Economia

O novo Banco Central de Temer

Depois de ficar pouco mais de cinco anos na berlinda durante o governo Dilma sob a acusação de sofrer interferência política do ministério da Fazenda e da própria presidente, considerada a real comandante da economia em sua gestão, o Banco Central deverá passar por uma bem-vinda transformação no governo Temer. Sob o comando do economista […]

Ilan Goldfajn: "Eu diria que está cada vez mais evidente que o pior ficou para trás, e a economia estabilizou." (Adriano Machado/Reuters)

Ilan Goldfajn: "Eu diria que está cada vez mais evidente que o pior ficou para trás, e a economia estabilizou." (Adriano Machado/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2016 às 10h40.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h38.

Depois de ficar pouco mais de cinco anos na berlinda durante o governo Dilma sob a acusação de sofrer interferência política do ministério da Fazenda e da própria presidente, considerada a real comandante da economia em sua gestão, o Banco Central deverá passar por uma bem-vinda transformação no governo Temer.

Sob o comando do economista Ilan Goldfajn, aprovado pelo Senado por ampla maioria na terça-feira, e com o aval do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que abrilhantou seu currículo com uma boa administração como presidente do BC no governo Lula, a instituição deverá retomar a autonomia perdida na gestão de Alexandre Tombini, iniciada logo após a posse de Dilma, em 2011. “Mais importante que a troca de comando é a intenção de dar ao BC autonomia na condução da política monetária – algo que não tivemos nos últimos anos”, diz a economista Monica de Bolle, colunista de EXAME Hoje e pesquisadora do Peterson Institute, em Washington, nos Estados Unidos.

Embora Tombini tenha promovido uma guinada radical na atuação do BC a partir da reeleição de Dilma, em 2014, ao praticar uma política monetária ativa para combater a inflação, que roçou os 11% ao ano pelo índice oficial, ele não conseguiu reverter totalmente a percepção negativa que deixara no primeiro mandato. Em uma iniciativa interpretada por muitos analistas como um sinal de franca submissão às crenças heterodoxas de Dilma e de seu fiel escudeiro Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, Tombini capitaneou a derrubada dos juros para 7,25% ao ano em 2012 – considerada artificial pelos analistas.

Ele também gerou muita insegurança no mercado ao demorar a elevar as taxas em 2013, quando a inflação já dava sinais de ebulição, e ao promover excessivas intervenções no câmbio numa tentativa quixotesca de segurar “na unha” a alta dos preços. Para Tombini, a flexibilização da política de metas de inflação – um dos pilares do tripé macroeconômico, composto também pelo equilíbrio fiscal e pela liberdade cambial – e a atribuição de um peso excessivo ao nível de atividade econômica na hora de fixar os juros foram “mortais”.

Sob o comando de Goldfajn, ex-economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor de Política Econômica do BC na gestão de Armínio Fraga, no governo Fernando Henrique, tudo indica que a instituição voltará a concentrar a sua atenção na estabilidade dos preços, e deixará o nível de atividade sem segundo plano. Ontem, Goldfajn afirmou que em sua gestão o banco vai entregar a meta de inflação de 4,5% já este ano.

Em sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, antes de sua aprovação pelo plenário, o próprio Goldfajn, cuja posse ainda não está marcada, revelou que deverá seguir esse caminho ao declarar que “haverá respeito” ao câmbio flutuante, e que o BC deverá “mirar o ponto central” da meta inflacionária. “O importante para as expectativas é que ele não deverá correr riscos ou cair na tentação da heterodoxia”, afirma o economista Carlos Langoni, ex-presidente do BC de 1983 a 1985, no governo Figueiredo. “Os Bancos Centrais são, por definição, instituições conservadoras.”

No momento, porém, diante do desequilíbrio monumental das contas públicas, estimado em 170,5 bilhões de reais pelo governo Temer em 2016, o que realmente fará a diferença será a política fiscal — e não a monetária. “Hoje, o pilar que está faltando no tripé macroeconômico é o fiscal, que precisa de aval do Congresso e de apoio da sociedade para ser resgatado”, diz Monica de Bolle. Sem isso, é difícil pensar numa queda sustentável dos juros.

Na visão de Langoni, só haverá espaço para a redução gradual das taxas a partir do último trimestre de 2016 ou do início do ano que vem, se o ajuste fiscal anunciado por Meirelles for mesmo implementado. “Ficou claro nos últimos anos que, para a política monetária funcionar de forma eficiente, ela precisa da ancoragem fiscal”, diz. Para tornar o cenário mais carregado, há ainda o esperado aumento dos juros americanos no horizonte. Isso deverá “colocar pressão sobre o real”, segundo Langoni, limitando ainda mais a margem de manobra para a política monetária, e reforçando a necessidade de o país buscar o equilíbrio fiscal.

(José Fucs)

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