Preços caem e afetam resultado da balança comercial
Ao mesmo tempo em que os preços das commodities estão em queda, a indústria brasileira tem dificuldade para exportar seus produtos
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2014 às 08h31.
São Paulo - A balança comercial brasileira está enfrentando uma combinação perversa: ao mesmo tempo em que os preços das commodities estão em queda, a indústria brasileira carrega os problemas de baixa competitividade e tem dificuldade para exportar seus produtos.
A decepção com o comércio exterior fica evidente porque havia uma expectativa de que a balança comercial teria um resultado melhor este ano do que o de 2013, quando o superávit foi de US$ 2,5 bilhões, o mais baixo em 13 anos.
Entre os analistas, a previsão para o saldo comercial fica evidente no relatório Focus, do Banco Central. Na última pesquisa do ano passado, eles projetavam um superávit comercial de US$ 8 bilhões.
Na pesquisa mais recente, a projeção caiu para um saldo positivo US$ 2 bilhões. Até maio, a balança comercial brasileira acumula um déficit de US$ 4,9 bilhões.
Os dados da Fundação Centros de Estudo de Comércio Exterior (Funcex) mostram que a queda em valor dos produtos exportados pelo Brasil foi de 4,3% no acumulado em 12 meses encerrados em maio. Esse recuo tem sido aliviado, em parte, pelo aumento na quantidade. No período, aumentou 4,9%.
A queda de preço dos produtos básicos pode ser atribuída ao menor crescimento da China. A economia chinesa é uma grande importadora mundial de produtos básicos, sobretudo do Brasil.
Logo, o crescimento mais lento leva a uma demanda menor por produtos básicos, reduzindo o preço das commodities no mercado internacional e, consequentemente, causando impacto na receita de exportação brasileira.
"Os preços das commodities agrícolas e minério de ferro estão em queda", afirma Daiane Santos, economista da Funcex. A entidade projeta um déficit de US$ 3 bilhões para a balança em 2014.
Apesar do déficit acumulado neste ano, o resultado da balança comercial brasileira poderia ser pior. O Brasil tem antecipado a exportação de alguns produtos - como a soja - para não coincidir com o início do embarque da safra americana, prevista para agosto e setembro.
"Há uma expectativa de que este ano sejam embarcadas 43 milhões de toneladas. Até agora, foram embarcadas 66% dessa projeção", afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Neste ano, a expectativa é que o preço médio da tonelada de soja fique entre US$ 505 e US$ 507. Em 2013, o preço médio foi de US$ 533 por tonelada. Em dezembro, a AEB projetou um superávit de US$ 7,2 bilhões para a balança comercial este ano, mas esse número será rebaixado em julho.
"Hoje diria que estamos num zero a zero", diz Castro, em relação ao saldo comercial esperado para 2014. Uma outra parte da queda dos preços dos produtos básicos está relacionada com a menor liquidez no mercado financeiro, o que afeta o preço das commodities.
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está retirando os estímulos financeiros. Na semana passada, o Fed reduziu em mais US$ 10 bilhões, para US$ 35 bilhões, a compra de títulos mensais.
"À medida que os EUA reduzem a expansão monetária, mais o dólar tende a se valorizar. Como contrapartida, isso acaba reduzindo os preços das commodities", diz Fabio Silveira, diretor da GO Associados.
Manufaturados
A exportação de manufaturados também deve ser prejudicada este ano. Além da já conhecida baixa competitividade da indústria brasileira para competir internacionalmente, a crise argentina deve tornar ainda mais difícil a vida do setor industrial brasileiro.
A Argentina, um dos principais mercados de exportações brasileiras de manufaturados, voltou ao centro da discussão financeira mundial depois que a Justiça americana determinou o pagamento de US$ 1,33 bilhão para credores que não aceitaram participar das renegociações de dívidas feitas pelo governo em 2005 e 2010.
O problema para o governo argentino é que a conta pode chegar a US$ 15 bilhões se todos os processos forem revistos. Se isso ocorrer, a Argentina fica próxima de um calote, já que as reservas são de US$ 28 bilhões.
Com pouco dinheiro em caixa, é provável que os argentinos diminuam ainda mais a importação de produtos manufaturados brasileiros.
"Neste ano, mesmo com o acordo automotivo, a Argentina está numa situação pior do que estava em 2013", afirma Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
O resultado da balança comercial neste ano também não deve ter a ajuda das plataformas de petróleo. Em 2013, a venda das plataformas somou US$ 7,7 bilhões. Neste ano, a expectativa é que esse valor fique em US$ 2,5 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.