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Os três pilares do futuro digital, segundo pesquisadores do MIT

O novo livro dos acadêmicos do diretor e do pesquisador-chefe do Centro de Negócios Digitais do MIT é uma espécie de três em um da futurologia

Robótica: livro aponta como o avanço tecnológico chacoalha o assoalho das empresas (Jeff J Mitchell/Reuters)
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EXAME Hoje

Publicado em 29 de julho de 2017 às 08h12.

Última atualização em 29 de julho de 2017 às 09h12.

O novo livro dos acadêmicos Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, respectivamente diretor e pesquisador-chefe do Centro de Negócios Digitais do MIT , é uma espécie de três em um da futurologia.

Como o próprio nome diz, Machine, Platform, Crowd: Harnessing Our Digital Future (“Máquina, plataforma, multidão: potencializando nosso futuro digital”, numa tradução livre) analisa três tendências modernas – o avanço da inteligência artificial, o poder das plataformas de negócios e as implicações da vida em rede.

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Como num aparelho três em um, os livros dedicados a cada um dos temas são em geral mais profundos, mais bem embasados, tecnicamente melhores que o produto combinado.

Os próprios Brynjolfsson e McAfee escreveram dois livros sobre o primeiro tema, A Segunda Era das Máquinas e Race Against the Machine (“Corrida contra as máquinas”, numa tradução livre), em que descrevem as benesses e os riscos do avanço tecnológico.

Em relação às plataformas, um bom histórico acompanhado de análise econômica do fenômeno é fornecido por David Evans e Richard Schmalensse no livro Matchmakers (“Casamenteiros”, em tradução livre), já resenhado por EXAME.

E o poder das multidões já é dissecado há anos, invariavelmente partindo do exemplo do sucesso da Wikipedia, a enciclopédia formada a partir de contribuições livres que se equiparou – e em vários aspectos ultrapassou – o trabalho dos especialistas das enciclopédias tradicionais.

Qual o valor, então, do livro três em um de Brynjolfsson e McAfee? Primeiro, a concisão. Trata-se de um bom resumo das mudanças recentes no campo da tecnologia. Em segundo lugar, as conexões. Quando se juntam duas ou mais tendências, fica mais fácil enxergar as bases do movimento que o mundo anda fazendo.

Um possível problema é, talvez, que fique fácil demais enxergar essas bases. Ao descrever como o avanço das máquinas cria uma nova onda de desafios, os autores responsabilizam a tecnologia pelo encolhimento de salários como porcentagem do PIB na maioria dos países desenvolvidos.

Nenhuma menção à globalização – e, no entanto, é provável que os ganhos dos trabalhadores nos países ricos tenham migrado menos para o mundo dos metais ligados por parafusos e chips, e mais para o mundo dos países mais pobres, especialmente no Sudeste Asiático.

Esta não é tanto uma falha dos autores. Trata-se de uma limitação das projeções futuristas. Ao extrapolar algumas tendências, é natural esquecer outras.

O futurista mais famoso do século 20, Alvin Toffler, teve acertos fantásticos, como a previsão de crise na família nuclear tradicional e aumento dos arranjos homossexuais, o avanço da internet e da engenharia genética, o consumismo. Mas errou ao prever o abandono das grandes megalópoles, a colonização do espaço e, principalmente, que o enriquecimento impressionante que se viu na década de 1960 continuaria indefinidamente.

Se há um ponto que desperta dúvidas na análise de Brynjolfsson e McAfee, não é que sua análise de futuro se baseia apenas e tão somente nas mudanças tecnológicas. Elas certamente são um aspecto crucial de qualquer interpretação do mundo. Mas o que dizer do avanço do populismo, do descontentamento das classes médias, da crise econômica, da crescente preocupação com o meio ambiente?

A força do desejo

Não se trata de enxergar o futuro, defendem-se os autores, mas de apontar os tremores que já é possível sentir no assoalho das nossas vidas. Em especial a vida das empresas.

A inteligência artificial está próxima de um novo limite. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que as máquinas eram apenas um braço mais forte para servir às mentes humanas. Mas agora os sistemas já conseguem vencer os humanos no jogo estratégico de Go, são melhores que os médicos em prever doenças, interagem com consumidores corriqueiramente, até são capazes de compor músicas e projetar objetos.

A visão catastrofista desse avanço é calcada no termo “singularidade”, o ponto a partir do qual as máquinas sejam capazes de criar máquinas mais inteligentes que elas próprias. A partir daí, seria inevitável que elas dominassem o planeta.

Brynjolfsson e McAfee são mais otimistas. Acreditam que as máquinas não têm, e provavelmente nunca terão, volição. É possível que elas sempre precisem da humanidade para ter desejos. E a humanidade precise delas para cumprir esses desejos.

A segunda grande tendência analisada pelos autores é a plataforma. As companhias mais valiosas do mundo, hoje em dia, não são caracterizadas tanto pelo que produzem, mas pelas redes de relações que criam. A começar pela Apple. Seus telefones já não são tão mais avançados que os concorrentes. Mas eles são o ambiente em que os usuários encontram os fornecedores de apps.

Não importa tanto o que a Apple produz, mas o que ela abriga, que outros produzem. Ela é uma plataforma para uma comunidade de empreendedores. Da mesma forma a Amazon (com seu mercado virtual), o Google e o Facebook (que conectam anunciantes a buscadores), o Uber, o Airbnb e por aí vai.

A terceira tendência é o poder da multidão. O primeiro exemplo é a Wikipedia, claro. Mas o fenômeno já começou a entrar no mundo das empresas, com a inovação aberta (grandes problemas resolvidos por pesquisadores de fora da companhia, muitas vezes de outras áreas de conhecimento), com o crowdfunding (investimentos da multidão) e o crowdsourcing (trabalhos da multidão).

Brynjolfsson e McAfee sugerem que os executivos e donos de companhias tomem nota desse mapa dos avanços tecnológicos e façam seu dever de casa para ficar a par com a modernidade. Tanto que colocam pontos de revisão e um questionário ao final de cada capítulo, supostamente para o leitor avaliar em que ponto do caminho para o futuro sua empresa se encontra.

Não é para tanto. Até porque não há espaço para todas as companhias virarem plataformas, dificilmente os executivos decidirão de livre e espontânea vontade que os computadores decidem melhor que eles e nem toda decisão pode ser entregue às mãos das multidões. Mas o livro levanta um debate valioso.

Serviço

Machine, Platform, Crowd: Harnessing Our Digital Future (“Máquina, plataforma, multidão: potencializando nosso futuro digital”, numa tradução livre)

Autores: Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson

Editora: Norton & Company

416 páginas

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