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Indústria parada em outubro; dúvida é se 4º trimestre continuará assim

Economista acredita, com base em indicadores antecedentes como produção de veículos, que novembro trará forte expansão

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h55.

Outubro costuma ser o auge da produção industrial, por causa dos preparativos do comércio, ansioso para faturar o máximo possível no período natalino. Para não tomar como tendência um comportamento localizado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) expurga o repique próprio dessa época do ano o que tecnicamente é chamado de "dessazonalizar os dados". O resultado da conta foi publicado nesta quarta-feira (7/11): a produção industrial em outubro ficou praticamente na mesma quando comparada a setembro. Na realidade, cresceu 0,1%, descontados os efeitos sazonais. Em setembro, havia sido apurado um recuo de 2,3% ante agosto.

Na comparação contra igual mês do ano anterior, o resultado de outubro (pequena alta de 0,4%) e setembro (queda de 0,1%) foram os resultados mais baixos desde fins de 2003.

Para Braulio Lima Borges, economista da LCA Consultores, mesmo com tanta má notícia não se deve tomar outubro como uma sentença de morte para todo o quarto trimestre. "Os indicadores antecedentes, como a produção de veículos, apontam para alta muito forte da produção em novembro", afirma. A LCA estima uma alta de 3% a 3,5%, dessazonalizada, da produção de novembro sobre outubro. "Isso recupera praticamente todas as perdas anteriores."

Monica Baer, economista da consultoria MB Associados, não é tão otimista. "Do jeito que vem, a indústria vai fechar o ano com 3% de expansão", diz Monica Baer, economista da consultoria MB Associados. "No ano passado ela cresceu 8,3%." Desdobrando os dados, verifica-se que a indústria extrativa mineral (petróleo e minério de ferro, principalmente) vem crescendo 10% (taxa anualizada), enquanto a indústria de transformação, a que mais gera empregos, continua refém de um ritmo fraco.

"A sensação é que a indústria está parada, com exceção de alguns setores que saíram-se bem, relacionados à exportação", diz a economista. Entre os que contrariaram a lógica da estagnação, estão máquinas, aparelhos e materiais elétricos (alta de 2,5%), por conta de um forte movimento de embarque de turbinas elétricas para o mercado externo.

Quando se compara o acumulado de janeiro a outubro de 2005 com o mesmo período de 2004, a alta da produção industrial é de 3,4%. O acumulado nos últimos doze meses bate em 4,1%, mais fraco do que o acumulado até setembro, de 4,4% e muito aquém dos 6,7% alcançados no final do primeiro semestre.

Nem juros, nem política

As duas molas do crescimento brasileiro estão enferrujando. Exportações e consumo interno de bens duráveis, lastreado por crédito, perdem impulso e colocam em dúvida de onde o país vai tirar alavancas para crescer em 2006. "Os dados de exportação quanto a valor vão muito bem, obrigado", diz Monica, da MB. "Mas em quantum [volumes embarcados] já é nítida a desaceleração." Quanto ao financiamento do consumo, é certo que o próximo ano será a inevitável hora em que as limitações de renda vão sufocar novas tomadas de crédito.

Ainda que seja impossível discernir o peso da crise política, dos juros altos e do câmbio valorizado sobre o desempenho da economia, Monica coloca o real forte como o principal problema. "Ninguém poderia imaginar que o câmbio cairia abaixo de 2,80 [reais por dólar] em fevereiro", diz. "Quando o câmbio começou a derrapar abaixo desse patamar, os empresários começaram a engavetar investimentos." Na comparação dos meses de outubro deste ano e do ano passado, bens de capital para fins industriais e bens de capital agrícolas amargaram quedas, respectivamente, de 10% e 42,2%.

A alta do real não pode ser totalmente dissociada da alta dos juros. Além de, junto com a alta liquidez internacional, tonificar o real e fragilizar o dólar, o juro alto afeta planos de investimento, não diretamente pelo custo de financiamento, mas pela incerteza sobre os efeitos sobre consumo interno. A crise política, é claro, não ajuda, mas é mais um pretexto do governo do que outra coisa. "Não vi empresário dizendo que engavetou projeto por causa da política", diz Monica. "Já não havia muita esperança de que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) deslanchassem, e não sei se duas ou três PPPs mudariam esse quadro."

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