José Dirceu é cassado pela Câmara dos Deputados
Por 293 votos a 192, ex-ministro da Casa Civil e antigo homem forte do presidente Lula tem seus direitos políticos suspensos até 2015
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h25.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi cassado pela Câmara dos Deputados no final da noite desta quarta-feira (30/11). Não houve nenhuma manifestação de parlamentares do governo ou da oposição quando, por volta da meia-noite, foram atingidos os 257 votos necessários para suspender seus direitos políticos. O resultado final foi 293 votos a favor da cassação e 192 contrários, com oito abstenções, um voto nulo e um branco. Dirceu é o primeiro parlamentar a ser cassado na história do Partido dos Trabalhadores e o segundo deputado da Câmara a cair desde a eclosão da crise política foi precedido por Roberto Jefferson do PTB fluminense.
Em um discurso de cerca de 40 minutos, Dirceu afirmou ser vítima de um "linchamento político" e apelou para que a Câmara não se transformasse em uma "casa de degola". Lembrou seu passado de militante de esquerda, perseguido e exilado pela ditadura militar. Afirmou que recorreu à Justiça não para evitar que fosse julgado, mas para garantir que o processo respeitasse os ritos previstos. Por fim, negou que houvesse provas materiais das denúncias de que chefiou um esquema de pagamento de propinas a parlamentares em troca de votos o chamado mensalão.
Dirceu teve seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar e ficará inelegível até 2015, quando contará 70 anos de idade. Pela lei, os direitos políticos são suspensos por oito anos. Mas a contagem só começa a valer a partir da próxima legislatura, isto é, a partir de 1º de janeiro de 2007. Assim, o ex-deputado só poderá voltar à vida política nas eleições municipais de outubro de 2016, ou no ano seguinte, quando poderia concorrer ao Congresso.
Segundo os analistas políticos, a cassação de Dirceu era desejada por todos. O governo, embora tenha se empenhado nos últimos dias para defendê-lo, precisava "cortar na carne" expressão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou durante a crise para manter uma imagem de moralidade. Já a Câmara, por instinto de sobrevivência, via a queda de Dirceu como um modo de evitar maiores desgastes frente à opinião pública.
Com a saída de Dirceu, a crise política tende a se restringir, a partir de agora, ao prosseguimento das análises de outras eventuais cassações. A menos de um ano das eleições presidenciais, analistas acreditam que é improvável que a oposição engrosse o coro pelo impeachment de Lula, já que o presidente está cada vez mais fraco diante da opinião pública, sofre com um índice de rejeição de 47% e terá bastante dificuldade em vencer o segundo turno. Também é incerto que os oposicionistas ataquem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, enfraquecido pelas denúncias de corrupção durante sua gestão em Ribeirão Preto e pela retração da economia no terceiro trimestre. A oposição teme ser culpada pela crise econômica gerada pela eventual queda do ministro. Além disso, com chances reais de assumir o poder em 2006, não deseja encontrar o país em dificuldades para se desenvolver.