Economia

MP 1303: Haddad espera que acordo seja cumprido e diz que impasse é político

O ministro da Fazenda diz que há um movimento que quer restringir o Orçamento para prejudicar o governo

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 8 de outubro de 2025 às 17h42.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na tarde desta quarta-feira, 8, que espera que o acordo em relação à votação da Medida Provisória (MP) 1303, que substitui o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), seja cumprido pelo Congresso, mas destacou que a questão não é mais sobre o conteúdo do texto, e sim de natureza política.

"Acreditamos que, no momento da decisão, o acordo firmado terá peso. Não foram apenas uma ou duas reuniões, mas muitas, para demonstrar a qualidade do acordo, tanto na ocasião de um mês atrás quanto nas últimas semanas," disse o ministro, em frente ao Ministério da Fazenda.

"O texto, resultado de um acordo, exigiu concessões mútuas. Mas é um texto sóbrio e leva o país para um fechamento de ciclo com sustentabilidade social e econômica," afirmou.

Haddad disse que tudo sobre o mérito do texto foi pactuado com os parlamentares, mas que a questão atual não tem relação com possíveis mudanças. O ministro explicou que, ao perguntar qual é a questão, não recebe resposta, o que, em sua avaliação, demonstra a natureza política do movimento contra o texto.

"Nós só queremos que o acordo seja cumprido. Estamos fazendo todo o esforço para que os parlamentares ofereçam as condições. Penso que aqueles que querem desorganizar o Orçamento, com fim eleitoral, vão se equivocar novamente. Se tivermos um resultado adverso, eu voltarei à mesa com o presidente," disse.

O chefe da Fazenda afirmou que o movimento atual é semelhante ao realizado antes das eleições de 2022, mas com objetivos opostos. Segundo ele, o então governo Jair Bolsonaro fez acordos com o Congresso para votar diversas medidas e realizar "uma farra de gastos" antes do pleito presidencial, tentando garantir a reeleição. Haddad acredita que agora querem restringir o Orçamento para prejudicar o governo.

"Essa postura prejudica o Brasil. Estamos aqui para ajudar o Brasil, com foco no equilíbrio social e econômico. Esse é o equilíbrio que estamos há três anos perseguindo e vamos continuar perseguindo," afirmou.

Sobre o dia após a votação, Haddad disse que, se o acordo não for cumprido, a equipe econômica voltará à mesa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para apresentar um cardápio de medidas para garantir o equilíbrio fiscal.

"Não quero entrar nesse cenário agora, [caso a MP não seja aprovada]. Quero reivindicar o acordo feito, que é justo. Não penaliza o trabalho, não penaliza 99% da população, nem o 1%. É apenas um chamamento ao 1% para responsabilidade," disse.

A medida é essencial para o governo atingir a meta fiscal de 2026. A previsão é de uma arrecadação entre R$ 15 bilhões e R$ 17 bilhões no ano que vem. Inicialmente, a MP previa R$ 20,9 bilhões em arrecadação e R$ 10,7 bilhões em cortes de gastos para 2026.

O que prevê a MP?

O relator Carlos Zarattini (PT-SP) retirou o aumento da tributação sobre apostas esportivas, que subiria de 12% para 18%, além de manter a isenção do imposto de renda para LCI e LCA, que representa uma perda de R$ 4,3 bilhões em receitas.

Para compensar, o texto cria o Regime Especial de Regularização de Bens Cambial e Tributária (RERCT Litígio Zero Bets), que permite a declaração voluntária de recursos não informados ao Fisco. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a medida deve gerar R$ 5 bilhões, com cobrança de 15% de imposto e multa de 100%. O prazo de adesão será de 90 dias a partir da publicação da lei.

Durante a votação na comissão mista, Zarattini acatou emenda do senador Eduardo Braga (MDB-AM), que equiparou a alíquota de IR sobre aplicações financeiras e Juros sobre Capital Próprio (JCP) em 18%.

O relatório também altera a CSLL das instituições financeiras, elevando as alíquotas para 15% nas fintechs menores e 20% nas maiores. Há ainda medidas de restrição a compensações tributárias consideradas indevidas.

Essas regras valem a partir de 2025, enquanto as mudanças no IR começam em 2026. O Ministério da Fazenda estima arrecadação de R$ 17 bilhões com a MP no primeiro ano de vigência.

Corte de despesas e meta fiscal

Do lado das despesas, a MP inclui o Programa Pé-de-Meia no piso da educação, reduz o prazo de concessão do auxílio-doença por análise documental (Atestmed), limita compensações previdenciárias e ajusta o seguro-defeso.

O governo precisa dessas medidas para cumprir a meta de superávit primário de 0,25% do PIB em 2026. Para este ano, a meta é de resultado zero, mas a equipe econômica já admite que pode encerrar 2025 dentro da faixa de tolerância de déficit.

Acompanhe tudo sobre:Fernando HaddadCongressoCâmara dos DeputadosSenado

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado aumenta projeção do PIB em 2025, 2026 e 2027

Por que as fusões entre empresas são difíceis no setor aéreo? CEO responde

Petrobras inicia entregas de SAF com produção inédita no Brasil

Qual poltrona do avião dá mais lucro para a companhia aérea?