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O próximo passo tem de começar já

O Brasil firmou o pé no primeiro nível do grau de investimento. Agora, subir mais na escala vai exigir um grande esforço

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.

Com concessão do grau de investimento por parte da Fitch, a segunda entre as três principais agências internacionais de classificação de risco, o Brasil consolida sua saída da turma do fundão da classe - o grupo dos países considerados grau especulativo ou, em bom português, suspeitos de dar calote nas suas dívidas. Começa então uma nova caminhada que irá exigir muito mais do Brasil. Há pela frente, após o BBB- obtido, uma escada com mais nove degraus, até chegar ao topo AAA (da mesma foram, ficaram para trás sete níveis, até o CCC, no sistema de classificação da agência Standard&Poor';s.). Sem querer tirar o mérito da atual conquista - inédita na história nacional -, alguns dados indicam que valeria a pena, assim que terminar a celebração, começar a preparar as novas lições de casa. Isso, claro, se o Brasil almejar um lugar no que é de fato o clube dos países mais respeitados do mundo. Essa elite, que merece nota A, é brindada com o que realmente interessa: um custo de capital bem abaixo do que as empresa brasileiras estão acostumadas a pagar. Na América Latina, só o Chile alcançou tal posição.

A dificuldade de galgar novos degraus na escala fica evidente num estudo realizado pela Standard&Poor';s, a agência que foi a primeira a conceder o selo ao Brasil, em 30 de abril. O levantamento trata do que ocorreu com 13 162 empresas do mundo todo, classificadas e acompanhadas pela agência desde o início de 1981 até o final de 2007. Embora o estudo tenha sido feito com empresas, suas conclusões dão pistas sobre o que também ocorre com países.

A primeira observação diz respeito a mudanças de nota no prazo de um ano após ter obtido o BBB-. O estudo mostra que no primeiro ano, em média, 70,4% das empresas simplesmente mantiveram a classificação. Apenas 8,9% conseguiram progredir mais uma casa e chegar ao BBB. As que alcançaram o primeiro nível do patamar A (A-) somaram menos de 0,5% do conjunto. Ao mesmo tempo, 5,4% andaram no sentido oposto, e caíram de volta para o nível BB+ (no qual o Brasil estava até ser promovido).

Essa análise estatística demonstra que os movimentos costumam ser lentos e arduamente conquistados. Considerando prazos mais longos, a dificuldade de movimentação fica ainda nítida. Em três anos, quase 61% das classificações BBB permaneceram estagnadas. O percentual das que lograram melhorar é apenas  razoável: 9,4% subiram para o nível A. Porém, 7,8% recuaram para BB e quase 22% desceram para classificações piores.

Com mais prazo, mais empresas conseguiram subir degraus. Mas também aumenta o número de quedas. Em cinco anos, 47% ficaram na mesma e 11,5% melhoraram para A, AA e AAA. As demais, quase 42% do total, rolaram ladeira abaixo. Em sete anos, apenas de 37% permaneciam estancadas em BBB. Mas, ainda assim, as que evoluíram para notas melhores foram só 12%. O restante, piorou de classificação.

A conclusão é clara: melhorar a nota é um grande feito. Mas chegar até a turma dos melhores da classe vai exigir do Brasil muito mais do que foi feito até agora. Entenda-se esse esforço medidas como maior redução da dívida em proporção ao Produto Interno Bruto (atualmente a relação é de 41%) e reformas que melhorem a estrutura de produção e o ambiente econômico no país. E todo cuidado é pouco para não manchar a reputação com uma nota pior no próximo boletim.

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