Economia

Nota de crédito do Brasil foi elevada. Mas por que isso importa?

Segundo as agências de risco, a nova classificação ainda indica um "grau especulativo"— o que coloca o Brasil como um país menos vulnerável ao risco no curto prazo

Fitch Ratings (wolterfoto/ullstein bild/Getty Images)

Fitch Ratings (wolterfoto/ullstein bild/Getty Images)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 26 de julho de 2023 às 12h13.

Última atualização em 26 de julho de 2023 às 13h53.

A agência de classificação de risco Fitch elevou nesta quarta-feira, 26, a nota de crédito do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável. A nota do Brasil foi rebaixada para o patamar BB- em 2018, em meio à crise política e fiscal e pela não aprovação de reformas, como a da Previdência. Segundo as agências de risco, a nova classificação ainda indica um "grau especulativo"— o que coloca o Brasil como um país menos vulnerável ao risco no curto prazo, mas com incertezas em relação a condições financeiras e econômicas adversas.

A Fitch é a segunda agência de risco que muda a nota de crédito do Brasil nos últimos meses. Em junho, a S&P Global Ratings alterou a perspectiva de rating (nota de crédito) do Brasil de estável para positiva.

De acordo com a agência, a elevação "reflete desempenho macroeconômico e fiscal acima do esperado em meio a choques sucessivos nos últimos anos, políticas proativas e reformas que apoiaram isso e a expectativa da Fitch de que o novo governo trabalhará para melhorias adicionais".

A decisão foi comemorada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, que se comprometeu em seguir com a agenda de reformas. Mas, afinal, o que significa essa elevação da nota de crédito brasileira? Como isso afeta a economia brasileira e a capacidade do país de atrair investimentos?

Por que a elevação da nota de crédito é importante para o Brasil?

As três principais agências de classificação de risco do mundo — S&P Global, Fitch e Moody's — utilizam um sistema de rating materializado na forma de letras que variam de AAA (a melhor nota possível) a C, ou D, quando há inadimplência.

Em tese, essas classificações refletem a saúde econômica dos países e dão um carimbo de grau de investimento e bom pagador.

Para classificar um país, por exemplo, as agências avaliam crescimento, dívida, déficit, gastos, arrecadação de impostos, entre outros critérios. Com base nisso, estabelecem um diagnóstico que orienta os investidores na hora que eles vão decidir aplicar o seu dinheiro em alguém país.

A decisão da Fitch informa para os investidores que o desempenho macroeconômico e fiscal brasileiro está melhorando. O país está a dois degraus do grau de investimento na escala da agência, o que atrairá aportes, pois é entendido como um porto seguro para o investidor.

No curto prazo, a elevação tende a contribuir mais para a atual trajetória de queda do dólar frente ao real. No médio e longo prazo, à medida que a nota sobe, a tendência é de atrair mais investimentos para o Brasil, o que melhora o desempenho da economia e a geração de empregos. A agência projeta crescimento do PIB real em 2,3% em 2023 (antes se esperava 0,7%) e a convergência para um crescimento estrutural de 2% ao ano no médio prazo.

Segundo economista Sergio Vale, da MB Associados, a nota é um passo importante para economia e ajuda a melhorar o cenário de médio e longo prazo. "A decisão da Fitch reflete as últimas reformas encaminhadas, especialmente o arcabouço fiscal, a manutenção das metas de inflação e a reforma tributária. Ajudam a melhorar a perspectiva de médio em longo prazo em que pese as dificuldades para se alcançar o objetivo final, especialmente no caso do arcabouço, no qual ainda haverá forte crescimento da dívida", diz Vale. "É um passo importante, mas para voltarmos a  Investment Grade serão necessárias medidas muito mais realistas no fiscal, o que deve acontecer apenas talvez em um próximo governo."

O Brasil já recebeu o grau de investimento?

Em 2008, o Brasil ganhou o grau de investimento pela primeira vez em sua história, conferido pela própria S&P. A decisão foi seguida pelas outras duas grandes agências: Fitch, no mês seguinte, e Moody’s, em setembro de 2009.

Quando o Brasil perdeu o grau de investimento?

A Fitch retirou o grau de investimento do Brasil em 2015 em meio a um contexto de grave crise econômica. A S&P fez o mesmo. A Moody´s retirou o grau de investimento em fevereiro de 2016.

O que é grau especulativo?

O grau especulativo é dado pelas agências às empresas e governos que apresentam um risco maior de dar calote. Países e instituições que recebem essa nota não são considerados seguros para os investidores. Devidos aos riscos elevados, os investidores exigem maiores remunerações para aplicarem seu dinheiro. O que dificulta a atração de investimento.

Quais países têm classificação AAA?

Apenas um número reduzido de países tem a melhor pontuação possível nas grandes agências de risco:

  • Austrália,
  • Alemanha,
  • Canadá,
  • Dinamarca,
  • Estados Unidos,
  • Holanda,
  • Luxemburgo,
  • Noruega,
  • Suécia,
  • Singapura,
  • Suíça
Acompanhe tudo sobre:Fitcheconomia-brasileira

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE