Debate econômico deverá permear campanhas eleitorais pela presidência da República em 2022, avalia o economista-chefe do banco BV (Adriano Machado/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 19 de maio de 2021 às 16h54.
Última atualização em 19 de maio de 2021 às 17h41.
Apesar do cenário de retomada econômica neste ano e otimismo puxado pelo crescimento externo, o ano que vem deve trazer um ambiente de instabilidade na economia impulsionado pela eleição e pela possibilidade de alta dos juros americanos, avalia o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.
Mesmo que o banco central americano, o Federal Reserve, sinalize pouca preocupação no momento com uma reação rápida à inflação alta, o tema pode entrar no radar em 2022, diz Padovani. "A discussão no mercado é em que momento vai subir a taxa", afirma. "Talvez não seja o caso agora trabalhar com cenário de mudança de política monetária nos EUA, mas certamente em maio de 2022 esse tema vai estar muito mais presente", aposta o economista.
Ele lembra que a alta dos juros americanos podem ter impacto significativo em mercados emergentes. O fator contribui para diminuir o apetite por mercados com maior risco, o que pode impactar os investimentos no Brasil.
A ata da reunião do Fed de abril publicada nesta quarta-feira, 19, mostrou um reforço do discurso de que os impactos da inflação recente nos Estados Unidos devem ser transitórios, apesar de alguns diretores se mostrarem inclinados a discussões sobre mudanças nas compras de ativos. As autoridades do banco prometeram manter a política monetária ultrafrouxa no momento.
O segundo fator de instabilidade para o ano que vem é a eleição presidencial, principalmente por conta da discussão da agenda econômica, que deve aparecer com intensidade nas campanhas para Padovani.
"A gente vê 2022 como um cenário de muitos desafios, o que deve pressionar a taxa de juros, expectativas de inflação e isso traz repercussões já para este ano", afirma.
O economista aposta em três pontos principais que devem integrar os debates eleitorais: a regra fiscal do teto de gastos, o redesenho de programas sociais, que pode elevar gastos públicos, e programas de privatização e concessão de estatais. "Esses três temas vão estar presentes no debate político-eleitoral e isso vai trazer intranquilidade para os mercados", afirma.
O cenário já acirrado entre pré-candidatos ainda pode potencializar a inquietação pela pouca previsibilidade de quem vencerá. O economista compara a situação ao pleito presidencial de 2014, que terminou com o resultado mais apertado desde a redemocratização.
Na pesquisa EXAME/Ideia sobre o cenário eleitoral publicada em 23 de abril, o ex-presidente Lula apareceu empatado tecnicamente com o presidente Jair Bolsonaro tanto no primeiro quanto no segundo turno, com vantagem numérica dentro da margem de erro.
"Imaginamos que como vai ser uma eleição disputada, o próximo governo não deverá ter uma ampla base. Isso pode sugerir um governo politicamente mais frágil seja de quem for o governo", avalia. Nesse cenário, resta a dúvida se as reformas econômicas terão condição de andar, mesmo se houver apoio do governo.
Essas incertezas geram cautela no mercado, aponta o economista, o que pode elevar ainda mais os juros no Brasil, risco inflacionário, depreciação do câmbio e crescimento econômico menor. O economista manteve a previsão do crescimento do PIB do país em 2021 em 3,5%, mas acredita que a Selic deva chegar ao fim do ano a 6,25% e bater 6,5% em 2022. O relatório Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda mostrou uma projeção da taxa em 5,5% no fim do ano e de 6,5% no ano que vem.
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