Ilan Goldfajn: mercado ainda vê cortes no segundo semestre (Ueslei Marcelino / Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2016 às 21h39.
O novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, corrigiu parcialmente a visão dos investidores sobre a possibilidade de o BC retomar o corte dos juros nos próximos meses.
O mercado ainda vê cortes no segundo semestre, mas colocou mais fichas na aposta de que o alívio começará em outubro e reduziu a expectativa de redução em agosto, majoritária até ontem. Há quem pense que talvez nem haja corte de juros em 2016.
Basicamente, o mercado reage a duas informações contidas no discurso de Ilan e no relatório de inflação divulgado hoje pelo BC: 1) o BC mantém a mira no centro da meta de inflação de 4,5% em 2017, sem adotar uma meta ajustada nem estender o horizonte de alcance, como o mercado especulou após discurso do próprio Ilan no Senado sobre uma trajetória de convergência “desafiadora e crível”. Hoje, ao falar no BC, Ilan rejeitou essa leitura; 2) o BC, no relatório, projetou IPCA em 4,7% em 2017, ainda acima do centro da meta, contrariando a ata do último Copom comandado por Alexandre Tombini, que cravou a inflação em 4,5%.
Ou seja, o BC de Ilan ainda vê a inflação acima do seu objetivo.
A fala de Ilan sobre a inflação ter de cair para o centro da meta, a rigor, não mostra mudança em relação ao discurso do seu antecessor. Tombini também prometia inflação no centro da meta.
O que mudou, segundo um operador de renda fixa do Rio de Janeiro, tem mais a ver com credibilidade: o mercado simplesmente tem mais confiança que o BC, sob o comando de Ilan, entregará o resultado prometido. A equipe de Tombini também mirava a meta, mas nunca entregou.
Com o Ilan, o mercado acha que o BC vai cumprir, diz o operador, que falou sob condição de anonimato por não ser autorizado a falar publicamente.
Carlos Kawall, economista do Safra e ex-secretário do Tesouro, vê um BC mais comprometido com a inflação no centro da meta. “Pelos modelos do BC, parecia que antiga equipe calibrava a inflação para 5,5%”. Ou seja, apesar do discurso oficial sobre inflação na meta, a política monetária parecia mirar na verdade um valor maior do que o centro. “Hoje o compromisso de Ilan é mirar os 4,5%", diz Kawall.
O discurso de Ilan “foi duro e vai desapontar muita gente que contava com a história de que o BC não iria perseguir os 4,5% no ano que vem”, diz o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman & Associados. Schwartsman, que criticou nos últimos anos a diretoria anterior do BC por cortar juros mesmo quando a inflação estava acima da meta, vê um BC mais cauteloso com a política monetária.
“O discurso está indicando que não vai cortar juros já e que não será tão rápido e na magnitude esperada pelo mercado”.