Economia

Mercado tem 2 pesos e 2 medidas com gastos de Temer e Dilma?

O destaque dado pelos jornais a supostas “bondades” de Michel Temer não parece assustar os investidores


	Michel Temer: para alguns analistas e operadores de mercado, os gastos são perdoados porque o déficit agora seria o preço a pagar por reformas que possam gerar uma melhora fiscal mais consistente
 (ASCOM/VPR)

Michel Temer: para alguns analistas e operadores de mercado, os gastos são perdoados porque o déficit agora seria o preço a pagar por reformas que possam gerar uma melhora fiscal mais consistente (ASCOM/VPR)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2016 às 06h51.

O destaque dado pelos jornais a supostas “bondades” de Michel Temer, que incluem um aumento acima da inflação para o Bolsa Família e aparentemente vão contra a promessa de rigor fiscal do presidente interino, não parece assustar os investidores.

Pelo contrário, o dólar, tradicional termômetro do sentimento do mercado em relação à saúde financeira do país, segue caindo e é negociado a R$ 3,20.

Para alguns analistas e operadores de mercado, os gastos são perdoados porque o déficit agora seria o preço a pagar por reformas que possam gerar uma melhora fiscal mais consistente no longo prazo.

Temer precisa ser realista neste momento, autorizando despesas quando necessárias para não criar atritos, em troca de apoio para as reformas.

Não seria prudente contrariar o Congresso enquanto o impeachment aguarda decisão final do Senado.

Não se pode dizer que o mercado trata Temer e a presidente afastada Dilma Rousseff, muito criticada pelos analistas por supostamente ser permissiva na área fiscal, com dois pesos e duas medidas, diz Christopher Garman, do Eurasia Group em Nova York.

A diferença é que, embora no governo Dilma também houvesse um programa de reformas, a presidente não mostrava ter convicção sobre as mudanças e nem mesmo força política para aprová-las. Com Temer, há melhores condições para aprovar as reformas, diz o consultor.

A credibilidade do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, também ajuda o mercado a relevar o noticiário negativo sobre as contas públicas no curto prazo.

Se o Conselho Monetário Nacional realmente reduzir a meta de inflação de 2018 para entre 4 e 4,25%, como alguns jornais têm noticiado, a taxa Selic pode demorar mais a cair, mas isso teria um efeito positivo sobre o cenário de médio e longo prazo.

Como parte de apresentação entitulada “Sob a luz do sol – Uma agenda para o Brasil”, e encontrada no website do Insper, Ilan defendeu em 2014 que o BC buscasse, primeiro, a covergência da inflação para o centro da meta de 4,5% e, nos anos seguintes, uma redução gradual da meta até atingir 3%, buscando alcançar um padrão internacional de inflação.

Uma meta de inflação menor ajudaria o país a contar não apenas com inflação mais baixa, mas também com juros menores no longo prazo, favorecendo a retomada do crescimento, diz o economista Andre Muller, da AZ Quest Investimentos.

O maior rigor contra a inflação agradaria o investidor, assim como abordagem do governo mais focada em reformas estruturais do que em medidas fiscais de curto prazo, diz Muller.

Garman observa que, como o ajuste fiscal estrutural deve demorar, o BC pode estar se preparando para adotar uma “ancora monetária” mais sólida. Uma eventual mudança da meta poderia fazer parte deste propósito.

O consultor considera que Temer deve aprovar as reformas, mas de maneira “diluída”, com o teto para gastos podendo passar após a aprovação do impeachment e a reforma da Previdência só devendo ser aprovada totalmente a partir de 2017. “O esforço fiscal deverá envolver mais de um governo”.

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