Nota de Tombini contradiz comunicação anterior do BC
O mercado financeiro se sentiu traído pelo Banco Central, depois da divulgação de nota com comentários do presidente sobre revisões do FMI sobre o PIB
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 16h47.
São Paulo e Brasília - O mercado financeiro se sentiu traído pelo Banco Central , depois da divulgação, nesta véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic, da nota com comentários do presidente Alexandre Tombini a respeito das revisões feitas pelo Fundo Monetário Internacional ( FMI ) para o PIB brasileiro.
Para os economistas, a autoridade monetária vinha até então, por meio de seus documentos e discursos, direcionando as expectativas do mercado para uma elevação da taxa básica em 0,5 ponto porcentual, ao ressaltar seu compromisso com a trajetória de convergência da inflação para a meta central de 4,5% até 2017 e o objetivo de evitar que a inflação fechasse 2016 acima do teto de 6,5%, como ocorreu em 2015.
Mas a nota de hoje deixou a impressão de que o BC, pressionado por demais membros do governo para dar uma alta menor nos juros, ou nem aumentar, aproveitou o relatório do FMI, que não fez nada além de mostrar o que os números da atividade - e o próprio mercado - vêm atestando há meses, para corrigir a rota das expectativas. O saldo é um impacto fortíssimo na já abalada credibilidade do BC.
Segundo apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o governo trabalha com um alta de 0,25 ponto porcentual na taxa. A presidente Dilma Rousseff conversou na segunda-feira, 18, com Tombini, em reunião que não constou da agenda oficial.
Segundo a nota emitida nesta manhã, Tombini avalia que as mudanças nas projeções do FMI para o PIB do Brasil foram "significativas". Ele também afirmou na nota que "todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado". De acordo com relatório publicado pelo FMI, a projeção de queda do PIB brasileiro em 2016 passou de 1% para 3,5%. Para 2017, saiu de uma alta de 2,3% para zero.
Nesse contexto, o fato de o BC publicar nota desse tipo na véspera da decisão gerou revolta e indignação no mercado. "Inacreditável o BC fazer isso de véspera. Absolutamente injustificável usar os dados do FMI para isso quando o mercado inteiro já está com o cenário consolidado muito ruim para este ano e o ano que vem", disse Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Aparentemente descobrir que a recessão continua este ano pelo FMI realmente só joga mais uma pá de cal na credibilidade do BC", completou Vale.
Dois ex-integrantes do Copom se disseram "perplexos" com a divulgação da nota, para quem uma postura dessas não tem par na história do BC. "É contraditório com toda a linha apresentada desde o final do ano passado. Ou o BC não passou os recados certos ou teve de mudar de posição de última hora, o que é muito pior", avaliou um deles. "Todos os sinais do BC eram mais hawkishes (inclinado ao aperto), apesar da recessão. Não entendemos o motivo de Tombini passar um recado tão dovish (suave) no meio do caminho", disse outro ex-membro.
Um economista do mercado financeiro admitiu que ficou "bem decepcionado" com a atitude do Banco Central, por ser diferente dos comunicados anteriores. "Recentemente a Dilma falou que o BC era autônomo, mas não independente. Na constituição é isso mesmo, mas dá um sinal ruim para o mercado", disse. Segundo o economista, outro ponto "esquisito" que o mercado levou em conta foi a reunião ontem entre Tombini e a presidente Dilma, que não estava agendada. "Por isso acho que o mercado agiu tão rápido", afirmou.
São Paulo e Brasília - O mercado financeiro se sentiu traído pelo Banco Central , depois da divulgação, nesta véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic, da nota com comentários do presidente Alexandre Tombini a respeito das revisões feitas pelo Fundo Monetário Internacional ( FMI ) para o PIB brasileiro.
Para os economistas, a autoridade monetária vinha até então, por meio de seus documentos e discursos, direcionando as expectativas do mercado para uma elevação da taxa básica em 0,5 ponto porcentual, ao ressaltar seu compromisso com a trajetória de convergência da inflação para a meta central de 4,5% até 2017 e o objetivo de evitar que a inflação fechasse 2016 acima do teto de 6,5%, como ocorreu em 2015.
Mas a nota de hoje deixou a impressão de que o BC, pressionado por demais membros do governo para dar uma alta menor nos juros, ou nem aumentar, aproveitou o relatório do FMI, que não fez nada além de mostrar o que os números da atividade - e o próprio mercado - vêm atestando há meses, para corrigir a rota das expectativas. O saldo é um impacto fortíssimo na já abalada credibilidade do BC.
Segundo apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o governo trabalha com um alta de 0,25 ponto porcentual na taxa. A presidente Dilma Rousseff conversou na segunda-feira, 18, com Tombini, em reunião que não constou da agenda oficial.
Segundo a nota emitida nesta manhã, Tombini avalia que as mudanças nas projeções do FMI para o PIB do Brasil foram "significativas". Ele também afirmou na nota que "todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado". De acordo com relatório publicado pelo FMI, a projeção de queda do PIB brasileiro em 2016 passou de 1% para 3,5%. Para 2017, saiu de uma alta de 2,3% para zero.
Nesse contexto, o fato de o BC publicar nota desse tipo na véspera da decisão gerou revolta e indignação no mercado. "Inacreditável o BC fazer isso de véspera. Absolutamente injustificável usar os dados do FMI para isso quando o mercado inteiro já está com o cenário consolidado muito ruim para este ano e o ano que vem", disse Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Aparentemente descobrir que a recessão continua este ano pelo FMI realmente só joga mais uma pá de cal na credibilidade do BC", completou Vale.
Dois ex-integrantes do Copom se disseram "perplexos" com a divulgação da nota, para quem uma postura dessas não tem par na história do BC. "É contraditório com toda a linha apresentada desde o final do ano passado. Ou o BC não passou os recados certos ou teve de mudar de posição de última hora, o que é muito pior", avaliou um deles. "Todos os sinais do BC eram mais hawkishes (inclinado ao aperto), apesar da recessão. Não entendemos o motivo de Tombini passar um recado tão dovish (suave) no meio do caminho", disse outro ex-membro.
Um economista do mercado financeiro admitiu que ficou "bem decepcionado" com a atitude do Banco Central, por ser diferente dos comunicados anteriores. "Recentemente a Dilma falou que o BC era autônomo, mas não independente. Na constituição é isso mesmo, mas dá um sinal ruim para o mercado", disse. Segundo o economista, outro ponto "esquisito" que o mercado levou em conta foi a reunião ontem entre Tombini e a presidente Dilma, que não estava agendada. "Por isso acho que o mercado agiu tão rápido", afirmou.