Economia

Lula conseguiu - de novo

Pensou que o presidente Lula já havia chegado ao clímax na arte de disparar declarações absurdas? Calma. Como comprova o ataque aos dissidentes cubanos, um deles morto em greve de fome, ele sempre dá um jeito de se superar

vida-real-jpg.jpg (.)

vida-real-jpg.jpg (.)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2010 às 11h08.

A esta altura do jogo certamente não é nada fácil, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, superar a si próprio em matéria de declarações absurdas. O acervo que acumulou nestes últimos sete anos e pouco de governo, vasto o suficiente para render um livro compilado pelo jornalista Ali Kamel, está aí, desafiando qualquer concorrente: quem seria capaz de dizer, no mesmo período de tempo, uma quantidade equivalente de disparates? Provavelmente ninguém, a não ser ele mesmo. A partir de certo ponto, é claro, o próprio Lula vai tendo mais dificuldade para enriquecer sua antologia; mas não é impossível que consiga. A demonstração de que ele ainda está longe de atingir seus limites máximos de performance ficou clara, mais uma vez, na semana passada, quando o presidente ligou as quatro turbinas e saiu em nova arrancada de ataques contra o alvo que, no momento, parece irritá-lo mais do que qualquer outro: os cidadãos cubanos que estão na cadeia por fazer oposição política ao governo de Fidel Castro. Quando algum deles decide entrar em greve de fome, então, Lula decididamente sai do sério; é algo que tem o dom de levar nosso presidente à beira da crise de nervos. Aconteceu, há pouco, com o operário Orlando Zapata, que foi morrer justo na hora em que ele começava uma visita a Cuba. Está acontecendo de novo, agora com o jornalista Guillermo Fariñas, outro dissidente político em greve de fome - o que detonou o último e espetacular assalto de Lula contra os oposicionistas cubanos.

"Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem a liberdade", disse o presidente. Advertiu, também, que é preciso "respeitar as leis e a Justiça cubanas", e acusou os grevistas de estarem praticando atos de "insanidade". À primeira vista, parece que houve um engano qualquer: não é possível um homem responsável pela chefia da nação disparar uma salva de barbaridades como essa. Mas o que aconteceu foi isso mesmo - está dito, não pode mais ser apagado e passa a fazer parte da biografia presidencial, no capítulo reservado ao que ele pensa sobre a liberdade. Em declarações anteriores, Lula já tinha deixado claro que, no confronto entre os presos e o governo, estava a favor dos carcereiros. Agora, para reforçar esse apoio, colocou no mesmo pé criminosos que mataram, roubaram, estupraram - e sabe-se lá quanta coisa mais - com pessoas que estão na cadeia por fazer oposição a uma ditadura. Seu apelo para se respeitar as "leis cubanas" é mais esquisito ainda. Como assim? Por esse critério, seria preciso respeitar também o Ato Institucional número 5 ou qualquer pedaço de papel no qual as ditaduras escrevem suas regras e passam a chamar de "lei".


O governo, como se sabe, tem uma Comissão de Direitos Humanos, no momento muito interessada em cobrar dos militares brasileiros responsabilidades por atos cometidos 30 anos atrás. É uma iniciativa admirável, em seu espírito de buscar justiça e manifestar o empenho do poder público na defesa dos diretos do ser humano, mas deixa uma questão sem resposta: por que as violações de direitos praticadas no Brasil de ontem são condenáveis e as violações praticadas na Cuba de hoje devem ser respeitadas? É igualmente incompreensível que o governo Lula, neste exato momento, faça tanta questão de considerar como um "dissidente político" o italiano Cesare Battisti, homicida condenado por quatro assassinatos na Itália e hoje preso no Brasil à espera de extradição, mas classifique de "bandidos" cidadãos cubanos que não mataram ninguém; seu único crime foi opor-se ao regime.

Sempre se pode contar, nessas horas, com as luzes do chanceler Celso Amorim, funcionário com grande experiência em explicar ao mundo qualquer coisa que o chefe diga. Segundo ele, o Brasil não pode apoiar "tudo o que é dissidente" que existe sobre a face da Terra. Muito justo. Não tem nenhuma obrigação, também, de apoiar tudo o que é ditadura que seja ao gosto do presidente Lula.


Acompanhe tudo sobre:América LatinaDados de BrasilLuiz Inácio Lula da SilvaPersonalidadesPolíticaPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Economia

Lula chama Pacheco para reunião nesta quarta e deve discutir pacote fiscal

Reforma Tributária: relatório do Senado deve ficar para início de dezembro, diz Braga

Cepal: Pobreza deve cair a 26,8% da população na América Latina, nível mais baixo desde 1990

Escala 6x1: favorito para presidência da Câmara defende 'ouvir os dois lados'