Centro de São Paulo: com a reabertura do comércio depois do primeiro pico de contaminação, aglomerações foram registradas (Amanda Perobelli/Reuters)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 1 de setembro de 2023 às 10h19.
Última atualização em 1 de setembro de 2023 às 10h28.
Mais uma vez o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu. No segundo trimestre de 2023, o consenso de mercado apontava para uma alta de 0,3% e o resultado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o triplo, um crescimento de 0,9%. Como consequência, uma onda de revisões positivas para o desempenho da economia em 2023 e 2024 será feita pelo mercado. O Ministério da Fazenda, por exemplo, que projetava expansão de 2,5% no ano, já espera elevação de 3,1% da atividade econômica no ano.
Entre os diversos componentes do PIB, agronegócio, mais uma vez, deu sua cota de contribuição, ao cair menos que o esperado. No mercado, analistas projetavam uma queda de 5,5% (frente à significativa expansão no primeiro trimestre) e a retração foi de 0,9%. Além disso, o consumo das famílias, com expansão de 0,9%, e o consumo do governo, com crescimento de 0,7%, foram importante para a geração de riqueza no país.
"Do lado positivo, o mercado de trabalho vem melhorando constantemente, há o crescimento do crédito e várias medidas governamentais como incentivos fiscais, vide redução de preços de automóveis, e os reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente o Bolsa Família. Por outro lado, os juros seguem altos, o que dificulta o consumo de bens duráveis, e as famílias seguem endividadas porque, apesar do programa de renegociação de dívidas, elas levam um tempo para se recuperar", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Impulsionar a economia por meio do consumo das famílias é uma prática dos governos petistas e deu certo nos dois primeiros mandatos de Lula, sobretudo depois da crise global de 2008. Mas vale lembrar que essa política funcionou como uma medida contracíclica e não deu certo durante durante a gestão Dilma Rousseff.
"O principal destaque, na minha visão, fica com o consumo das famílias, que cresceu 0,9%. Esse crescimento se deu em virtude do aumento da Bolsa Família, do reajuste do salário mínimo, bem em linha com o cronograma atual do presidente, de uma parte mais assistencialista, então o consumo das famílias aumentou", afirmou Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.
Além disso, o consumo do governo em alta traz pressões inflacionárias e a política monetária não tem pontência para frear esse processo. Por isso, é essencial que o Executivo fique em alerta para não ser uma fonte de pressão adicional sobre os preços.
O resultado positivo do segundo trimestre traz otimismo para o mercado e para o governo, mas ainda não reflete um crescimento robusto, estrutural e pautado pela entrada significativa de investimentos. A avaliação é do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
"Em linhas gerais o número traz otimismo por si, mas está ainda longe de denotar um crescimento estruturalmente robusto da economia, visto que teve impulso altamente associado a itens básicos, enquanto os investimentos seguem deprimidos", afirmou.
Sanchez e o economista Guilherme Sousa, também da Ativa, ainda alertam para os riscos de um "obreaquecimento da atividade", com possíveis "repiques inflacionários".
"Notadamente, o sobreaquecimento da atividade reforça nossa preocupação com possíveis repiques inflacionários, a redução da sensibilidade da economia à restrição de política monetária e, consequentemente, a estimativa de que o fim de ciclo de cortes pode ser interrompido em período menos prolongado, a 10,50%, que julgamos ser atingido no segundo trimestre de 2024", afirmaram.