Economia

Possível "Nexit" teria impacto negativo na economia da Holanda

A principal voz do "Nexit" é a de Geert Wilders, líder da extrema-direita no país cujo programa eleitoral se baseia em "desislamizar" a Holanda

Holanda: são poucas as probabilidades de que a ideia se materialize (Carl Court/Getty Images)

Holanda: são poucas as probabilidades de que a ideia se materialize (Carl Court/Getty Images)

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EFE

Publicado em 13 de março de 2017 às 10h53.

Haia - As especulações sobre um possível "divórcio" entre a Holanda e a União Europeia (UE) estão repercutindo na campanha eleitoral do país; no entanto, políticos e especialistas advertem que a nação não poderá sobreviver economicamente sem a legislação e as facilidades oferecidas pelo sistema europeu.

A maioria dos líderes políticos holandeses se mostrou um tanto crítica com a União Europeia durante a campanha, mas não até o ponto de apoiar um "Nexit", como se chama a possibilidade de uma saída da Holanda da UE.

"É inviável. A economia holandesa está baseada nos negócios. Necessitamos do sistema Schengen para nos movimentarmos com facilidade, da legislação em matéria de impostos para economizar em burocracia e de um espaço econômico e uma moeda comum", disse à Agência Efe o analista de política internacional Diederik Brink.

O governo atual, formado por uma coalizão entre os liberais do VVD e os trabalhistas do Pvda, teve que lidar com a crise econômica e impor cortes nos últimos quatro anos, que sempre foram justificados como "exigências" de austeridade por parte de Bruxelas.

Essas "duras" medidas reduziram a confiança na UE, mesmo tendo sido a Holanda o berço do Tratado de Maastricht - que assentou as bases do funcionamento da União Europeia e do processo de integração europeu - e o bloco é visto como "um inimigo" que "presenteia" os impostos dos holandeses "a países como a Grécia", comentou o analista.

A principal voz do "Nexit" foi e é a de Geert Wilders, líder da extrema-direita no país e cujo programa eleitoral se baseia em "desislamizar" a Holanda, fechar suas fronteiras e "devolvê-la aos holandeses", convocando um referendo para sair da UE, a quem acusa de intromissão nos assuntos soberanos holandeses.

No entanto, são poucas as probabilidades de que esta ideia se materialize, pois, apesar de o Partido da Liberdade (PVV) de Wilders liderar as pesquisas, será complicado formar uma coalizão de governo com respaldo suficiente para legislar e se tornar primeiro-ministro.

Além disso, em uma pesquisa divulgada após o "Brexit", 56% dos holandeses se posicionaram contra um referendo sobre a filiação à UE, em comparação com os 50% que tinham se declarado favoráveis um mês antes da votação da saída do Reino Unido.

Um relatório da entidade Rabobank alertou que um "Nexit" pode ter "graves consequências" e detalhou que a economia holandesa reduziria seu crescimento em 15%, o índice de desemprego duplicaria e tornaria patente um cenário de desintegração para a zona do euro e a UE.

A Holanda é um país voltado aos negócios e nele se estabeleceram dezenas de multinacionais que empregam profissionais de todo o mundo, especialmente europeus, graças às facilidades para residir e trabalhar no país.

A cidade de Roterdã, cujo porto internacional é um de seus maiores atrativos econômicos, emprega cerca de 90 mil pessoas, às quais exige uma mobilidade interestatal frequente.

Wilders, por sua vez, não está de acordo com as possíveis consequências negativas de um "Nexit". Segundo um relatório do PVV, a economia holandesa se beneficiaria com a saída da UE e o país, que tem 17 milhões de habitantes, manteria uma forte posição comercial.

De acordo com a maioria dos partidos, a União Europeia precisa de reformas "urgentes" e redução de gastos desnecessários, assim como menor influência nos assuntos internos dos países-membros e melhor comunicação das decisões adotadas em Bruxelas.

O ministro das Relações Exteriores holandês, Bert Koenders, deixou isso bem claro: "Não queremos mais Europa, nem menos. Precisamos de uma Europa diferente, que não funcione como uma máquina legislativa, mas que tenha influência nas negociações importantes".

Por isso, na opinião do analista Brink, as próximas eleições resultarão em "um governo que exija as tão solicitadas reformas urgentes, mas não uma saída" da Holanda da UE.

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