Economia

O que vem primeiro, crescimento ou produtividade?

O debate pode ter consequências cruciais na formulação de políticas econômicas

Siderúrgica Alemã: novo estudo afirma que é o crescimento que puxa a produtividade, e não o contrário (Ina Fassbender/Reuters)

Siderúrgica Alemã: novo estudo afirma que é o crescimento que puxa a produtividade, e não o contrário (Ina Fassbender/Reuters)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 31 de julho de 2017 às 12h43.

Última atualização em 31 de agosto de 2017 às 19h04.

Discussões como a de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, costumam ser uma baita perda de tempo. Mas, no caso da produtividade, o debate pode ter consequências cruciais na formulação de políticas econômicas.

O ovo e a galinha, no caso, são o crescimento e a produtividade. A visão clássica é que a segunda determina o primeiro. É o que defende, com ênfase perto de absoluta, o economista Paul Krugman, colunista de EXAME: para explicar o crescimento, diz ele, “produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”.

No final de julho, no entanto, o economista J. W. Mason, professor assistente do John Jay College, desafiou essa noção em um artigo para o Instituto Roosevelt, uma organização que dissemina ideias progressistas. Seu argumento é que não é a produtividade que explica o crescimento, mas o crescimento que faz a produtividade aumentar.

Não é uma simples questão de em qual ponto começar a desenhar o círculo. Com base na tese neoclássica, o governo americano considera que a economia se recuperou da recessão e está crescendo tão rapidamente quanto possível. A maior evidência disso é que a taxa de desemprego no país está em apenas 4,3%, a mais baixa desde 2001.

Essa taxa implica, segundo os adeptos desta visão, que o país está utilizando praticamente todo o trabalho de que dispõe, e supõe-se que esteja também usando todo o capital e recursos que pode. Dar mais anabolizantes para os agentes econômicos seria contraproducente.

Graças a esse raciocínio, o Fed (o banco central americano) aumentou sua taxa de juros quatro vezes desde o final de 2015, pondo fim à injeção maciça de capital para reanimar a economia.

Ao colocar em dúvida a versão de que o ovo veio primeiro, ou, no caso, que a produtividade leva ao crescimento, Mason defende que o governo mantenha as políticas de incentivo à produção, com os juros baixíssimos. Seu maior argumento é que a produção em 2016, que seria o ano da saída da recessão, ficou 10% abaixo da previsão feita em 2006, antes da crise, e não há sinais de que o país retome os níveis de crescimento da década passada.

Nem ovo, nem galinha

Mason não está sozinho nessa posição. Alguns economistas liberais (que lá eles chamam de conservadores) dizem que a estagnação da produtividade nos últimos anos foi provocada pela insuficiência de investimentos em máquinas e programas.

Também há apoio à tese entre economistas mais ligados às empresas. Marco Annunziata, economista-chefe da GE, disse ao New York Times que muitas tecnologias novas estão sendo inventadas, como a impressora 3D, e geram ganhos de produtividade onde são adotadas.

O problema, portanto, não seria a falta de invenções, e sim o ritmo lento de sua disseminação. E esse ritmo é lento porque o capital não está sendo aplicado como deveria – ou seja, a falta de crescimento impede a adoção de inovações… que levariam a mais crescimento.

Aqui no Brasil, onde a produtividade tem um longo histórico de apatia, essa explicação também faz sentido. Afinal, quando estivemos perto do pleno emprego, a produtividade das empresas caiu, em vez de subir. Segundo um estudo apresentado este ano pelo banco Credit Suisse, entre 2011 e 2016 ela caiu 1,1%.

Costuma-se apontar os culpados de sempre para a baixa produtividade brasileira: educação deficiente que leva a uma força de trabalho menos apta do que seria desejável; impostos; burocracia; infra-estrutura precária; e por aí vai.

Mas o Brasil não era melhor do que é hoje até a década de 1970, e teve ganhos de produtividade no período (em grande parte, pela industrialização que o país viveu). Quer dizer, o movimento de crescer gerou aumento de produtividade, e não o oposto.

Porém, um recente estudo da Fundação Getúlio Vargas (O Brasil em comparações Internacionais de produtividade: uma análise setorial) é convincente em apontar que o Brasil ganharia muito mais equiparando-se aos níveis internacionais de produtividade em cada setor do que alocando mais trabalhadores nos setores mais produtivos – até porque a distribuição da economia entre indústria, agronegócio e serviços não é tão diferente da média de países desenvolvidos.

De acordo com economistas clássicos, as inovações – máquinas novas, sistemas de gestão diferentes – surgem de modo imprevisto, e provocam pequenos (ou grandes) saltos na produtividade: faz-se mais com menos gente. Os computadores, por exemplo, foram amplamente adotados e cerca de 20 anos depois seu impacto na produtividade já era significativo.

Mas Mason argumenta que as inovações estão sempre surgindo. Sua adoção é que é desigual.

Tome-se a robotização e a inteligência artificial, por exemplo. Todo mundo sabe que esses fenômenos têm o poder de potencializar a produtividade. A China vive hoje um processo de acelerada adoção de robôs nas fábricas.

E o Brasil? Aqui, os empresários reconhecem que a mecanização traria ganhos. Mas ela não é uma prioridade. Há outras medidas que poderiam ter impacto maior, acreditam os empresários.

Segundo Mason, a adoção de inovações que favoreçam a produtividade só vai ocorrer em larga escala quando os salários forem altos o suficiente para forçar as empresas a fazer esta opção.

Aqui, ao que parece, nem as galinhas estão pondo ovos, nem os ovo estão sendo chocados para dar origem a galinhas.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoExame Hojegestao-de-negociosprodutividade-no-trabalho

Mais de Economia

Governo avalia mudança na regra de reajuste do salário mínimo em pacote de revisão de gastos

Haddad diz estar pronto para anunciar medidas de corte de gastos e decisão depende de Lula

Pagamento do 13º salário deve injetar R$ 321,4 bi na economia do país este ano, estima Dieese

Haddad se reúne hoje com Lira para discutir pacote de corte de gastos