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Melhora do cenário para o consumo eleva projeção do varejo

OPINIÃO | Confiança do consumidor deve fechar o ano com a média mais alta desde 2014, o que melhora a perspectiva de consumo dos agentes

Para 2023, os segmentos de itens de primeira necessidade devem permanecer em destaque, acompanhando a melhora da renda e as menores pressões nos preços de alimentos (Paulo Whitaker/Reuters)
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Isabela Tavares

Analista da Tendências Consultoria

Publicado em 23 de agosto de 2023 às 06h08.

As vendas do comércio varejista, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, apresentaram resultados positivos no primeiro semestre deste ano, diante do cenário de inflação menos pressionada, da melhora da confiança dos agentes e da resiliência do mercado de trabalho, movimento intensificado em junho pelo programa do governo que ofereceu descontos para compra de carros zero. Após a incorporação dos resultados do período, a melhora do cenário econômico para os condicionantes da demanda (aumento da confiança e condições financeiras mais favoráveis) e, dada a perspectiva de novos avanços das vendas de veículos em julho, a projeção para as comércio varejista neste ano foi elevada. As vendas do varejo medidas pelo índice ampliado da PMC (que inclui automóveis, materiais de construção e vendas no atacado) devem crescer 2,8% em 2023 (a estimativa anterior era de +1,0%).

No primeiro semestre do ano, as vendas do varejo ampliado cresceram 5,1% ante o segundo semestre de 2022, em termos ajustados sazonalmente. No período, as vendas foram favorecidas por

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(a) redução do índice de preços do varejo, de 0,7% em comparação ao segundo semestre de 2022, na série real com ajuste sazonal;

(b) arrefecimento na inflação de alimentos, que passou de 12,3% em janeiro para 2,9% em junho no acumulado em 12 meses;

(c) melhora na confiança dos consumidores, que aumentou 9,0 pontos de janeiro até junho deste ano e alcançou o patamar de 94,8 pontos na série com ajuste sazonal, maior patamar desde janeiro de 2019.

No segundo semestre deste ano, os fatores mencionados devem continuar a beneficiar o consumo. O cenário dos condicionantes considera avanços adicionais da massa de rendimentos das famílias, por meio de transferências do governo, ganhos da renda do trabalho e continuidade no arrefecimento dos preços de alimentos e de bens industrializados. Além disso, a confiança do consumidor deve fechar o ano com a média mais alta desde 2014, o que melhora a perspectiva de consumo dos agentes.

No entanto, apesar do desempenho positivo das vendas na primeira metade do ano, um aumento maior do consumo foi limitado por restrições no mercado de crédito, que afetou mais os segmentos de bens duráveis. Os níveis elevados do endividamento das famílias e dos juros bancários, além da maior seletividade dos bancos na oferta de novos empréstimos, restringem um maior crescimento do consumo.

Os desafios relacionados ao mercado bancário devem continuar a impedir crescimento mais acelerado das vendas neste ano. Mesmo que a queda da taxa básica de juros (Selic), a redução de incertezas e os efeitos das renegociações de dívidas ajudem a melhorar os níveis das condições financeiras em relação ao observado no primeiro semestre, os patamares devem continuar elevados e ainda dificultar o crescimento mais acelerado do consumo.

A expectativa é de que as taxas de juros bancários do crédito livre para pessoas físicas (PF) encerrem o ano em 54,4% a.a., ficando 4,7 pontos percentuais abaixo da taxa de junho, mas ainda 8,3 pontos percentuais acima dos juros de dezembro de 2019. Adicionalmente, o fim do programa de descontos automotivos a partir de agosto deve levar à desaceleração das vendas de veículos e impactar o varejo ampliado.

Durante o primeiro semestre, o desempenho entre os segmentos foi heterogêneo. As vendas de bens de primeira necessidade, como de “supermercados e hipermercados” e “artigos farmacêuticos”, destacaram-se no período com altas consecutivas nos primeiros dois trimestres do ano. No caso dos bens duráveis, houve bom desempenho no início do ano, e as vendas cresceram na margem em função das menores pressões nos preços, mas, no segundo trimestre, as vendas do segmento perderam dinamismo, influenciadas pelo mercado de crédito restritivo.

No segundo trimestre, a exceção entre os bens duráveis foram as vendas de veículos, que cresceram na margem dessazonalizada pelo segundo trimestre consecutivo no ano. Tal dinâmica foi beneficiada pelo aumento em junho (8,5% na comparação mensal dessazonalizada), em função do programa do governo ao setor automotivo, que permitiu a redução dos preços de veículos novos e incentivou a expansão das vendas.

Para 2023, os segmentos de itens de primeira necessidade devem permanecer em destaque, acompanhando a melhora da renda e as menores pressões nos preços de alimentos. Já o desempenho dos segmentos de bens duráveis deve continuar mais fraco, diante dos desafios impostos pelo alto endividamento das famílias ao consumo. De toda forma, caso o programa Desenrola, implementado pelo governo para incentivar a negociação de dívidas da população, contribua para queda ainda mais intensa dos níveis de inadimplência, não se descartam resultados mais fortes do consumo das famílias no último trimestre do ano.

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