Economia

Londres detalha plano econômico para Brexit que provocou crise no governo

O documento, que já provocou a renúncia de dois ministros no início da semana amplia as divergências dentro da maioria conservadora

Brexit: Londres quer estabelecer uma nova "área de livre-comércio para os produtos" (Dan Kitwood/Getty Images)

Brexit: Londres quer estabelecer uma nova "área de livre-comércio para os produtos" (Dan Kitwood/Getty Images)

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AFP

Publicado em 12 de julho de 2018 às 16h43.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, apresentou nesta quinta-feira (12) o muito aguardado "Livro Branco" do Brexit sobre as futuras relações com a União Europeia (UE), alvo de críticos dos eurocéticos e do mercado financeiro.

O documento, que já provocou a renúncia de dois ministros no início da semana - o do Brexit, David Davis, e o de Relações Exteriores, Boris Johnson - amplia as divergências dentro da maioria conservadora.

Quando o novo ministro do Brexit, Dominic Raab, tomou a palavra na Câmara dos Comuns para apresentar o documento, os parlamentares fizeram protestos ruidosos, queixando-se de não terem recebido uma cópia do documento. O presidente da Câmara precisou interromper a sessão por alguns minutos.

Em seguida, Raab descreveu um plano "inovador", que deve levar à elaboração de uma parceria econômica e de segurança "sem precedentes".

De acordo com o Livro Branco, Londres quer estabelecer uma nova "área de livre-comércio para os produtos", destinada a manter um comércio "sem atritos" com os 27 membros da UE.

Isso deve permitir, por meio da instalação de um "arranjo aduaneiro simplificado", "evitar uma fronteira dura entre Irlanda do Norte e República da Irlanda".

Essa área de livre-comércio estaria sujeita a um conjunto de regras comuns sobre produtos e o setor agroalimentar. Londres manteria assentos nas agências europeias que decidem autorizações para os bens relacionados - produtos químicos, medicamentos, aviação.

"Duro golpe" no setor financeiro

O setor de serviços seria alvo de um novo acordo que criará "mais barreiras" e privará bancos, seguradoras, ou gestores de ativos, do "passaporte financeiro" que atualmente lhes permite operar livremente no continente, reconheceu Londres.

"Um duro golpe", denunciou a City de Londres, a praça financeira britânica.

"Com os laços afastados da Europa, o setor financeiro e os associados serão menos capazes de criar empregos, gerar impostos e sustentar o crescimento econômico", condenou a diretora da City of London Corporation, Catherine McGuinness.

Sobre a circulação de pessoas, Londres quer desenvolver uma "nova estrutura que respeite os controles de fronteira britânicos", enquanto permite que os cidadãos viajem "para seus respectivos países".

Essa formulação vaga não satisfaz a comunidade empresarial, em grande parte dependente da força de trabalho europeia.

"Pedimos ao governo que apresente seus planos para a migração, que deve estar no centro da nossa futura parceria com a Europa", disse o diretor administrativo da organização de empregadores Institute of Directors, Stephen Martin.

Londres também apresentou propostas para uma "parceria de segurança". O Reino Unido continuaria a ser membro das agências Europol e Eurojust e desenvolveria acordos de "coordenação" sobre questões de política externa e de defesa.

Vassalo da Europa

O plano gerou a indignação dos eurocéticos e provocou o pedido de demissão do ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, e de outros membros do gabinete, aumentando a possibilidade de uma rebelião conservadora para derrubar May.

Em sua despedida, Johnson afirmou que o sonho do Brexit "está morrendo" com este plano. "Nos dirigimos verdadeiramente para o status de colônia da UE", escreveu Johnson em sua carta de demissão a May.

O presidente americano, Donald Trump, também falou sobre o tema.

Antes de viajar para Londres para uma visita de quatro dias, Trump disse duvidar de que a proposta de May para o Brexit fosse a mesma que os britânicos tinham em mente quando votaram no referendo de junho de 2016.

"Não sei se votaram nisso. As pessoas votaram para se separar (da União Europeia), por isso imagino que é isso o que farão, mas talvez tomem um caminho diferente", comentou Trump em uma coletiva de imprensa em Bruxelas, após uma reunião da Otan.

Em Bruxelas, o grupo de deputados a cargo do Brexit lembrou do princípio da "indivisibilidade das quatro liberdades" (livre-circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas) garantido pelo mercado único e rejeitou uma "abordagem setor por setor".

O negociador-chefe da UE, Michel Barnier, simplesmente anunciou que está analisando a proposta britânica e disse no Twitter estar "impaciente para negociar com o Reino Unido".

Ele se encontrará com Dominic Raab em Bruxelas na próxima semana.

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