Economia

Ministro do calote argentino tem conselhos para os gregos

Segundo Domingo Cavallo, ministro da Economia da Argentina em 2001, não pagar os credores seria um erro terrível para a Grécia


	Domingo Cavallo, ex-ministro da economia argentina: “abandonar o euro seria o pior tipo de calote para a Grécia”
 (Enrique Marcarian/Reuters)

Domingo Cavallo, ex-ministro da economia argentina: “abandonar o euro seria o pior tipo de calote para a Grécia” (Enrique Marcarian/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2015 às 13h43.

Domingo Cavallo, um homem que sabe um pouco sobre calotes de dívida soberana, diz que não pagar aos credores seria um erro terrível para a Grécia.

Como ministro da Economia da Argentina em 2001, Cavallo restringiu as retiradas de dinheiro nos bancos e negociou com os detentores de bonds antes que o país desse calote de US$ 95 bilhões.

Embora não tenha conseguido que a Argentina pagasse em dia as parcelas de dívida, Cavallo diz que as consequências que surgiriam se a Grécia desse calote e fosse obrigada a sair da união monetária europeia seriam ainda maiores do que as sofridas pela Argentina.

“Abandonar o euro seria o pior tipo de calote para a Grécia”, disse Cavallo, em uma entrevista que interrompeu suas férias em um cruzeiro pelo Mar Mediterrâneo. “Os resultados serão muito ruins para os gregos, porque provocarão uma grande queda na atividade econômica e nos salários, como aconteceu na Argentina”.

Cavallo disse que a Grécia deveria se comprometer a realizar as reformas econômicas que os credores buscam a fim de continuar na zona do euro e evitar uma crise mais profunda.

A economia está em recessão, a taxa de desemprego já é de mais de 25 por cento e foram impostos controles monetários nesta semana.

O primeiro-ministro Alexis Tsipras marcou para o dia 5 de julho um referendo sobre a austeridade exigida pelos credores e instou os gregos a votarem “não”. Seus colegas europeus dizem que, na verdade, esse referendo vai decidir a permanência do país na zona do euro.

Cavallo disse que, embora a economia da Argentina tenha se recuperado com força a partir de 2003, o país se beneficiou de um conjunto único de circunstâncias que provavelmente não se dará no caso da Grécia.

O país sul-americano se sustentou com um aumento vertiginoso dos preços de suas principais exportações de commodities e ganhou relativamente pouco com a queda do peso depois do calote.

A desvalorização é o que alguns defensores do calote grego mencionam como a principal vantagem de abandonar o euro.

Controles cambiais

Como ministro da Economia em 1991, Cavallo atrelou o peso argentino ao dólar em uma relação de paridade, o que esmagou a hiperinflação.

Mas esse vínculo era insustentável e acabou contribuindo para a crise econômica que levou ao calote em 2001. Ele implementou restrições sobre as extrações em contas bancárias em meio ao colapso, o que ajudou a desencadear os distúrbios que obrigaram ele e o presidente a renunciar. Quando começou a ser negociado livremente, o peso afundou.

O ex-ministro da Economia, atualmente sócio da empresa de pesquisa Global Source Partners LLC, acredita que há uma boa chance de que a Grécia evite o calote. O país europeu está sendo mais bem tratado em suas negociações com o FMI, disse ele.

A diretora administrativa do FMI, Christine Lagarde, “parece muito preocupada com que haja uma solução organizada e negociada entre a Grécia e a Europa”, disse Cavallo.

Acompanhe tudo sobre:Alexis TsiprasAmérica LatinaArgentinaCrise gregaEuropaGréciaPiigs

Mais de Economia

Após pedido do governo, Zanin suspende liminar que reonera a folha de pagamentos por 60 dias

Haddad: governo anuncia na próxima semana medidas sobre impacto e compensação da desoneração

Fiergs pede ao governo Lula flexibilização trabalhista e novas linhas de crédito ao RS

É possível investir no exterior morando no Brasil?

Mais na Exame