Economia

Nova classe média não é efeito de desigualdade econômica

Apesar da ascensão, nova classe média permanece com dificuldades para ter oferta de educação de boa qualidade, segundo vice-presidente de Conselho de Juventude


	Comércio: segundo institutos, 41% dos moradores da nova classe média têm conta bancária; 37% têm caderneta de poupança e 35% têm cartão de crédito
 (Germano Lüders/EXAME.com)

Comércio: segundo institutos, 41% dos moradores da nova classe média têm conta bancária; 37% têm caderneta de poupança e 35% têm cartão de crédito (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2013 às 11h49.

Brasília – A chamada nova classe média brasileira, estrato social de famílias com faixa de renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 que na última década entrou no mercado consumidor de bens duráveis, não é efeito de uma política de redistribuição de renda e de queda da desigualdade socioeconômica no Brasil.

A informação é de especialistas que participarão do programa 3 a 1, da TV Brasil. “Há um abuso do conceito de classe média”, assinala o sociólogo Pedro Demo, autor de mais de 40 livros sobre pobreza, política social e educação. O programa vai ao ar nesta quarta-feira (6), às 20h.

Para o pesquisador Fernando Gaiger, especialista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em pobreza e consumo, a expressão “nova classe média” é “laudatória” [elogiosa] de uma configuração social onde o pobre consome mais, graças às facilidades de crédito, mas mantém-se ainda muito longe dos ricos. “Isso não significa que o mercado [consumidor] desconcentrou-se.

A distância entre o celular que eles [os pobres] têm e o celular que os ricos têm permanece”, disse ao reconhecer que antes a distância era marcada por “ter ou não ter” bens como celular, computador e televisão de tela plana.

Pesquisa divulgada na semana passada pelos institutos Data Popular e Data Favela verificou que a proporção de lares nas comunidades pobres das regiões metropolitanas com alguns bens duráveis de consumo é maior que na média nacional.

O aparelho de televisão de tela plana, por exemplo, está em 46% dos lares das favelas, enquanto o número é 35% no Brasil como um todo.

A máquina de lavar está presente em 69% dos lares em favelas e 49% no país. O mesmo ocorre com o micro-ondas: 55% nos domicílios de favela e 35% no total de residências do país.


Segundo os dois institutos, 41% dos moradores dessas comunidades têm conta bancária; 37% têm caderneta de poupança; 35% têm cartão de crédito; e 53% têm poupança ou conta-corrente.

O Data Popular e o Data Favela diagnosticaram, ainda, que 18% desses moradores já usaram a internet para acessar o banco e 52% dizem estar conectados na internet.

Entre os jovens de 16 a 29 anos, essa taxa chega a 78%, maior do que a média geral nacional e equivalente à proporção entre a mesma faixa etária no resto do país.

Na opinião de Ângela Guimarães, vice-presidente do Conselho Nacional de Juventude, o maior acesso ao mercado consumidor não melhorou as condições de vida e de moradia de grande parte da população, inclusive dos jovens que residem em lugares onde há “pouco ou quase nenhum equipamento público”.

Segundo ela, apesar da ascensão, a nova classe média permanece com dificuldades para ter oferta de educação de boa qualidade e qualificação profissional, segurança pública, mobilidade urbana e acesso à cultura.

Para Ângela Guimarães, a inexistência de equipamentos públicos “congela [os moradores de periferia] em um circuito básico”. Nesses espaços urbanos, a atuação do Estado acaba por reproduzir a desigualdade.

“A tradição é oferecer coisa pobre para pobre”, acrescentou Pedro Demo. Se ocorre melhoria, acontece um “processo de expulsão dos pobres”, que vendem imóvel recentemente valorizado, comentou Fernando Gaiger ao assinalar que no Brasil ainda “falta democratizar o espaço urbano”.

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