Economia

Os perigos no caminho de Temer

A reação positiva do mercado ao afastamento de Dilma Rousseff não esconde a cautela dos investidores


	O presidente interino Michel Temer: Lava Jato e prováveis resistências às reformas são alguns destes desafios
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

O presidente interino Michel Temer: Lava Jato e prováveis resistências às reformas são alguns destes desafios (Ueslei Marcelino/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2016 às 22h33.

A reação positiva do mercado ao afastamento de Dilma Rousseff, que começou a ganhar corpo em janeiro com a Lava Jato e se acelerou nesta semana às vésperas da votação do Senado, não esconde a cautela dos investidores com riscos que terão de ser enfrentados por Michel Temer, que assume hoje como presidente em exercício.

A Lava Jato e prováveis resistências às reformas são alguns destes desafios. Veja os cinco principais:

1) Lava Jato - Algoz de Dilma, a investigação comandada pelo juiz Sérgio Moro é apontada pela maioria dos analistas entre os principais riscos contra Temer.

A operação já teve em suas listas de citados nomes que agora estão confirmados no novo ministério, como Romero Jucá (Planejamento) e Henrique Alves (Turismo), além de Renan Calheiros, presidente do Senado, e Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara - os quatro peemedebistas como Temer.

“A Lava Jato é imprevisível. Se novas denúncias afetarem pessoas do novo governo, Temer pode se enfraquecer politicamente, tornando mais difícil aprovar as reformas no Congresso”, diz Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management.

2) Resistência a reformas - O ajuste fiscal necessário para estabilizar a dívida deve exigir reformas constitucionais, como a da Previdência e a mudança da fórmula do reajuste do mínimo, temas que costumam enfrentar resistência política.

“O que me preocupa é se Temer terá de fato o apoio do Congresso para as medidas impopulares que deve adotar. A crise econômica, política e agora social irá mitigar a agenda de reformas num Congresso com um olho em Brasília e outro nas eleições municipais de outubro”, diz em relatório André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Weeks, da Garde, explica a visão mais otimista do mercado pela esperada “relação mais amistosa” de Temer com o Congresso, comparada ao estilo mais distante de Dilma.

3) Volta de Dilma - Este risco passou a ser considerado baixíssimo pelo mercado depois de o pedido de impeachment ser aceito pelo Senado com 55 votos. Tecnicamente, porém, só desaparece se Dilma renunciar, o que ela segue descartando.

Em tese, bastaria a Dilma reverter dois votos até a votação final, esperada para 180 dias, para o placar cair para menos do que os 2/3 exigidos para a aprovação final, o equivalente a 54 votos.

O risco não é descartado, mas a expectativa do mercado é que a presidente não volte ao poder. “Para reverter este processo, só se o governo Temer for desastroso, o que não parece ser o caso diante das notícias sobre a equipe que ele está montando e as medidas que estão preparando”, diz Weeks.

4) Risco Temer - Embora o otimismo com o governo Temer prevaleça no mercado, a própria capacidade de o presidente entregar o que tem sinalizado também é considerada um risco.

“Localmente, o risco principal é de o governo Temer priorizar agendas menos importantes; ou seja, uma agenda econômica e política fraca, que não ataque ou não dê sinais de que a questão fiscal possa começar a ser resolvida”, diz Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim. Este risco, contudo, também representa oportunidade para o novo governo.

“Se o governo começar a arrumar as contas públicas, gera maior confiança no país a longo prazo”, diz o economista.

5) China - O crescimento anual chinês acima de 10% ao ano, que ajudou a embalar o crescimento brasileiro no governo Lula, é coisa do passado.

O maior parceiro comercial do Brasil vem crescendo em torno de 7% nos últimos anos, uma taxa ainda alta para os padrões mundiais, mas insuficiente para impulsionar os preços das commodities que o Brasil exporta. O receio do mercado é que esta taxa de expansão esfrie ainda mais. Ultimamente, sinais de estabilização do crescimento chinês, somados ao bom desempenho da economia americana, trouxeram alívio e ajudaram a sustentar os preços das moedas emergentes e commodities, o que favoreceu o Brasil.

“É preciso monitorar se a China não voltará a divulgar dados negativos”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset Management.

6) Juros nos EUA - Desde que elevou os juros em dezembro para entre 0,25% e 0,50% ao ano, o Fed não se moveu mais, assegurando a continuidade de uma taxa ainda muito baixa, o que traz alívio para países com maior custo de captação de recursos, como o Brasil.

O BC americano segue sinalizando que a altas dos juros, quando for retomada, será gradual, pelo fato de o crescimento econômico no país não pressionar ainda a inflação.

É praticamente consensual, porém, que em algum momento a alta será retomada, o que pode gerar volatilidade nos mercados. O momento atual de juros externos ainda baixos é uma “janela de oportunidade” que Temer não pode perder, acelerando as reformas a ganhando credibilidade para afastar qualquer chance de Dilma retornar, diz Portella.

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffGovernoImpeachmentMDB – Movimento Democrático BrasileiroMichel TemerPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos TrabalhadoresSenado

Mais de Economia

China lidera mercado logístico global pelo nono ano consecutivo

China lidera mercado logístico global pelo nono ano consecutivo

Indústria de alta tecnologia amplia sua produção pela primeira vez desde 2018

Reforma tributária: videocast debate os efeitos da regulamentação para o agronegócio