Economia

Pouso forçado da China é "cisne negro" da economia global

De acordo com o banco Société Générale, chance de desaceleração brusca da economia chinesa passou de 20% para 30%


	O termo “cisne negro” no mercado financeiro, criado por Nassim Nicholas Taleb, é utilizado para determinar eventos inesperados. Segundo ele, o mundo subestima os efeitos do que é inesperado.
 (Nevit Dilmen/Wikimedia Commons)

O termo “cisne negro” no mercado financeiro, criado por Nassim Nicholas Taleb, é utilizado para determinar eventos inesperados. Segundo ele, o mundo subestima os efeitos do que é inesperado. (Nevit Dilmen/Wikimedia Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de março de 2015 às 12h23.

São Paulo - Um "pouso forçado" da China é o maior "cisne negro" da economia mundial, de acordo com o banco Société Générale. O risco de calote da Grécia é até mais alto (35%), mas menos significativo.

A chance de que o crescimento chinês desacelere bruscamente passou de 20% em novembro para 30% agora, e se tornou o maior risco econômico global "possível, mas ainda improvável".

No mês passado, o banco disse em nota que o dia de acerto de contas estava chegando para a China e que o país teria que aprender a desatar os nós que ligam governos locais, empresas estatais e montanhas de crédito e dívida.

O rebalanceamento do investimento em direção ao consumo está caminhando e "reforma, não estímulo" é o que o país precisa para manter o ímpeto. Isso não significa que o crescimento vá se manter nos mesmos níveis, algo que o próprio governo já reconhece.

Há cerca de um ano, o SG explicou qual seria o impacto de um pouso forçado chinês sobre o Brasil e o mundo. Muita coisa já mudou deste então, a começar pela queda do petróleo, mas a moral da história é a mesma: o Brasil seria devastado pela queda das commodities caso sua maior parceira comercial entre em uma espiral negativa. 

Possibilidades

A tabela de cisnes negros é divulgada periodicamente pelo Société Générale. Em setembro de 2013, os emergentes ficaram no topo; no final do ano passado, foi a crise europeia

A última edição traz, em ordem de probabilidade: um calote da Grécia (35%), um pouso forçado da China (30%), uma eleição no Reino Unido que leve a um plebiscito sobre a saída do país da União Europeia (25%), uma forte revisão dos premiums de diferentes prazos no G4 (20%), multiplicadores menores que o esperado (15%), a concretização de uma saída do Reino Unido da UE (10%), a saída da Grécia da zona do euro (10%), uma crise sistêmica nos emergentes (10%) e o "vazamento" da crise na Ucrânia (5%).

Os "cisnes brancos" são dois: multiplicadores maiores que o esperado (15%) e um ciclo virtuoso na Europa que combine reformas e políticas fiscais amigáveis ao crescimento (10%).

Perspectivas

O título do relatório é "Recuperação - mas não como a conhecemos!". A queda dos preços de petróleo e uma nova onda de estímulos - em especial do Banco Central Europeu (BCE) - estão impulsionando o crescimento global, e outras economias já vem colhendo os frutos da desvalorização de suas moedas.

A questão é que tudo isso ocorre em um mundo pós-crise que está bem diferente, a começar pela tendência ao juro zero na maior parte do mundo industrializado.

Em relação ao Brasil, o relatório enfatiza a deterioração fiscal do ano passado e as tentativas de reverter o jogo a partir deste ano. No entanto, o banco não acredita que a meta de superávit primário de 1,2% será atingida em meio a uma forte desaceleração econômica. 

"Em algum momento, o governo terá que rever suas estimativas, e isso afetará a credibilidade de sua comunicação e o sentimento dos investidores", diz o banco.

O banco reviu suas previsões para o crescimento do PIB: de 0,6% para -0,3% em 2015 e de 1,5% para 1,2% em 2016.

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