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Lula pragmático ou populista, o enigma para 2018

Se eleito, petista seria pragmático como em 2003 ou governaria na linha populista que sugere seu discurso atual? Analistas se dividem

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Nacho Doce/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de novembro de 2017 às 12h54.

Última atualização em 30 de novembro de 2017 às 18h34.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera as pesquisas de intenção de votos para 2018 e é também o foco de atenção dos agentes de mercado.

Ainda que possa ser impedido de se candidatar, a dúvida que divide analistas é se o petista, se for eleito, será pragmático, como em 2003, ou se governaria na linha mais populista que sugere seu discurso atual. O único consenso é que a disputa eleitoral do próximo ano deve trazer volatilidade aos ativos.

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Lula é um “político hábil, mas que está com a cabeça errada”, e não deve repetir o pragmatismo do que primeiro governo, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria. Ele espera reação negativa do mercado em caso de vitória do ex-presidente.

Antes de tomar posse em 2003, Lula chegou a escrever a Carta ao Povo Brasileiro, comprometendo-se com o controle das contas públicas e da inflação.

Desta vez, o fato de o ex-presidente enfrentar processos na Justiça poderia levar a uma postura diferente. Ele tem afirmado, por exemplo, que convocará um referendo para revogar medidas do governo de Michel Temer.

Lula pode buscar uma via ”extremamente populista” para sair do foco das acusações que sofre, diz Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos.

“Lula já exerceu dois mandatos como presidente da República, nos quais a bolsa do país teve o melhor desempenho de sua história”, diz a assessoria de imprensa do ex-presidente, em nota à Bloomberg.

Segundo a nota, a defesa “está confiante” porque a sentença que o condenou em primeira instância “não aponta qual seria o ato de corrupção que Lula teria cometido”.

A possibilidade de um Lula candidato adotar discurso mais moderado para reconquistar a classe média não elimina dúvidas sobre como seria seu governo, diz  Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

“O PT é muito mais fraco do que era no passado, com capacidade de coalizão menor. Não será igual o mar de rosas de 2003, em que o governo conseguiu aprovar muita coisa no primeiro ano”, diz Vale referindo-se ao primeiro mandato de Lula, quando o petista surpreendeu positivamente o mercado com uma política econômica ortodoxa.

Na última sexta-feira, a XP Investimentos divulgou um relatório baseado em pesquisa com 211 investidores institucionais a respeito do cenário para eleição de 2018.

Na simulação onde o ex-presidente Lula seria vencedor das eleições em 2018, 98% dos entrevistados indicam que o dólar subiria, sendo que 36% veem a moeda americana acima de R$ 4,10 nesse cenário.

Apesar da incerteza sobre 2018 ser um consenso, há nuances no grau de preocupação dos investidores. Para uma ala do mercado, por exemplo, a crise fiscal é tão séria que pode tornar inevitável um ajuste nas contas públicas após as eleições.

Seja qual for o candidato a liderar as pesquisas, ele deve fazer alguma sinalização no sentido de um programa de austeridade fiscal, diz o economista-chefe do banco Santander no Brasil, Maurício Molon.

“A eleição vai gerar ruído, mas os candidatos sabem que vão precisar pegar o país com um grau razoável de estabilidade” e devem acabar se manifestando de maneira favorável ao ajuste, diz Molon.

Embora também reconheça o grau elevado de incertezas,  Rodrigo Borges, chefe de renda fixa no Brasil da Templeton, firma de investimentos com foco em mercados emergentes, não espera uma forte queda de ativos brasileiros em 2018.

O cenário hoje é diferente de 2015, quando a onda vendedora à crise política do governo Dilma foi agravada pelo déficit em conta corrente de mais de 4% do PIB, diz Borges. Este déficit encolheu significativamente desde então, para menos de 1% do PIB.

Lula em 2018 é “uma das maiores incertezas” para 2018, mas o mais provável é que não seja candidato, diz Lucas de Aragão, cientista político da Arko Advice. Para Aragão, o “barulho” do discurso do petista faz parte da estratégia de defesa.

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