escapam do peso dos tributos, com carga tributária de 17,71% sobre o buquê. Levar a mãe a um restaurante também implica em gastar em impostos: 32,31%, de acordo com o levantamento (confira a lista completa da pesquisa abaixo).

O presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike, afirma que esses itens têm a tributação alta por serem bens de consumo, considerados supérfluos. "O nosso sistema é voltado para ter a maioria dos tributos sobre o consumo. Não temos muitos países que arrecadam dessa forma. Nos Estados Unidos, Europa, a tributação é concentrada na renda e no patrimônio", afirma.

Segundo Olenike, a intenção ao concentrar a tributação sobre o consumo, à época da elaboração da Constituição de 1988, era criar facilidade para União e estados arrecadarem recursos. "Entendia-se que, com a tributação sobre a renda, os lucros não seriam tão altos já que o Brasil não é um país tão rico. A ideia era tributar os produtos e atividades que são menos essenciais. Mas os governos realmente a deturparam. Hoje, 70% da arrecadação brasileira vem do consumo", informa.

Reforma tributária

O pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira, especialista em administração e finanças públicas, avalia que o modelo de tributação sobre o consumo revelou-se equivocado e penaliza os mais pobres. "A tributação indireta que recai sobre alimentos, roupas, é extremamente injusta com as pessoas que ganham menos. As pessoas pobres acabam pagando mais. A sociedade precisa começar a se envolver e exigir que o governo faça uma reforma tributária", disse.

Ele cita como exemplo de alternativa ao sistema atual a tributação sobre heranças. "Nos Estados Unidos, quando uma pessoa morre, a metade da herança o governo recolhe. Quando alguém morre está financiando a educação, a tecnologia. No Brasil, quando a gente fala em impostos sobre herança e grandes capitais, as nossas formas de tributação são muito suaves", destaca.

Matias-Pereira afirma ainda que, embora o Brasil tenha uma carga tributária próxima à de países desenvolvidos, o retorno para a população não acontece. "O Estado brasileiro é extremamente competente para tributar e incompetente para devolver esses tributos a seus contribuintes. Temos um país que arrecada 33%, 34% do PIB [Produto Interno Bruto, soma das riquezas de um país] em impostos. Está no nível dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne países desenvolvidos], mas o retorno para nós é semelhante à situação de países de terceiro mundo", analisa.

No final do ano passado, o governo disse que umas prioridades deste ano será a reforma tributária, para tornar a legislação mais simplificada.

Veja a carga tributária dos itens mais procurados para o Dia das Mães:

Água de colônia (nacional): 50,38% Almoço em restaurante: 32,31% Aparelho MP3 ou iPOD: 49,45% Bolsa de Couro: 41,52% Bota: 36,17% Buquê de flores: 17,71% Calça de tecido: 34,67% Calça jeans: 38,53% Camisa: 34,67% Computador acima de R$ 3 mil: 33,62% Computador até R$ 3 mil: 24,30% iPad/tablet: 39,12% Joias: 50,44% Livros: 15,52% Maquiagem nacional: 51,04% Maquiagem importada: 69,04% Pacote viagem: 29,56% Perfume importado: 78,43% Perfume nacional: 69,13% Porta retrato: 43,47% Relógio: 53,14% Roupas: 34,67% Secador de cabelos: 47,88% Serviço de TV por assinatura: 46,12% Teatro e cinema: 30,25% Telefone celular: 33,08% Televisor: 44,94%

*Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT)

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