Nos rankings de instituições financeiras globais, o Grupo BTG Pactual é um peixe pequeno. Mas para a economia brasileira, em seu atual estado, ele aparenta ser muito maior.

O carismático fundador da empresa entregou o controle do maior banco independente de investimento do país na quarta- feira, uma semana depois de ser preso.

Em um momento em que seus líderes tentam vender ativos para evitar problemas de liquidez, os bonds dos bancos continuaram caindo, derrubando os papéis de seus rivais.

Os mercados já estão nervosos com uma economia que se deteriorou para o que o Goldman Sachs Group declarou ser uma “verdadeira depressão” e com a batalha da presidente Dilma Rousseff contra as tentativas de impeachment.

A prisão do fundador do BTG, André Esteves, no dia 25 de novembro, em uma investigação de corrupção e o posterior rebaixamento da empresa para o grau especulativo estão dando mais motivos de preocupação aos investidores.

“Um banco é obviamente muito arraigado em todos os setores financeiros, então não sabemos onde isso vai dar”, disse Pablo Goldberg, gestor de recursos e estrategista para equipe de dívidas de mercados emergentes da BlackRock, em entrevista, de Nova York. “Do ponto de vista do investidor, este é um fator que é preciso ter em mente. Há implicações de balanço para alguns dos créditos que acompanhamos. E há também implicações do sentimento empresarial para o país”.

Evitando riscos

O BTG, com R$ 302,8 bilhões (US$ 78 bilhões) em ativos, não aparece entre as cinco principais empresas financeiras do Brasil. Em relação à economia local, ele está mais próximo do tamanho do Bear Stearns do que do Lehman Brothers no fim de 2007, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Alguma preocupação é motivada pela incerteza, por exemplo, em como clientes e contrapartes podem estar expostos a R$ 1,34 trilhão em volume financeiro de negócios com derivativos -- a soma de suas posições compradas e vendidas no fim do terceiro trimestre. Contudo, essas posições provavelmente não provocariam um impacto sobre o sistema financeiro como um todo fora do Brasil, considerando que empresas internacionais como o Citigroup normalmente têm mais de US$ 50 trilhões em volume financeiro de contratos de derivativos.

“Toda essa história judicial no Brasil, que caminha de forma muito independente da política e da economia, é muito difícil de fazer hedge e precificar”, disse Goldberg, da BlackRock.

O BTG disse na semana passada que não faz parte de nenhuma investigação. Esteves, por meio de seu advogado, negou qualquer irregularidade.

Mudança de controle

Sete sócios do BTG, incluindo os novos co-CEOs Marcelo Kalim e Roberto Sallouti, usaram um swap de ações com Esteves para assumir o controle do banco, disse a empresa. O anúncio veio horas depois de o banco afirmar que havia vendido uma participação na Rede D’Or São Luiz, a maior rede de hospitais do Brasil, por R$ 2,38 bilhões.

"Temos um programa de desinvestimento de ativos não essenciais”, disse o presidente do conselho do banco, Pérsio Arida, em entrevista na quarta-feira. Entre outros ativos que estão em oferta há uma participação controladora na empresa de estacionamentos Allpark Empreendimentos Participações e Serviços, que poderia ser vendida por R$ 1,5 bilhão, disseram nesta semana duas fontes informadas da situação.

Os yields nos bonds do BTG com vencimento em 2020, vendidos a um cupom de 4 por cento, quase dobraram em 25 de novembro, quando Esteves foi preso, e continuaram subindo até chegar a 20,8 por cento no fim das negociações de quarta-feira. As ações do BTG perderam mais de um terço de seu valor no período, fechando em uma baixa recorde de R$ 20 -- embora a queda tenha diminuído nos dois últimos dias. O índice MSCI Brazil/Financials caiu 11 por cento desde o início da turbulência.

--Com a colaboração de Cristiane Lucchesi.